São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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Ex-ministros dizem o que não deu certo

DE BUENOS AIRES

Os últimos ministros da Economia argentinos acreditam que a falta de responsabilidade fiscal, e não o FMI (Fundo Monetário Internacional), levaram ao colapso econômico do país, em recessão desde junho de 1998.
O jornal "La Nación" reuniu cinco dos seis últimos ministros -com exceção de Domingo Cavallo- para explicar os motivos da recessão. Eles concordaram que a demora em tomar medidas para o controle dos gastos públicos, agravada por uma sucessão de choques externos, colocaram em xeque a conversibilidade.
Os mais incisivos em apontar o câmbio atrelado ao dólar como responsável pelo colapso foram o ministro Roberto Lavagna e seu antecessor, Jorge Remes Lenicov.
Para Lavagna, as crises de México, Ásia, Rússia e Brasil na década de 90 reduziram o fluxo de capitais para os países emergentes e contribuíram para a aposta do mercado de que o câmbio argentino não se sustentaria. Como o país também fracassou em abrir novos mercados para produtos argentinos e em controlar gasto público, a situação tornou-se insustentável ao final de 2001, quando houve a moratória.
"A recessão que atingiu a economia em 1998 foi consequência da própria insustentabilidade do modelo de conversibilidade lançado em 1991", escreveu.
Na mesma linha, Jorge Remes Lenicov, que foi ministro entre janeiro e abril deste ano, afirmou que as gestões anteriores "acreditaram que com retoques poderia ser mantido" o regime de conversibilidade. Ele sustentou que as decisões de aumentar os impostos e o endividamento apenas "postergaram a solução".
O ex-ministro Ricardo López Murphy, que ficou no cargo apenas duas semanas durante março de 2001, se defende e diz que era necessário cortar despesas na época. No entanto, o encolhimento da economia se manteve devido "ao aumento enorme do gasto público prévio à recessão e à enorme rigidez do setor público para fazer ajustes".
Por sua vez, José Luis Machinea, que foi ministro entre 1999 e 2001, disse que tomou as medidas corretas na época -ao tentar baixar o gasto público e garantir o pagamento da dívida externa-, mas choques externos impediram a recuperação. Ele também afirma que "a recessão só se transformou em depressão econômica no segundo semestre de 2001" devido ao confisco dos depósitos bancários, o alto desemprego e a queda do poder aquisitivo.
Já Roque Fernández, que coordenou a pasta entre 1996 e 1999, disse que houve duas recessões na Argentina. A primeira começou e 1998 e começou a ser revertida em 1999, ainda durante sua gestão. A outra, que levou o país ao colapso, teria sido gerada por "erros" cometidos principalmente por Cavallo, como a proposta de atrelar o peso a uma cesta de moedas.


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