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OPINIÃO ECONÔMICA
Também quero
BENJAMIN STEINBRUCH
A questão do déficit público
tem sido amplamente discutida em toda parte. Em princípio,
ninguém é a favor de déficits. As
divergências começam quando se
discutem as formas para alcançar
o equilíbrio das contas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os republicanos abominam os
déficits tanto quanto os democratas. Os republicanos defendem o
combate ao déficit por meio do
corte de gastos, de forma que seja
possível até reduzir impostos. Os
democratas, em geral, preferem o
aumento de impostos.
George W. Bush tem adotado a
receita republicana, pelo menos
na parte da redução de impostos.
No início do governo, como prometera na campanha eleitoral,
ele sustentou que havia dinheiro
para tudo e promoveu um corte
radical no Imposto de Renda, pelo qual as famílias pagariam em
média US$ 2.500 a menos por
ano.
A lógica republicana diz que,
com mais dinheiro no bolso, os
consumidores fazem mais compras. Isso estimula a economia, e,
na sequência, o governo recupera
os impostos perdidos, em razão
do aumento da produção e das
vendas.
Quando Bush pôs em prática
seu plano de corte de impostos,
em 2001, os democratas o contestaram. Disseram que a redução
do Imposto de Renda beneficiaria
muito mais fortemente os ricos,
que não aumentariam seu nível
de consumo porque já consomem
tudo o que precisam.
O fato de que as famílias teriam
em média US$ 2.500 a mais por
ano não significaria que todos esses recursos iriam efetivamente
para o consumo. Ou seja, seria errado raciocinar em termos de média. O economista Paul Krugman, em artigo no "New York Times", fez uma piadinha com isso.
Disse que, quando Bill Gates entra num restaurante, a renda média dos fregueses dispara, mas isso não os torna todos milionários.
Piadas à parte, o fato é que,
aqui no Brasil, o corte de impostos raramente entra em cogitação, a não ser em casos específicos
e sob fortes pressões. Na semana
passada, o governo concordou
com um corte de três pontos percentuais no IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) dos
automóveis.
Redução temporária de IPI para estimular consumo é uma fórmula já usada algumas vezes em
anos anteriores, sempre com objetivo específico de reativar vendas
de carros nas faixas populares.
Desta vez, porém, o acordo verbal
entre governo e montadoras incluiu cláusulas novas. A primeira
é a manutenção do número de
empregos em cerca de 520 mil nas
montadoras, concessionárias e
autopeças. E a segunda é a que
prevê o rompimento do acordo se
ao fim do primeiro bimestre de
sua vigência houver queda de arrecadação no IPI dos automóveis.
O governo, portanto, não deu
um presente às montadoras, porque a manutenção do acordo dependerá de seu sucesso. Pelos cálculos do Ministério da Fazenda,
durante o período de vigência, até
novembro, o governo abrirá mão
de receitas de R$ 342 milhões.
Mas esse valor terá de ser compensado pelo crescimento das
vendas de automóveis, o que só
poderá ser conseguido se as montadoras fizerem a sua parte e reduzirem os preços dos carros.
Na teoria, portanto, o acordo é
bom para todos os lados. O governo não perde receita, os trabalhadores não perdem postos de trabalho e as empresas ganham vendas. E, se ninguém perde nada,
por que não estender o esquema
para outros setores igualmente
afetados pela queda de vendas?
Essa pergunta instigou um sentimento de "também quero" na indústria. O setor de máquinas, que
recolhe IPI de 5% a 35%, também
quer. O mesmo ocorre com alguns
setores de eletroeletrônicos, materiais de construção e vários outros. Só não dá para pensar em reduzir IPI de bebidas e cigarros,
porque incentivar o consumo desses itens seria "politicamente incorreto".
De fato, acordos setoriais podem ser medidas de emergência
para a economia estagnada. A redução da alíquota do IPI e de outros impostos pode funcionar como estimulante temporário enquanto não se aplica uma política
de longo prazo, com redução geral da carga tributária, oferta de
crédito a custos moderados e investimentos públicos.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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