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CURTO-CIRCUITO
Xerife do mercado financeiro suspeita de uso de informação privilegiada para compra de ações da Eletropaulo
CVM investiga vazamento no acordo da AES
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), órgão responsável
pela fiscalização do mercado de
ações, suspeita de que pode ter
ocorrido uso de informação privilegiada para compra de ações da
Eletropaulo nos dias que antecederam o acordo sobre a dívida da
AES, controladora da Eletropaulo, com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Foi aberto um
"procedimento de análise" para
investigar os fatos.
O órgão considerou anormal o
movimento das ações da Eletropaulo nos dias anteriores ao
anúncio, feito na noite do dia 8.
Com base nisso, enviou ontem ao
BNDES, à Eletropaulo e à AES ofícios em que pedem informações
sobre as pessoas que participaram
ou tiveram conhecimento prévio
das negociações, que resultaram
em um acordo sobre a dívida de
US$ 1,2 bilhão.
Segundo dados da Bovespa
(Bolsa de Valores de São Paulo),
as ações preferenciais da Eletropaulo tiveram forte alta (10,77%)
na quarta-feira, dia 3. O volume
de negócios chegou a R$ 5,17 milhões. Após uma forte oscilação
negativa (5,63%) no dia seguinte,
as ações subiram 13,27%, com negócios no valor de R$ 8,17 milhões, na sexta-feira, dia 5.
Na segunda-feira, dia no qual o
acordo foi anunciado, já após o fechamento do pregão, as ações voltaram a ter forte alta (5,41%), com
negócios de R$ 7,23 milhões.
Segundo informações da CVM,
antes mesmo do anúncio do acordo seus técnicos já haviam procurado a Bovespa para pedir um levantamento dos nomes principalmente de quem comprou ações
da Eletropaulo nos dias anteriores. Conhecida como o xerife do
mercado de ações, a CVM já vinha considerando o movimento
das ações anormal.
Filtros
O órgão tem três "filtros" para
detectar movimentação anormal
de ações na Bolsa. Um de preço,
um de volume e outro de número
de negócios realizados. A filtragem é feita comparando a movimentação de um determinado dia
com a média dos três meses imediatamente anteriores. Houve
dias, como o dia 8, em que foram
detectadas oscilações anormais
nos três tipos de comparação.
Ainda de acordo com a CVM, o
prazo máximo para que as empresas forneçam as informações
solicitadas é de cinco dias úteis.
Os técnicos do órgão vão fazer
um cruzamento com os nomes
das pessoas que operaram com as
ações, para saber se existe algum
tipo de relação entre elas e aquelas
que tinham conhecimento do
acordo que estava prestes a ser
anunciado.
A CVM calcula em 30 dias corridos o prazo para que alguma conclusão possa ser tirada. Caso surja
algum indício mais sólido de que
tenha havido irregularidade, a
análise será transformada em um
inquérito. De acordo com o órgão
fiscalizador, esse procedimento é
padrão para todas as situações
nas quais os "filtros" do mercado
detectam alguma anormalidade.
Segundo a assessoria de imprensa do BNDES, o diretor da
Área Financeira do banco, Roberto Timótheo da Costa, responsável pela negociação do acordo
com a AES, disse que considera
"normal que uma operação desse
porte atraia a a atenção da CVM".
Costa, que já foi diretor da
CVM, disse também que todos os
funcionários do BNDES que participaram das negociações tinham conhecimento das limitações que lhes eram impostas pela
legislação.
"Se houve informação privilegiada e alguma coisa for de responsabilidade de funcionário do
banco, a lei será aplicada", disse
por intermédio da assessoria.
A Folha procurou a Eletropaulo
e a AES -por intermédio da Eletropaulo- para que elas se pronunciassem sobre a investigação
da CVM. Até as 19h de ontem não
havia obtido resposta.
No começo da noite de ontem, o
presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho, recebeu um
convite da Comissão de Minas e
Energia da Câmara de Deputados
para participar de uma audiência
pública, no dia 17, sobre o acordo
entre o BNDES e a AES. O convite
foi dirigido também aos presidentes da CVM, do BNDES, da Eletropaulo e da AES.
Câmara
A Comissão de Minas e Energia
da Câmara vai apurar se houve
vazamento de informações sobre
o acordo entre o BNDES e a AES.
O deputado José Janene (PP-PR),
presidente da comissão, disse estar convencido de que houve vazamento de informações.
"Nós temos uma tabela com os
dados sobre a movimentação das
ações da Eletropaulo até 30 dias
antes do acordo. Houve compra
de ações e o preço valorizou
53%", disse o deputado. Na quarta-feira, a comissão ouvirá o presidente do BNDES, Carlos Lessa, e
o diretor Roberto Timótheo da
Costa.
Também serão ouvidos, em outra ocasião, Magliano Filho e o
presidente da CVM, Luiz Leonardo Cantidiano.
O monitoramento do comportamento das ações da Eletropaulo
foi feito pelo deputado Eduardo
Gomes (PSDB-GO). Gomes não
disse categoricamente que houve
vazamento, mas defende a apuração rigorosa do que aconteceu.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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