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São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003

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Argentina paga parcela de US$ 2,9 bi

Yuri Cortez/France Presse
Rafael Bielsa discursa na reunião da OMC, em Cancún (México)


ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

A Argentina pagou a parcela de US$ 2,9 bilhões da dívida que estava em moratória com o FMI (Fundo Monetário Internacional) desde a última terça-feira. Os recursos, segundo informações da Casa Rosada, foram sacados das reservas do Banco Central ontem à tarde e devem chegar aos cofres do Fundo no máximo hoje.
A decisão de honrar o compromisso veio depois de o Fundo confirmar que iria fechar um acordo com o país e aceitar a carta de intenções encaminhada pelo governo argentino à instituição.
Anteontem à noite, após confirmar o fechamento de um acordo de três anos com a instituição, o presidente Néstor Kirchner afirmou que pagaria a parcela. "Sacaremos o dinheiro das reservas, que serão recompostas com outro desembolso do Fundo ao país", disse. Essa, segundo o presidente, era uma das condições para efetuar o pagamento -o compromisso de que os recursos voltariam para os cofres da Argentina.
A justificativa dada pelo governo para não pagar na data do vencimento foi justamente a intenção de "preservar" as reservas do país, atualmente de US$ 13,7 bilhões.
A Argentina e o Fundo concluíram anteontem um novo acordo de três anos que irá liberar para o país US$ 21 bilhões em recursos que serão utilizados para renovar dívidas contraídas com o próprio FMI e outras organizações multilaterais de crédito, como o Banco Mundial e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
O acordo foi encarado como uma vitória política do presidente, que conseguiu a fixação de uma meta de superávit primário de 3% do PIB em 2004 e não incluir no texto da carta de intenções um cronograma de reajuste das tarifas públicas, congeladas há mais de um ano.
O silêncio do Brasil em relação às negociações da Argentina com o FMI teria causado mal-estar dentro do governo, segundo informações veiculadas na imprensa argentina.
A crítica indireta teria sido feita em pronunciamento. Kirchner disse que "alguns se ausentaram por algumas horas" durante as negociações. Essa frase teria sido uma indireta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ajuda
Logo após o anúncio do acordo, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, disse ter recebido uma ligação do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que teria oferecido ajuda para as negociações. "Claro que o ministro também enviou recomendações do presidente Lula", disse Lavagna.
Houve um silêncio sobre o tema na Casa Rosada. O governo argentino não confirmou, mas também não desmentiu as informações que foram veiculadas durante todo o dia pelos sites de notícias do país. Ontem, em entrevista a uma rádio local, ao ser perguntado sobre a relação com Lula, Kirchner disse apenas que o brasileiro "é um bom amigo". Mas o presidente argentino fez questão de agradecer o apoio dos Estados Unidos nas negociações com o Fundo. O Brasil não mereceu esse destaque.


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