São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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Rendimento no ano é de 19,73%, contra 31,87% do dólar Ptax; escassez e desconfiança explicam disparidade

Fundo cambial perde para variação do dólar

ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de dólares no mercado financeiro e a desconfiança em relação ao Brasil estão provocando uma disparidade entre a rentabilidade dos fundos cambiais e a variação da moeda americana.
Segundo dados do site Fortuna, do início do ano até o dia 7 de agosto, os fundos cambiais renderam, em média, 19,73%, enquanto o dólar Ptax (preço médio do dólar divulgado diariamente pelo Banco Central) subiu 31,87%.
Em julho, a rentabilidade dos fundos foi de 8,10%, e a do dólar, de 20,54%. Em agosto, até o dia 7, os fundos caíram, em média, 4,33%, e o dólar perdeu 10,8%.
Tanta disparidade deve-se à conjuntura de mercado. Com a escassez de dólares e o temor de calote, títulos e operações em reais atrelados ao dólar passaram a valer menos, afetando a rentabilidade dos fundos, que são obrigados a marcar os seus ativos pelo preço de mercado.
Os fundos cambiais, explica Gilberto Kfouri, diretor de investimentos do BNP Paribas, não podem investir diretamente em dólar. Para proporcionar um rendimento semelhante à variação da moeda norte-americana, aplicam seus recursos em títulos do governo em reais indexados ao dólar ou fazem operações no mercado futuro de câmbio.
Esses títulos e as operações no futuro embutem, além da variação da moeda, uma taxa de juro, conhecida no mercado como cupom cambial, que leva em consideração, entre outros fatores, o preço do dólar no mercado à vista e o praticado no mercado futuro.
Esse cupom varia conforme o prazo. No início do ano, estava na faixa de 4% a 8% ao ano. A partir de março, passou a subir. No dia 31 de julho, quando o dólar fechou em R$ 3,43, o cupom para operações de 30 dias bateu em 100% ao ano. Para prazos mais longos, era menor, mas ainda na faixa de pelo menos 30% ao ano.
Emanuel Pereira da Silva, diretor da Gap Asset Management, diz que nem na crise da Rússia, em 98, o mercado viu taxas tão altas e por tanto tempo.
Para entender melhor o que está acontecendo, imagine que o gestor tenha um título adquirido no começo de 2002, com prazo de um ano, que paga, além da variação do câmbio, juro de 5% ao ano. A taxa para esse prazo, ao pular, por exemplo, para 30%, faz o título valer bem menos, pois ninguém vai querer comprá-lo por seu valor de face, que estipula um rendimento de apenas 5%.
Depois de chegar ao auge no dia 31 de julho, o cupom cambial vem caindo. Na sexta-feira, fechou em 20,28% ao ano, para operações de 30 dias. Mas, segundo Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna, as taxas ainda estão longe da normalidade.


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