São Paulo, Domingo, 12 de Setembro de 1999
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Da Inglaterra, empresário dá sua versão sobre liquidação do Crefisul e falência do Mappin-Mesbla

Mansur diz que procura novos negócios

Jorge Araújo - 15.ago..96/Folha Imagem
O empresário Ricardo Mansur, do Mappin, que está fora do país


da Reportagem Local

O empresário Ricardo Mansur está fora do país procurando oportunidades de negócios que o ajudem a pagar as dívidas que deixou no Brasil. Quem afirma é o próprio Mansur, que atribui a maior parte dos seus problemas ao Bradesco.
Na sexta-feira, Mansur, que está na Inglaterra, aceitou responder, por fax, 14 perguntas encaminhadas pela Folha.

Folha - Onde o sr. está? Por que está fora e quando volta?
Ricardo Mansur -
Não estou fora do Brasil, mas tenho dividido o meu tempo entre estar aqui, à testa dos meus negócios, coordenando os meus administradores e advogados, nos Estados Unidos e na Europa, na busca de novos negócios que possam solucionar rapidamente a crise. Não estou, portanto, fora do Brasil.

Folha - O sr. já foi intimado a depor sobre a falência do Mappin?
Mansur -
Não.

Folha - Tanto o Banco Central, no caso do Crefisul, quanto a Justiça, no caso do Mappin, têm uma série de esclarecimentos a pedir. O sr. não acha que deveria estar aqui?
Mansur -
Assim que for chamado, prestarei todos os esclarecimentos necessários.

Folha - Pelas suas contas, quanto devem o Mappin, a Mesbla e o Crefisul?
Mansur -
Contas dependem de ajustes e de conciliações. Há patrimônio suficiente e estamos levantando o valor do passivo.

Folha - O que provocou a falência do Mappin?
Mansur -
A retirada, sem explicações e sem aviso prévio, do apoio do Bradesco, meu sócio naquela empresa. Já esclareci o quesito, por meio de meus advogados. A questão está "sub judice". Os detalhes estão expostos na ação que promovo.

Folha - E a quebra do Crefisul?
Mansur -
Crise passageira de liquidez, provocada por rumores infundados.

Folha - Quanto dinheiro o sr. perdeu nesses negócios?
Mansur -
Todo o meu patrimônio está à disposição dos credores do Crefisul e organizações.

Folha - Qual é o seu patrimônio pessoal?
Mansur -
O patrimônio do administrador e acionista de uma instituição financeira é a garantia dos credores desta.

Folha - Nos últimos meses, o sr. ou suas empresas transferiram para suas filhas vários imóveis, inclusive a casa no Morumbi onde o sr. mora quando está em São Paulo. A explicação registrada em cartório é dação por dívida. A que dívida com suas filhas o sr. estava se referindo?
Mansur -
O negócio foi, na verdade, uma permuta de patrimônio, sendo que representou menos de 2% do patrimônio da empresa, que foi recomposto, como demonstrei em nota publicada na imprensa.

Folha - O BC apurou que uma das suas empresas, a United Europe, com sede na Ilha da Madeira, tinha em janeiro cerca de US$ 50 milhões. Esse dinheiro foi investido numa outra empresa dos EUA e depois sumiu. O que aconteceu com a aplicação? Se o sr. devia tanto no Brasil por que foi investir lá fora?
Mansur -
O valor mencionado corresponde a lucros obtidos com operações de derivativos feitos no exterior. O valor não sumiu e o Banco Central tem documentos que demonstram a lisura das operações e estarei sempre pronto a prestar às autoridades os esclarecimentos necessários.

Folha - O Crefisul vendeu imóveis e empresas para firmas que ficam em paraísos fiscais. Essas firmas fazem parte do seu grupo?
Mansur -
Não, e jamais fizeram parte.

Folha - O sr. não acha que fez um negócio ruim para o Mappin ao trocar as ações do próprio Mappin e da Mesbla por créditos difíceis de serem cobrados do Crefisul?
Mansur -
Não. As ações não pertenciam ao Mappin ou a Mesbla, eram ações que pertenciam a mim particularmente ou às sociedades holdings, que me pertencem totalmente. Eu e as minhas holdings ficaram com esses créditos de liquidez não imediata, enquanto o banco Crefisul recebeu em troca um patrimônio valioso. As lojas não tiveram o seu patrimônio afetado.

Folha - O Bradesco sempre o apoiou, financiou seus negócios e agora o sr. está processando o banco. Como foi que esse relacionamento azedou?
Mansur -
O Bradesco era sócio do Mappin, tendo várias diretorias e uma participação muito ativa e intensa na administração da rede de lojas. De repente, por interesses que desconheço, mas injustificados, decidiu retirar o seu apoio financeiro. Pela sua atitude, estou processando o Bradesco e por se encontrar "sub judice" não posso aprofundar esta discussão, que está toda revelada na ação judicial.

Folha - O que o sr. pretende fazer da sua vida agora?
Mansur -
Ressarcir os credores do Crefisul, do Mappin e da Mesbla, prejudicados pela ação surpreendente do Bradesco, que, no final, deverá pagar os prejuízos que causou àqueles credores. Enquanto isso, procuro novos negócios para diminuir a aflição dos credores até que a Justiça possa decidir definitivamente.


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