|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA INDUSTRIAL
Estudo mostra que incentivo só a setor de ponta não resolve
Governo precisa diversificar, diz FGV
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério da Fazenda acaba
de receber um estudo da FGV
(Fundação Getúlio Vargas) que
contraria a opinião, hoje difundida no governo, de que fazer política industrial estimulando setores
de ponta é o caminho para equilibrar as contas externas e, em última instância, para promover o
desenvolvimento econômico.
No trabalho, o economista Pedro Cavalcanti Ferreira, professor
da Escola de Pós-Graduação em
Economia da FGV, afirma que as
políticas de incentivos creditícios
e fiscais a setores considerados estratégicos acabam servindo para
transferir renda pública para setores determinados, além de concentrar renda, sem os benefícios
esperados.
Ele defende a adoção de "políticas horizontais" que beneficiem
por igual a todos os setores, como
os investimentos em educação e
em infra-estrutura. "Se há pouca
sustentação teórica ou empírica,
em nível microeconômico, para a
intervenção pública via incentivo
a setores estratégicos para a competição internacional, o argumento macroeconômico é mais frágil
ainda", afirma o trabalho.
O estudo foi produzido no âmbito de um convênio entre o Ministério da Fazenda e a FGV, assinado no governo passado, e acaba
de ser tornado público no site do
Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), entidade à
qual Ferreira é associado.
Estratégia
Ao analisar a proposta de incentivos setoriais da perspectiva microeconômica, o economista analisa a experiência italiana de apoio
a setores de ponta.
Segundo o trabalho, nos anos 70
e 80 havia na Itália "um certo consenso" quanto à necessidade de se
apoiar setores considerados modernos com dois objetivos: "substituir importações de produtos
tecnologicamente avançados e
deslocar a especialização do país
dos setores tradicionais para estes
últimos".
Ferreira argumenta que "após
duas décadas de decidido apoio
do governo, a Olivetti, por exemplo, apesar da grande quantidade
de verbas públicas de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento,
abandonou o setor de computadores e de eletrônica de ponta".
O trabalho afirma que a Itália
continua importadora de "produtos da tecnologia de informação"
e que o equilíbrio do balanço de
pagamentos daquele país "é garantido pela exportação de produtos tradicionais".
Texto Anterior: Opinião econômica: Também quero Próximo Texto: Superávit: Balança já tem saldo quase igual ao de 2002 Índice
|