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NOVOS TEMPOS
Estudo aponta que 19 de 26 países que suspenderam pagamentos diminuíram o débito público e voltaram a crescer
Declarar moratória reduz dívida, diz FMI
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Documento divulgado ontem
pelo FMI revela que países que
declararam moratória, como a
Argentina, têm grandes chances
de diminuir consideravelmente a
carga de suas dívidas em relação
ao PIB (Produto Interno Bruto) e
voltar a crescer em um prazo relativamente curto.
O estudo analisou os casos de 26
países entre 1970 e 2002 que tiveram uma redução importante em
suas dívidas públicas por períodos médios de três anos.
Dos 26 países, 19 declararam
moratórias e reduziram a carga da
dívida pública de maneira consistente nos anos seguintes.
Segundo a análise do Fundo, as
moratórias acabaram forçando os
credores a uma reestruturação
mais vantajosa dos débitos.
""A grande maioria dos episódios [de redução da dívida] esteve
associada a moratórias. Embora
não seja possível determinar com
exatidão o impacto da reestruturação no tamanho da dívida, ela
aparece como um fator importante por trás da redução da relação
dívida/PIB", diz o documento.
O estudo mostra ainda que, entre os 19 casos de países que reduziram suas dívidas após uma moratória, 10 conseguiram manter a
relação dívida/PIB em um percentual abaixo do nível que os levou originalmente à suspensão do
pagamento das dívidas.
O Fundo ressalta, no entanto,
que, em 5 dos 19 casos, os países
ou entraram em moratória novamente logo depois ou passaram a
acumular uma relação dívida/PIB
maior do que a que tinham antes
de suspender os pagamentos.
"Isso sugere que a moratória
nem sempre é a solução e que, a
não ser que seja acompanhada
por mudanças complementares
em termos fiscais e monetários,
não terá sucesso em sustentar os
níveis de endividamento."
Exemplo
O Chile é apontado como exemplo de sucesso continuado, após
ter declarado moratória da dívida
externa nos anos 80.
Depois do episódio, uma combinação de ajustes fiscais e reformas reduziu a relação dívida pública/PIB chilena de 54%, em
1990, para 21%, em 2002.
O estudo divulgado ontem faz
parte do capítulo 3 do relatório
"Perspectivas para a Economia
Mundial", cujas previsões de crescimento para o mundo serão divulgadas na próxima semana na
reunião geral do FMI em Dubai
(Emirados Árabes Unidos).
Em entrevista para comentar os
resultados do trabalho, o economista-chefe do FMI, Kenneth Rogoff, disse que os emergentes deveriam aproveitar o cenário de
"relativa bonança" para aprofundar os ajustes fiscais e as reformas.
"O Brasil, por exemplo, vem enfrentando nos últimos meses
muitos dos problemas difíceis
que tem pela frente e parece estar
tendo sucesso", disse.
Embora tenha se recusado a fazer comentários diretos sobre a
moratória argentina com o próprio Fundo, Rogoff disse que o
país "tem agora uma boa oportunidade para lidar com questões
importantes que não foram atacadas nos anos 90".
A dívida pública da Argentina,
segundo os dados do Fundo, saltou de 30% do PIB no início da
década passada para mais de
150% do PIB em 2002.
No Brasil, essa relação está hoje
em 54%. O percentual brasileiro
está abaixo da média dos demais
emergentes calculada pelo FMI,
de 70% -contra 65% nos países
desenvolvidos.
O Fundo alerta para o fato de
que os credores de uma forma geral toleram percentuais acima de
60% só nas economias avançadas.
Nos últimos 30 anos, por exemplo, 55% das moratórias entre os
emergentes foram declaradas
quando a relação dívida pública/
PIB estava abaixo dos 60%. "Tendo em conta o quadro fiscal dos
emergentes [níveis de arrecadação e gastos], a maioria está endividada acima do que poderia".
O estudo afirma que, na média,
países com uma relação entre a
dívida pública e o PIB superiores
a 25% estarão sempre vulneráveis
aos humores de investidores internacionais e às consequências
de crises econômicas cíclicas.
EUA versus China
O FMI encampou em parte do
relatório "Perspectivas para a
Economia Mundial" o mais novo
contencioso entre os EUA -o
principal sócio do Fundo- e a
China, o rival emergente dos norte-americanos.
Em um estudo sobre o acumulo
de reservas internacionais entre
os países emergentes, o FMI diz
aos asiáticos -à China, em particular- que "está chegando a hora de uma diminuição no ritmo
de acumulação de reservas".
O Fundo recomenda a "flexibilização" das taxas de câmbio como forma de abandonar o acúmulo agressivo de reservas.
A China tem hoje as maiores reservas internacionais do mundo,
de US$ 356,5 bilhões, e mantém a
tendência de aumento principalmente para sustentar o câmbio fixo para sua moeda, o yuan.
Várias autoridades americanas
vêm afirmando que a China deveria abandonar o câmbio fixo para
evitar "um aumento no desequilíbrio financeiro internacional".
A indústria norte-americana
atribui boa parte dos 2,6 milhões
de empregos perdidos nos EUA
nos últimos três anos à política de
câmbio fixo da China, que tornou
as exportações chinesas muito
mais competitivas.
(FCz)
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