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FREADA
Sondagem da FGV mostra que 32% das empresas pretendem cortar vagas, e 11%, contratar, no pior resultado desde 1998
Indústria prevê demissões no início do ano
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O emprego industrial, que já
apresenta queda, deve se retrair
ainda mais neste trimestre.
De acordo com a Sondagem da
Indústria de Transformação divulgada ontem pela Fundação
Getulio Vargas, 32% das empresas entrevistadas pretendem reduzir o número de trabalhadores
contra apenas 11% que prevêem
aumentá-lo nos primeiros três
meses deste ano. É o pior resultado de expectativa do mercado de
trabalho da pesquisa, cuja metodologia atual foi adotada em 1998.
"A indústria estava em tendência de desaceleração. Mas agora é
possível que já estejamos no fundo do poço. Se houver recuperação, ela vai acontecer devagar.
Provavelmente, o primeiro trimestre vai ser fraco", disse Aloisio
Campelo, economista da FGV-RJ
responsável pela pesquisa.
A sondagem aponta ainda que a
tendência ruim para os trabalhadores da indústria é generalizada.
Houve piora dos prognósticos de
emprego nos quatro grandes setores: bens intermediário, bens de
capital, bens de consumo e material de construção.
Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), também argumenta
que dentro do setor de bens de
consumo, o segmento calçadista é
um dos mais afetados. Nesse caso,
o principal culpado pelo recuo
dos quadros de funcionários é o
câmbio. De acordo com o Sindifranca (representante da indústria calçadista do município paulista de Franca), aconteceram
4.500 demissões no ano passado.
A cidade é um dos principais pólos calçadistas do país.
Para Paulo Francini, diretor do
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo), a julgar pelo ânimo
dos empresários do setor industrial, a situação deve permanecer
em compasso de espera nos próximos meses. "Como se pode mudar de humor se não acontece nada de novo? Não surgiu nenhum
fato novo na economia para alterar as perspectivas do empresários." Segundo ele, a sondagem é
reflexo do "desânimo" originário
da política monetária e da apreciação do real.
Se confirmado esse cenário de
estagnação do emprego nos próximos meses, o governo Lula pode perder um dos seus grandes
trunfos eleitorais: o crescimento
do número de empregos. Pesquisa da Fiesp já apontou fechamento recorde de vagas em dezembro
(leia texto ao lado).
No ano passado, o ministro do
Trabalho, Luiz Marinho, projetou
fechar 2005 com a geração de 1,2
milhão de postos de trabalho. "A
grande variável econômica do governo Lula foi o aumento do emprego, mas a perspectiva é de demissões no primeiro semestre. A
recuperação deve ficar para o segundo semestre", afirmou o diretor-executivo do Iedi.
O cenário atual também é ruim
para outras variáveis. A sondagem revela que para 20% dos industriais, o nível atual de demanda (interna e externa) é considerado fraco. Para somente 9%, ela
está forte. Esse é o pior janeiro
desde 1999. Quanto à situação
atual dos negócios, ela é considerada boa para 16% das empresas e
fraca para 22% delas.
Quando os industriais olham
para um horizonte um pouco
mais distante, porém, as projeções se mostram mais animadas.
Isso, avaliam os analistas, parece
estar relacionado com a expectativa de redução das taxas de juros
pelo Banco Central. "O tempo de
defasagem entre um corte de juros e o reflexo na atividade industrial é de três a seis meses", disse
Campelo, o economista da FGV.
A questão que trata das previsões da situação dos negócios em
seis meses revela que para 55%
dos entrevistados ela será melhor
e para 12%, pior. Esses dados estão próximos da média histórica
para esse tipo de resposta.
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