|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DERROTA BRASILEIRA
Indicado por Lula, João Sayad é preterido
Ex-ministro argentino vai dirigir a Cepal
DO ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
O governo Luiz Inácio Lula
da Silva recebeu como uma bofetada a designação do economista argentino José Luis Machinea para secretário-executivo da Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina
e Caribe, agência das Nações
Unidas, em vez de João Sayad,
economista brasileiro indicado
pelo PT.
A especulação que circula no
Planalto é a de que uma das razões, talvez a principal, para o
veto a Sayad foi uma investigação sobre suas posições políticas, em que teria aparecido sua
oposição à Alca, na qual está
empenhado o governo norte-americano. Colunista da Folha,
Sayad foi secretário de Finanças de Marta Suplicy em São
Paulo e ministro do Planejamento de José Sarney.
Se verdadeira a avaliação, seria a segunda personalidade
brasileira a sofrer veto dos
EUA, nos últimos dois anos:
antes de Sayad, os EUA vetaram a permanência de Maurício Bustani no comando da
Opaq (Organização para a
Prescrição de Armas Químicas,
outra agência da ONU).
Não é apenas o desprezo à indicação de Sayad que irrita o
governo petista. Kofi Annan, o
secretário-geral da ONU e, como tal, responsável pelo preenchimento do cargo, vinha sendo interlocutor regular de Lula
e estava dando toda a atenção à
proposta do presidente brasileiro de criar um fundo mundial de combate à fome.
Choca o Planalto que Annan
tenha, em vez de Sayad, escolhido um economista que "vai
na contramão da tendência de
centro-esquerda que o eleitorado tem revelado na América
Latina", ouviu a Folha. Machinea foi presidente do BC no governo Raúl Alfonsín (1983/89)
e ministro da Economia de Fernando de la Rúa (1999/2001).
Ambos são da UCR, o mais tradicional partido argentino, e
foram obrigados a renunciar
pelo fracasso de suas políticas
econômicas.
Parece um contra-senso premiar com o principal posto
econômico internacional da
América Latina justamente
quem teve participação em políticas frustradas.
Machinea assume o posto
que pertencia, até setembro, a
José Antonio Ocampo, designado secretário-geral-adjunto
das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais.
A Folha procurou Sayad na
tarde de ontem. Sua secretária
informou que ele estava viajando e que tentaria localizá-lo.
Até o fechamento desta edição,
segundo ela, não havia sido
possível.
(CLÓVIS ROSSI)
Texto Anterior: Comércio mundial: Mercosul quer cotas para avançar com UE Próximo Texto: Energia: Universalização de luz terá R$ 7 bi Índice
|