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ANÁLISE
Ritmo de expansão da economia deve diminuir
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Este breve comentário sobre
o desempenho do PIB brasileiro no 4º trimestre, bem como
no ano de 2009 como um todo,
concentra-se na evolução de
dois componentes da demanda
agregada: os investimentos e a
variação de estoques. Embora
tenham peso limitado no PIB
(da ordem de 18% e apenas 1%,
respectivamente), as inflexões
violentas desses componentes
condicionaram fortemente os
números ao longo do ano.
Considerando o ano todo de
2009, o investimento -isto é, a
compra de máquinas e equipamentos e o gasto na construção
civil- caiu nada menos que
10%, contribuindo decisivamente para a desaceleração da
economia. Já a "queima" de estoques, motivada pela queda
súbita da demanda e da confiança empresarial, bem como
pelo virtual travamento do crédito no início do ano, subtraiu
algo como 1,7 ponto percentual
do PIB (pelos cálculos da LCA).
Noutras palavras, não fosse por
esse movimento de liquidação
de estoques (e pelo brutal corte
de produção que o acompanhou), a variação anual do PIB,
ligeiramente negativa (-0,2%),
teria sido próxima de +1,5%.
O corte de investimento, no
entanto, foi muito concentrado
no tempo: entre o trimestre final de 2008 e o primeiro de
2009, a formação bruta de capital fixo acumulou queda de
20%. A recuperação do investimento começou já no 2º trimestre e prosseguiu, com velocidade bem maior, no 3º e no
4º. Embora sem dúvida a sustentação do consumo (estimulada pela política econômica)
tenha sido o fator que impediu
recessão mais pronunciada e
mais prolongada em 2009, não
se pode deixar de constatar que
na segunda metade do ano a recuperação da atividade foi liderada pelo investimento (que
também recebeu estímulos, como reduções de tributação e do
custo de linhas de crédito).
A influência da variação de
estoques igualmente se inverteu ao longo do ano. O esforço
das empresas para fazer caixa
foi um forte freio sobre o PIB
no primeiro semestre, mas já
no 4º trimestre a indústria (sobretudo de bens de consumo)
acelerou a produção para recompor seus estoques. A alta do
PIB no 4º trimestre, de 2% sobre o 3º, foi "inflada" por esse
movimento, sem o qual ela teria se limitado a cerca de 1,5%.
Olhando à frente, é alta a probabilidade de que a retomada
do investimento prossiga (tendo em vista, entre outros fatores, a elevada confiança empresarial e o estreitamento da capacidade ociosa -sobretudo
nas indústrias de bens de consumo). Também parece provável que, em parte devido ao encerramento da recomposição
de estoques, o ritmo de alta do
PIB arrefeça (começando já no
trimestre ora em curso). Aliás,
essa suposição está implícita
nas projeções do mercado: ao
apontarem, em média, para alta
do PIB de 5,5% em 2010, elas
embutem a expectativa de que
ele cresça (sobre o trimestre
imediatamente anterior) cerca
de 1% a cada trimestre.
FERNANDO SAMPAIO , economista,
é sócio-diretor da LCA Consultores
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