São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 2002

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PROTECIONISMO

A cada dólar doado, o dobro é tirado de nações em desenvolvimento

Subsídio anula doação de rico a pobre

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

No lançamento de campanha mundial a favor do ""comércio justo", a ONG (organização não-governamental) britânica Oxfam divulgou um documento em que relaciona os custos para os países pobres das restrições comerciais adotadas pelas nações ricas.
De cada US$ 1 dólar oferecido em ajuda pelas nações ricas aos países em desenvolvimento, outros US$ 2 são ""roubados" por essas mesmas nações, segundo a ONG, ao imporem restrições de acessos a seus mercados, via protecionismo e uso de subsídios. Essas restrições comerciais custam aos países pobres e em desenvolvimento US$ 100 bilhões ao ano.
""...em sua retórica, os países ricos insistem no compromisso de redução da pobreza, mas esses mesmos países usam uma política comercial que não é mais que um roubo contra os pobres", diz o relatório, de 320 páginas.
Região mais miserável do planeta, a África subsaariana perde US$ 2 bilhões. Outros países, como a Índia e China, US$ 3 bilhões cada. Na América Latina, as perdas somam US$ 30 bilhões. As estimativas da Oxfam e da Cepal apontam perda de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões para o Brasil.
Fundada em 1942, para ajudar vítimas na Segunda Guerra, a ONG, hoje dedicada ao combate à pobreza, mantém escritórios em 15 países, incluído o Brasil -e trabalha com orçamento anual de cerca de US$ 150 milhões.
Segundo o documento, elaborado a partir de estatísticas de OMC (Organização Mundial do Comércio), FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial, de cada US$ 1 gerado pelas exportações no mundo, os países pobres e/ou desenvolvimento respondem por US$ 0,03. A Oxfam sustenta que, se o Terceiro Mundo aumentasse em 5% sua participação nas exportações mundiais, 128 milhões de pessoas na América Latina, África e Ásia sairiam da linha da pobreza -significaria colocar mais US$ 350 bilhões nas economias dessas regiões.
Ontem, a ONG promoveu o lançamento em 18 países da campanha ""Comércio com Justiça", em favor de modificações nas práticas de comércio mundial.
A partir de um modelo em que são considerados dez parâmetros de politicas comerciais (entre elas, tarifas médias em setores em que os países mais pobres são competitivos, como agricultura e têxteis), a ONG classificou os quatro mercados mais protecionistas do mundo. Pela ordem, são União Européia, EUA, Canadá e Japão.
A Oxfam se posicionou contra a política de ""abertura forçada" dos mercados dos países pobres, que seriam praticadas com o estímulo do FMI e do Banco Mundial.



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