São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Aceitação do pacote será sentida nesta semana, dizem analistas, para quem Fed deve manter juros

Agora, mercado analisa acordo com o FMI

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro faz a partir de hoje uma melhor avaliação do acordo do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Analistas e investidores tendem, agora, a buscar o detalhamento das entrelinhas do pacote de ajuda de US$ 30 bilhões.
"Entre hoje e amanhã, será possível ver se o mercado aceitou esse pacote. Na sexta-feira, houve realização de lucro e [o investidor" não quis ficar posicionado no fim de semana", diz Alexandre Póvoa, do ABN Asset Management.
Depois da euforia de quinta-feira, veio a devolução. Na sexta-feira, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) fechou com queda de 3,2% e o dólar cotado a R$ 3,02.
"Imaginar o dólar muito abaixo de R$ 3, em razão do acordo, foi sonho de uma noite de verão do mercado", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, da corretora Planner. Para ele, essa escalada do câmbio pós-pacote era esperada.
"O dólar cai pelo impacto da notícia, depois volta de novo. É o problema do "day after". Havia muita gente com posição na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) que correu para encerrá-la. Na sexta-feira, quem esperava a alta da moeda reduziu venda."
Analistas afirmam que as recentes declarações do candidato Ciro Gomes (PPS) em relação à política econômica, a queda de José Serra (PSDB) na pesquisa do Ibope da semana passada e o boato de renúncia do candidato governista (negado pelo tucano) também pressionaram muito o dólar.
A suspensão da ração diária do Banco Central foi outro fator apontado, mas com ressalvas.
"Não interessa para o BC que o dólar caia muito porque a alta da moeda tem tido efeito interessante sobre a balança comercial", diz Póvoa. Além disso, desestimula a saída de dólares do país.
A retomada da oferta de linhas de crédito externo apenas a partir de outubro, apesar do acordo, não surpreendeu alguns analistas.
Para eles, o dinheiro não sairá antes da aprovação do acordo pela diretoria do FMI.
Com a ausência de crédito, empresas não conseguem rolar dívidas e compram dólares para quitá-las. Isso gera mais pressão sobre o câmbio.

EUA
Para alguns analistas, a Bovespa deve voltar a acompanhar as Bolsas americanas.
"Pode descolar de Nova York por um ou dois pregões, mas depois segue as Bolsas de lá, onde se volta a pensar em "double dip'", diz Vaz das Neves.
O risco de "duplo mergulho" - quando a economia em recuperação descamba para recessão- cresceu em razão de indicadores econômicos que saíram abaixo do esperado, grandes perdas no mercado acionário e temor de queda no consumo.
Uma parcela de analistas, porém, diz que os indicadores podem não ser fracos o suficiente para que o Fed (o banco central americano) corte juros já na reunião marcada para amanhã e quarta-feira. Muitos afirmam esperar a manutenção da taxa em 1,75%, pelo menos até setembro.
"Seria uma boa surpresa o corte de 0,25 ponto percentual. Pode haver alguma reação se os juros forem mantidos, mas não muito negativa porque a maioria não espera redução já", diz Póvoa. Para Neves, se a taxa não cair, "a Bolsa cai. Pode haver um pregão melhor, mas não se sustenta".
"As Bolsas externas não vão ajudar, nem atrapalhar. Ciro é a grande incógnita: se ele convence o mercado", diz o diretor do ABN. A quem acredita que o mercado vá se acalmar, ele sugere ações de telefonia fixa e de bancos, que caíram muito. Quem acha que o dólar subirá deve ficar com papéis de exportadoras.


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