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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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POLÍTICA INDUSTRIAL

Estudo mostra que incentivo só a setor de ponta não resolve

Governo precisa diversificar, diz FGV

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O Ministério da Fazenda acaba de receber um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) que contraria a opinião, hoje difundida no governo, de que fazer política industrial estimulando setores de ponta é o caminho para equilibrar as contas externas e, em última instância, para promover o desenvolvimento econômico.
No trabalho, o economista Pedro Cavalcanti Ferreira, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV, afirma que as políticas de incentivos creditícios e fiscais a setores considerados estratégicos acabam servindo para transferir renda pública para setores determinados, além de concentrar renda, sem os benefícios esperados.
Ele defende a adoção de "políticas horizontais" que beneficiem por igual a todos os setores, como os investimentos em educação e em infra-estrutura. "Se há pouca sustentação teórica ou empírica, em nível microeconômico, para a intervenção pública via incentivo a setores estratégicos para a competição internacional, o argumento macroeconômico é mais frágil ainda", afirma o trabalho.
O estudo foi produzido no âmbito de um convênio entre o Ministério da Fazenda e a FGV, assinado no governo passado, e acaba de ser tornado público no site do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), entidade à qual Ferreira é associado.

Estratégia
Ao analisar a proposta de incentivos setoriais da perspectiva microeconômica, o economista analisa a experiência italiana de apoio a setores de ponta.
Segundo o trabalho, nos anos 70 e 80 havia na Itália "um certo consenso" quanto à necessidade de se apoiar setores considerados modernos com dois objetivos: "substituir importações de produtos tecnologicamente avançados e deslocar a especialização do país dos setores tradicionais para estes últimos".
Ferreira argumenta que "após duas décadas de decidido apoio do governo, a Olivetti, por exemplo, apesar da grande quantidade de verbas públicas de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento, abandonou o setor de computadores e de eletrônica de ponta".
O trabalho afirma que a Itália continua importadora de "produtos da tecnologia de informação" e que o equilíbrio do balanço de pagamentos daquele país "é garantido pela exportação de produtos tradicionais".


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