São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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Sobra quartzo, mas faltam chips

DA REPORTAGEM LOCAL

O avanço tecnológico da indústria eletroeletrônica brasileira tem um obstáculo sério a ser enfrentado. O país não produz o principal componente do setor -o chip de silício-, apesar de ter a maior reserva mundial de quartzo, matéria-prima do semicondutor.
"Essa situação é paradoxal. O Brasil tem cerca de 90% do quartzo do mundo, mas exporta a produção para países como os Estados Unidos ou para a Ásia", afirma o empresário Bruno Topel, presidente da Heliodinâmica, indústria que produz módulos geradores de energia elétrica com luz solar. O principal componente do módulo é a lâmina de silício.
A Heliodinâmica fabrica essa lâmina específica comprando silício importado. Entre 1984 e 1996, chegou a fabricar também lâminas de silício para chips, exportando-as para Índia e Estados Unidos. Desistiu porque não conseguia enfrentar os custos mais baixos dos concorrentes.
"O governo não estimula a produção do componente, que é fundamental para a eletroeletrônica", diz Topel.
O diretor do centro de componentes de semicondutores da Unicamp, Jacobus Swart, confirma a importância que o chip de silício tem para o setor. "O chip representa cerca de 70% do valor de um computador. A tendência é que pese cada vez mais."

Descaso
O descaso no Brasil para a produção de silício fica evidente diante do processo de produção do material. O quartzo é extraído de jazidas na Bahia, por exemplo, e exportado para indústrias norte-americanas ou asiáticas, que o refinam até obter o silício. A Heliodinâmica adquire esse material refinado e fabrica então as chapas de silício para energia elétrica.
O desinteresse atual do país em se dedicar ao silício ou ao chip fica também evidente diante da estratégia adotada pela Itaucom, divisão da Itautec-Philco que fabrica memórias para computador.
A companhia adquire os chips de memória do exterior e os encapsula, testa e vende no Brasil. O vice-presidente da Itaucom, Jesus Boelle, afirma que não tem planos de curto prazo para a construção de uma indústria de chips no país. "Isso exige um investimento alto, da ordem de US$ 2 bilhões. Além disso, é preciso um investimento contínuo nesse tipo de fábrica, pois os chips ganham novas versões a cada ano." (LV)


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