São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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TECNOLOGIA

Brasil passa a produzir discos rígidos de computador, telas de celulares e vai criar protótipos de circuitos eletrônicos

Produção de eletrônicos se sofistica no país

Audimar Arruda
Linha de montagem de telas de cristal líquido para celulares da Philips, em Manaus, que faz 600 mil desses equipamentos por mês


LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil começou a dar finalmente os primeiros passos para se tornar uma base mundial de alta tecnologia da indústria eletroeletrônica. Componentes importantes para esse setor, como discos rígidos de computadores ou telas de celulares, passaram recentemente a serem fabricados na Zona Franca de Manaus. A Intel estuda implantar um centro de desenvolvimento de softwares e tecnologias para internet móvel.
O país terá ainda o primeiro centro de fabricação de protótipos de chips da América do Sul.
A decisão mais importante tomada até agora nesse setor, que os especialistas chamam de complexo eletrônico, foi o início da produção, em março, de discos rígidos para PCs pela Samsung. Cerca de R$ 100 milhões foram investidos em uma unidade em Manaus.
"Atualmente estamos com uma produção mensal de 60 mil discos rígidos, mas nossa meta é atingir já em setembro uma média de 100 mil", afirma Wladimir Benegas, diretor comercial da área de produtos digitais da Samsung.
Os planos da multinacional sul-coreana são muito ambiciosos. A médio prazo, pretende suprir toda a produção de computadores do Brasil, hoje em torno de 1,2 milhão de unidades por ano.

Telas de celulares
Um fato surpreendente nesse salto tecnológico é que até mesmo o ramo de telecomunicações está sendo beneficiado. Isso apesar de as operadoras terem registrado nos últimos meses prejuízos ou queda nos lucros, devido à saturação do mercado.
A Philips está fabricando telas de cristal líquido para aparelhos celulares, depois que recebeu a garantia de que sua produção seria comprada pela Nokia. Cerca de 600 mil telas saem da unidade da empresa holandesa mensalmente. O investimento na fábrica foi de US$ 2,5 milhões.
Segundo a companhia, a crise no setor de telecomunicações não assusta. "Em breve haverá uma maior expansão na venda de celulares no Brasil, devido ao barateamento dos aparelhos estimulado pela chegada de novas operadoras", diz Amauri Pedro, gerente industrial da unidade de telas de celulares da Philips em Manaus.
Pedro aposta na chegada de operadoras como TIM e Oi, que utilizarão o sistema GSM, inédito no país, nos serviços de telefonia móvel. O GSM utiliza um cartão que traz embutido o número da linha do usuário e seus dados pessoais. O consumidor poderá, assim, atualizar facilmente o modelo de seu aparelho, o que pode estimular a produção de celulares.

Lei de Informática
A balança comercial do Brasil tem sentido os efeitos positivos dos avanços tecnológicos da indústria eletroeletrônica.
Segundo o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Benjamin Sicsú, as exportações de componentes ou produtos de consumo do complexo eletrônico estão atualmente na faixa de US$ 200 milhões por mês. O dobro dos US$ 100 milhões apurados nos primeiros meses de 2001.
"Esse incremento todo no setor se deve à promulgação da nova Lei da Informática", afirma Sicsú. Até dezembro de 2001, os grandes grupos industriais internacionais e brasileiros tinham receio em implementar novos projetos.
A nova Lei de Informática garante redução de 93% a 97% na alíquota do IPI (Imposto de Produtos Industrializados) para fabricantes de computadores e componentes, contanto que invistam 5% do faturamento em pesquisa de novas tecnologias. Com sua publicação integral no final de 2001, os projetos das empresas saíram das gavetas.
"Evidentemente, com a maior produção local de componentes eletrônicos, as importações caíram", afirma Sicsú. No primeiro trimestre, os itens importados somaram US$ 720 milhões, uma queda de 60% em relação ao US$ 1,9 bilhão do mesmo período do ano passado. O baixo crescimento econômico nos primeiros meses de 2002 também contribuiu para esse resultado.

Chips
Mesmo com todo esse incremento tecnológico, o Brasil ainda enfrenta, no entanto, o problema da inexistência de indústrias de chips no país. "É o componente mais importante do setor. Enquanto não o fabricarmos, o Brasil não poderá ser considerado uma base tecnológica de fato", alerta Jacobus Swart, diretor do centro de componentes semicondutores da Unicamp.
A Motorola, no entanto, tem planos que poderão atrair nos próximos anos fabricantes de chips para o país. Em 2004, a empresa inaugura em Porto Alegre um centro de desenvolvimento de protótipos de chips. A iniciativa conta com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, do governo gaúcho e da Prefeitura de Porto Alegre.
O centro tecnológico terá condições de criar chips para a eletrônica embarcada de automóveis e caminhões, eletrodomésticos e computadores. Os protótipos de chips, no entanto, serão enviados para fábricas no exterior para que sejam fabricados em larga escala.
"O centro, no entanto, é um grande passo para que o Brasil possa atrair até mesmo indústrias que fabriquem o componente", afirma Antônio Calmon, diretor da Motorola, que investirá US$ 10 milhões no projeto.



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