São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 2005

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PREÇOS

No primeiro quadrimestre, IPCA acumula alta de 2,68%, ante 5,1% definidos como centro do alvo para 2004

Inflação já supera metade da meta do ano

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deu um salto em abril e revelou que o Banco Central terá mais trabalho neste ano para cumprir a meta de inflação. O índice foi de 0,87%, a maior taxa desde julho (0,91%). De janeiro a março, a taxa ficou praticamente estável, na casa de 0,60%.
Nos quatro primeiros meses de 2005, o IPCA, referência para o sistema de metas de inflação, teve alta de 2,68%. Ou seja: em quatro meses, pouco mais da metade do centro da meta de 5,1% para este ano já está comprometida. Em 12 meses, o IPCA superou 8% pela primeira vez, desde dezembro de 2003 -ficou em 8,07%.
Uma combinação de elevação dos alimentos e vários reajustes de tarifas públicas e preços administrados fez o índice subir e atingir o teto das previsões do mercado financeiro (0,85%).
Somados, os aumentos dos administrados e das tarifas representaram quase metade do IPCA de abril (0,44 ponto percentual). Estão na lista reajustes como ônibus (2,57%), energia elétrica (2,22%), gasolina (0,42%), plano de saúde (0,92%), remédios (3,26%) e outros.
Já os alimentos contribuíram com 0,18 ponto percentual do IPCA. Por causa de quebras de safra em decorrência de problemas climáticos, o grupo alimentação subiu de 0,26% para 0,81%. É a maior taxa desde agosto de 2004. Subiram com força produtos essenciais como feijão carioca (5,65%) e óleo de soja (1,66%).
Eulina Nunes dos Santos, gerente de índices do IBGE, diz que houve "uma maior dispersão de reajustes" em abril. Foi um movimento diferente do de fevereiro e março, quando a pressão inflacionária ficou concentrada em educação e em tarifas de ônibus.
Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital, afirmou que, apesar da aceleração, o IPCA ficou mais ou menos dentro do que se previa e não revelou claros sinais de preocupação ao Banco Central. A alta, diz ele, pode ser atribuída especialmente à concentração de reajustes de tarifas.
Ainda assim, o economista afirmou que o resultado do quadrimestre aponta que "está mais difícil atingir a meta". Sant'Anna acredita, no entanto, que o limite máximo de 7,6% não será superado -há uma tolerância de 2,5 pontos para cima ou para baixo.
De acordo com ele, os núcleos do IPCA, medidas que mostram melhor a eficácia da política monetária para conter a inflação, praticamente não se alteraram em abril. Por esse motivo, Sant'Anna espera que o BC mantenha a taxa de juros em 19,5% ao ano na reunião do Copom (dias 17 e 18).
A LCA faz uma análise diferente. Projeta nova alta de 0,25 ponto percentual na Selic. Motivo: a inflação, até abril, não convergiu para a meta do BC. Apesar disso, a consultoria espera que a inflação desacelere nos próximos meses e chegue a 0,50% neste mês.
A GRC Visão também prevê nova elevação da Selic de 0,25 ponto. A consultoria se mostra pessimista em relação ao cumprimento da meta: "O BC terá um trabalho difícil neste ano para não atingir o limite superior, de 7,6%, e, por isso, os juros devem subir novamente", diz Alex Agostini, economista da GRC Visão.

Dólar
Para Nunes dos Santos, a quebra de safra "enfraqueceu" o efeito positivo da queda do dólar sobre os preços. O dólar mais baixo tem impacto sobre importados e produtos que usam insumos com preços referenciados nos do mercado internacional -óleo de soja, pão e outros.
Na contramão do IPCA (mede a inflação do varejo), os preços no atacado têm caído sob o efeito benéfico do dólar. Divulgado anteontem, o IGP-DI caiu de 0,99% em março para 0,51% em abril. O recuo do dólar foi um dos principais motivos, ao reduzir tanto o preço de produtos industriais como o de agrícolas no atacado.


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