São Paulo, sábado, 12 de abril de 1997.

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COMÉRCIO
Contando mercadorias estragadas e ineficiência na administração, perdas chegam a US$ 800 milhões
Supermercados perdem US$ 800 mil em 96

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

Os supermercados brasileiros perderam, em 1996, cerca de US$ 800 milhões, ou 2% do seu faturamento, de US$ 45 bilhões, com furtos, mercadorias estragadas, ineficiência na administração etc.
O curioso é que o furto de clientes e funcionários teve peso expressivo. Representou entre 70% e 80% desse valor -de US$ 560 milhões a US$ 640 milhões-, segundo consultores e supermercadistas ouvidos pela Folha.
Essa perda já é considerada na despesa das empresas. À medida que ela é reduzida, o supermercado ganha competitividade, ao optar pela diminuição dos preços, ou aumenta a sua lucratividade.
Reduzir o tamanho das perdas ou das quebras -como chamam os especialistas- está sendo uma das grandes metas das empresas, sobretudo nos últimos dois anos.
Com a economia estável, diminuíram as chances para remarcação de preços, que, no passado, mascaravam as perdas das lojas.
Assim, as quebras -que também incluem estrago e quebra propriamente dita de mercadorias, degustação na loja, erros de administração, manuseio inadequado de produtos etc.- passaram a ser quantificadas e analisadas com muito mais cuidado.
A rede de supermercados Sé, por exemplo, informa que, em dois anos, o valor das suas perdas, que antes representavam 1% do faturamento, caiu para menos de 0,5% nas suas 18 lojas.
Em 1996, a quebra do Sé somou R$ 225 mil. ``É um valor baixo porque estamos com um controle mais rígido'', afirma Leonildo Nardi, diretor operacional.
Ele conta que, no ano passado, o Sé conseguiu detectar pelo seu sistema de segurança furtos que somaram R$ 52,5 mil. No caso, as pessoas foram abordadas e acabaram pagando pelos produtos.
O dobro dos EUA
Levantamento feito pelo Provar (Programa de Varejo), da USP, mostra que a perda média dos supermercados no Brasil é de 2% sobre o faturamento.
Esse percentual é o dobro do registrado nos Estados Unidos -de 1%-, mas já chegou a ser muito maior, de 3%, nos cálculos de Dimas Gonçalves, diretor operacional do Eldorado, com oito lojas.
``A quebra de um supermercado pode levá-lo ao prejuízo. Reduzi-la significa aumentar a competitividade.'' No Eldorado, conta Gonçalves, a perda varia de 1% a 1,2%.
A meta da empresa para este ano, continua Gonçalves, é reduzir o percentual para 0,8%. Para isso, a rede tem um grupo de pessoas que acompanha, por exemplo, a entrada e a saída de mercadorias, os locais de exposição e os estoques.
Uma equipe de segurança formada por 20 a 25 pessoas por loja cuida do patrimônio da empresa. O Eldorado tem ainda vários equipamentos eletrônicos para vigilância nas lojas.
Para Antonio Carlos Ascar, consultor especializado em varejo, há poucos anos, 50% da quebra do supermercado era atribuída à má gestão da loja, e a outra metade, ao furto, ao estrago de produtos etc.
Com a informatização das empresas, o erro na administração de supermercados diminuiu, o que fez crescer, portanto, a participação dos furtos no valor da quebra.
Ascar diz que o furto em supermercados está muito associado ao número de desempregados.
Uma grande rede de supermercados que está acompanhando com cuidado a quebra está perdendo, hoje, 2,5% do seu faturamento. Historicamente, esse percentual era de 2%.
Não há dúvida, diz Ascar, de que hoje existem supermercadistas trabalhando com perdas de até 5%, sendo que alguns deles nem sabem disso porque ainda não conseguem quantificá-las.

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