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LUÍS NASSIF
Curto-circuito na AES
Na administração da
crise das elétricas, é importante que se separe o joio do trigo. Há uma crise conjuntural,
agravada por um modelo elétrico inconsistente. Mas há muita
esperteza escondida por trás dos
balanços.
É sintomático o comportamento da norte-americana AES
-que possui 53% do capital da
AES Tietê e 77,8% da AES Eletropaulo.
Apesar de acumular uma dívida de mais de R$ 6,2 bilhões, desde que foi privatizada, em 1998,
a AES Eletropaulo nunca deixou
de pagar dividendos à matriz.
Entre 98 e 2001, remeteu US$ 318
milhões a título de dividendos.
Em setembro, o diretor financeiro da Tietê, Paulo Dutra, chegou a defender a distribuição de
recursos, argumentando que a
empresa "gera mais caixa do
que utiliza" e não teria investimentos para fazer no curto prazo. Nadando em dinheiro, literalmente.
As remessas tornaram-se tão
ostensivas que, no ano passado,
debenturistas e bancos credores
entraram com ação judicial para que fossem suspensas até que
as dívidas fossem pagas. Tomaram essa atitude porque, em
abril de 2002, R$ 156 milhões haviam sido provisionados para remessa, apesar de a empresa ter
registrado prejuízo de R$ 146 milhões apenas no primeiro semestre, três vezes mais do que a perda do mesmo período do ano anterior.
A AES Tietê é financeiramente
saudável, mas está sendo sugada
de forma temerária, está sangrando a olhos vistos. No ano
passado, a AES Tietê distribuiu
R$ 275 milhões aos acionistas,
sendo que R$ 210 milhões foram
à custa de redução das reservas
de capital. Somente R$ 24 milhões vieram de juros pagos sobre capital próprio.
Desde a privatização, em 2000,
a AES Corp já recebeu R$ 393
milhões em dividendos da Tietê.
De lá para cá, o patrimônio líquido da geradora brasileira
caiu de R$ 698 milhões para R$
572 milhões. Em 2001, as remessas da Tietê somaram R$ 106 milhões, o que representou quase
140% do lucro líquido da companhia.
Em novembro passado, a AES
Tietê tentou nova redução de capital, dessa vez de R$ 50 milhões,
mas foi pressionada pela Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica) a não fazê-la. A empresa está sendo descapitalizada
para atender às necessidades da
matriz, que passa por crise financeira grave.
No terceiro trimestre do ano
passado, a AES Corporation
contabilizou prejuízo de US$ 314
milhões, ante lucro de US$ 3 milhões no mesmo período do ano
anterior. No acumulado do ano,
o prejuízo chega a US$ 743 milhões. No final do ano passado,
as dívidas da empresa somavam
US$ 22,3 bilhões.
Trata-se, portanto, de um caso
a ser analisado à parte. De preferência, na presença do Jurídico.
MCT
Quando o governo Lula acordar, será tarde. Está ocorrendo
um desmonte no Ministério de
Ciência e Tecnologia, que dificilmente será invertido. Dez anos
de avanços da sociedade brasileira, da comunidade científica,
do meio empresarial estão indo
para o ralo.
Mais cedo ou mais tarde essa
conta será cobrada -e como!-
do governo Lula.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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