São Paulo, quarta, 12 de novembro de 1997.




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TELECOMUNICAÇÃO
Fusão mais cara da história leva a nova empresa à vice-liderança nos EUA
WorldCom compra MCI por US$ 36,5 bi

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

A indústria da telecomunicação passou a ter uma nova configuração depois que a MCI aceitou a oferta de U$ 36,5 bilhões feita pela WorldCom para a fusão das duas, no negócio mais caro da história.
A ascensão da WorldCom, que tem como o cerne de seus negócios as redes físicas para transmissão de dados em vez da tradicional telefonia para voz, mostra que a Internet vai ocupar papel central na guerra do mercado de telecomunicações.
A MCI já é a segunda maior companhia telefônica internacional do mundo, logo após a AT&T, com uma fatia de 25% do mercado.
Junto com a WorldCom, vai ter um faturamento anual de U$ 32 bilhões, 70 mil empregados e presença em cerca de 200 países.
O negócio, que ainda ser precisa aprovado pelo governo dos EUA, liquida as chances, pelo menos a curto prazo, de a British Telecom (BT) se firmar como um dos grandes do mercado mundial de telecomunicações.
A BT esperava usar a MCI como o seu braço no hemisfério ocidental. Ela tem 20% das ações da MCI, que esperava transformar em mais da metade em 1997, mas que agora vai vender para a WorldCom por U$ 7 bilhões.
A fusão também mostra que a Lei de Telecomunicações de 1996 está tendo, por enquanto, efeitos muito diversos do que os previstos.
Quando a sancionou, o presidente Bill Clinton disse que ela iria revigorar a competição e beneficiar o consumidor com tarifas mais baixas.
O que se viu, por enquanto, foi uma série de fusões que, ao contrário, estão diminuindo a concorrência e poderão resultar em aumento de tarifas.
A nova WorldCom, da qual fazem parte as linhas utilizadas pelos dois maiores provedores de serviço de Internet nos EUA (America On Line e Compuserve), terá o virtual monopólio do setor e poderá acabar com o acesso à Internet por custos relativamente baixos para o consumidor.
O interesse da WorldCom pela MCI se deveu menos aos 25% do mercado de telefonia internacional e muito mais às redes para serviços de Internet que ela mantém fora dos EUA e de fibras óticas para transmissão de dados. A telefonia representará em 1997 apenas 25% das receitas da MCI.
O mercado mundial de telecomunicações é estimado atualmente em U$ 700 bilhões e tende a crescer com a privatização do setor em diversos países de economia emergente, entre eles o Brasil.
A líder do mercado ainda ainda é a AT&T, com faturamento anual de U$ 52 bilhões. Mas a nova MCI-WorldCom virá logo atrás, com U$ 32 bilhões, mais a aura de ousadia que agora cerca as atividades de seu líder, Bernard Ebbers.
Ebbers, claro, dizia ontem que o consumidor vai lucrar com o negócio. "O público vai ter uma companhia forte e agressiva, preparada para oferecer a melhor qualidade de serviço pelo menor preço." Mas muitos duvidam.
A WorldCom vai precisar de altos índices de lucratividade para poder saldar os compromissos que está assumindo ao incorporar a MCI. Ela está pagando pelas ações da MCI preço muito mais alto do que o de mercado. A oferta inicial, feita há um mês, de U$ 30 bilhões, teve que ser aumentado depois que a GTE a superou numa tentativa, frustrada, de ficar com a MCI.
Para isso, tarifas baixas talvez não venham a ser a prioridade da nova empresa. Como prova das dificuldades que terá, a WorldCom viu o valor de suas ações na bolsa de Nova York cair 8% ontem.



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