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BANCOS
Ainda não está claro quem terá o controle; preço é considerado alto
Venda do Real para o ABN
gera dúvidas no mercado
RICARDO GRINBAUM
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
Quatro dias após o seu anúncio,
o negócio entre o banco holandês
ABN-Amro e o Real, o maior investimento estrangeiro no sistema
financeiro do país, continua cercado de dúvidas.
Na quarta-feira passada, o ABN
anunciou no Brasil a compra de
40% das ações com direito a voto
da holding que controla o Banco
Real e a intenção de adquirir 100%
das preferenciais (sem direito a
voto).
No mesmo dia, os jornalistas holandeses divulgavam que o negócio incluía, além dos 40%, um
acordo com o dono do Real, Aloysio de Andrade Faria, de 78 anos.
Pelo suposto acordo, o banqueiro brasileiro teria assumido o
compromisso de vender as ações
restantes com direito a voto, para
que o ABN assumisse o controle
do Real.
A versão no Brasil era mais modesta. Os holandeses seriam minoritários e não haveria previsão de
que Faria pudesse abrir mão do
controle acionário.
O ABN tem uma explicação para
a contradição. "Os jornalistas holandeses não entenderam o que
tentamos explicar durante duas
horas de entrevista", disse à Folha Jules Prast, porta-voz do banco na Holanda.
A origem da confusão, segundo
o banco, estaria no fato de só existirem ações com direito a voto na
Holanda.
Por isso, segundo Prast, os jornalistas holandeses teriam entendido que os 100% de preferenciais
dariam o controle do banco brasileiro ao ABN no futuro.
Veto
Pode até ter havido confusão,
mas existia um bom motivo para
que os anúncios fossem diferentes
no Brasil e na Holanda.
Em casa, o ABN tinha o desafio
de explicar aos seus acionistas que
seu maior investimento no exterior daria direito apenas a uma
participação minoritária em um
banco de um país mais conhecido
por seu futebol.
No Brasil, a dificuldade era outra. O Banco Central deixou claro
que não aprovaria neste momento
a aquisição do controle do quarto
maior banco privado brasileiro,
considerado saudável.
"Desde o início, o BC orientou o
ABN e o Real a fazerem uma parceria estratégica", disse Marcus
Vinícius Pratini de Moraes, presidente do conselho do ABN no Brasil.
"O governo permitiu a compra
de só 40%. No Brasil, a negociação
não é livre", disse Paulo Guilherme Ribeiro, presidente do Banco
Real.
Preço alto
O que deu ainda mais margem a
especulações foi o preço anunciado para a compra.
Segundo o ABN, estão sendo desembolsados cerca de R$ 2 bilhões
pelos 40% das ações ordinárias. Os
especialistas acham que é muito
dinheiro para pouco controle,
mesmo considerando que o banco
holandês será o responsável pela
administração do Real.
"O ABN comprou uma participação e fez um acordo com os
acionistas para assumir a gestão.
O que se imagina, pelo tamanho
do investimento, é que o controle
total acontecerá", disse Lázaro de
Mello Brandão, presidente do
Bradesco, o maior banco privado
brasileiro.
"O valor pago é surpreendente.
Eu esperaria que um estrangeiro
do porte do ABN, ao fazer esse investimento, deva ter no seu horizonte atingir o controle do banco", disse Roberto Setubal, presidente do Itaú e da Febraban (Federação Brasileira das Associações
de Bancos).
ABN e Real argumentam que o
preço é justo, mesmo considerando que se trata apenas de 40% do
controle.
"É o preço a ser pago pela oportunidade única de entrar no Brasil", disse o presidente do banco
holandês no Brasil, Fábio Colletti
Barbosa.
"Esse preço pode parecer caro,
mas é preciso considerar a penetração que o ABN terá na administração, superior ao que os 40% lhe
dariam direito", afirmou Paulo
Guilherme Ribeiro.
Conta diferente
Não é o que pensam os analistas.
"Por todo o controle esse valor já
seria alto", diz Erivelto Rodrigues, diretor da Austin Asis Consultoria Financeira.
Pelas suas contas, o controle total do Banco Real custaria em torno de R$ 1,5 bilhão, mesmo incluindo as outras empresas que
vieram no pacote do negócio
-duas seguradoras, uma empresa de capitalização, uma companhia de crédito imobiliário, uma
distribuidora e uma administradora de fundos.
Na avaliação de Paulo Feldmann, diretor da Ernst & Young,
os R$ 2 bilhões pagos por um pedaço do banco indicam um valor
total de R$ 5 bilhões para o Real.
O preço pago pelo ABN também
é resultado do interesse despertado pelo Real junto à concorrência.
Bancos brasileiros procuraram
Aloysio Faria para propor negócio, mas quem levou foram os holandeses.
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