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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Geopolítica dos impérios entra em crise
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
O destino da Rússia será decidido nos próximos meses. Os sinais
que continuam surgindo são assustadores. O presidente Ieltsin
foi explicitamente incriminado
num episódio de corrupção na semana passada.
Faz tempo que o império soviético ruiu, a queda do muro de Berlim completa dez anos daqui a um
mês, mas os efeitos do desmoronamento continuam fazendo vítimas nos mais altos círculos de poder. A perspectiva é de fortalecimento das forças armadas.
A China, até agora, tem resistido. Para alguns economistas, o
sucesso chinês deve-se à opção
gradualista que vinha sendo implementada. Mas os problemas
desse outro sistema de dimensão
e vocação imperial estão se agravando, assim como ocorreu na
União Soviética, na razão direta
da velocidade de liberalização.
A maioria dos analistas aponta
as empresas estatais chinesas como fonte e foco dos problemas.
Recomendam uma aceleração do
processo de privatização.
Isso pode fazer sentido do ponto de vista econômico, mas os técnicos ocidentais parecem esquecer que, por dentro das estatais, o
que existe é uma poderosa rede
controlada pelos militares. O desmonte econômico não se fará sem
um arranjo com esses setores.
Qualquer descuido nessa área
cria desequilíbrios no sistema de
poder que tendem a se tornar
mais perversos e desestruturantes
que os problemas econômicos
que, em tese, o desmonte do Estado pretendia resolver.
Há na China um Comitê Central
Militar (CCM), comandado pelo
presidente Jiang Zemin. No último dia 1 de setembro, o CCM reafirmou a predominância do Partido Comunista Chinês sobre o
Exército de Libertação do Povo.
Nesse tipo de sistema, um comunicado dessa natureza já é sinal de
que as coisas não andam bem.
O comunicado adverte para
uma certa dificuldade das forças
armadas, de natureza ideológica,
com relação à modernização segundo o princípio da "economia
de mercado socialista".
Claro que, por trás dessa dificuldade, o que está em jogo é a capacidade de o partido manter o controle sobre o Exército num momento de aceleração das reformas
e agravamento da crise econômica, a um mês da celebração dos 50
anos da Revolução Chinesa.
Há cerca de um ano, Jiang Zemin dava início ao desmonte do
poderio econômico dos militares.
São 15 mil empresas com receitas
anuais estimadas em US$ 25 bilhões, em comparação a um orçamento militar oficial de US$ 9,7
bilhões, segundo o Centro de Inteligência Global Stratfor.
A expansão dos interesses econômicos dos militares era uma
forma de aprofundar a revolução,
garantindo empregos sem sobrecarregar o orçamento fiscal.
O outro lado da moeda foi o aumento da corrupção e o gradual
desenvolvimento de conflitos de
interesse entre burocratas e militares.
Ainda segundo a Stratfor, desde
o momento em que Zemin começou a tentar desmontar o sistema
surgiram evidências cada vez
mais claras de que as informações
disponíveis não eram confiáveis.
Pior: setores militares estariam
rapinando o máximo antes de entregar os ativos apodrecidos para
o Partido Comunista.
O governo central, além de ficar
com o problema, passou a enfrentar duas pressões dos militares:
pelo aumento do orçamento do
setor e por compensações à devolução das empresas estatais.
Ou seja, a solução tão intensamente sugerida por economistas
e técnicos ocidentais teve o dom
de multiplicar os problemas, tanto econômicos quanto de ordem
militar e estratégica. E não apenas
internos, como revelam as tensões recentes com relação ao futuro de Taiwan.
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