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Brasil insinuou usar Exército, diz boliviano
DO ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Em depoimento ao Senado, o
ministro de Hidrocarbonetos da
Bolívia, Andrés Soliz Rada, disse
que, durante a preparação do decreto que nacionalizou o gás e o
petróleo, havia "insinuações muito diretas do governo brasileiro"
de que poderia haver até uma intervenção militar contra o país.
"A realidade da nacionalização
boliviana é que, por detrás das
empresas, há enormes potências
mundiais. França, Espanha, EUA,
Brasil. Como recuperar a direcionalidade do negócio petroleiro e
ao mesmo tempo não gerar um
desastre para a Bolívia?", disse,
em sabatina ontem à noite.
"E poderia ter acontecido. Havia insinuações muito diretas do
governo brasileiro. Prestem atenção na imprensa brasileira, que
chega a dizer que, em caso de desabastecimento -claro, se 80%
de São Paulo funciona com gás
boliviano-, e, se eu digo aos brasileiros: "As válvulas estão sendo
fechadas", aí vem o Exército brasileiro", afirmou.
"Mais ainda, a 400 km da nossa
fronteira, há uma base militar
norte-americana no Paraguai [os
dois países negam]. Como vamos
caminhar todo o conjunto do cenário para ver até onde é possível
avançar? E consideramos que era
possível avançar via esse decreto."
Ecoando as críticas de Morales à
Petrobras, o ministro disse que,
para a Bolívia participar do projeto do gasoduto vindo da Venezuela, é necessário que as empresas participantes sejam estatais.
"E aqui surge um grandíssimo
problema com a Petrobras. Sessenta por cento da Petrobras está
nas mãos de multinacionais. Será
investida uma enorme quantidade de dinheiro para que as petroleiras sócias de Petrobras se beneficiem? Isso é um problema muito
grave para a Petrobras."
Soliz Rada disse ainda que o
Brasil fez "uma jogada muito tonta" ao dizer que a Venezuela venderia gás a US$ 1 o milhão de
BTU. Segundo ele, essa afirmação
foi desmentida pelo próprio governo venezuelano a ele, que teria
dito que o preço era US$ 5 o milhão de BTU.
Finalmente, o ministro falou
também que a Petrobras atualmente pratica uma "relação incestuosa" porque produz o gás do
lado boliviano e vende para ela
mesma do lado brasileiro.
(FM)
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