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LUÍS NASSIF
O jornalismo econômico
Já faz muito tempo que a
economia é apresentada como uma ciência mágica, capaz
de transportar o país para o
progresso, sem esforço, e o jornalista econômico como o sujeito que usava o jargão econômico para se valorizar ou escrevia fácil sem explicar.
Desde os anos 70, o jornalismo econômico ajudou a montar a fantasia do saber mágico,
pairando acima da realidade
do país e das pessoas. Ajudamos a vender a fantasia do
"milagre", período em que todo empresário era tratado como uma "raposa felpuda" que
sabia tudo e tinha todas as virtudes.
Depois, nos anos 80, ajudamos a vender a morfina dos
pacotes econômicos milagrosos. Desviamos a atenção nacional dos temas fundamentais, da educação, saúde, da
gestão, da inovação, tudo trocado pela mística dos pacotes,
pelo sebastianismo que atribuía a algumas pessoas o condão de transformar a vida nacional.
Nos anos 90 nos deixamos seduzir pela miragem da abertura financeira indiscriminada,
pelos sofismas de que a criação
de vulnerabilidade externa
atrairia capital volátil, que, por
si, atrairia o capital de investimento.
Ajudamos a vender o peixe
de que, reduzindo a aposentadoria, os repasses para Estados
e municípios, impondo um arrocho fiscal sem precedente, se
abririam as portas do desenvolvimento para o país.
Muitas vezes deixamos de lado aspectos fundamentais da
construção do país, o respeito
ao seu povo, a compreensão da
sua história, o entendimento
da sua cultura, a análise dos
seus personagens e agentes econômicos, tudo substituído pela
superficialidade das análises
diárias de mercado, tornando-nos portadores de uma racionalidade que jamais existiu
nas mesas de operação.
Frequentemente abrimos
mão do critério técnico, abdicamos da capacidade autônoma de análise, conferindo a
procuração a analistas sem nenhum pingo de consistência ou
meramente preocupados em
defender interesses de sua
clientela.
Mas nos últimos tempos há
mudanças no ar, uma preocupação maior em selecionar
fontes, em ir buscar na realidade a confirmação ou o desmentido de teorias. Há muito a caminhar. O foco do jornalismo
econômico tem que ser a defesa
dos valores que, levando ao desenvolvimento, ajudem o país
a sair de sua condição de miséria. Há que exorcizar esse fiscalismo inconsequente que sufocou o país, a política monetária
que sugou todo o recurso público para o pagamento de juros,
o receio de investir contra mentiras estabelecidas.
Não basta explicar. É preciso
explicar criticamente, questionar as afirmações econômicas,
conferir o que é consistente e
denunciar a burla, a farsa.
Grande parte do desafio de
romper com esse moto-contínuo da estagnação está nas
mãos do jornalista econômico,
em nossa capacidade de identificar novas idéias, de questionar o que não deu certo, de trazer à tona o pensamento inovador que, nos últimos anos,
foi sufocado por uma visão financeira estreita da economia.
O país conta com o nosso trabalho para escapar da maldição do subdesenvolvimento.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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