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São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

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LUÍS NASSIF

Curto-circuito na AES

Na administração da crise das elétricas, é importante que se separe o joio do trigo. Há uma crise conjuntural, agravada por um modelo elétrico inconsistente. Mas há muita esperteza escondida por trás dos balanços.
É sintomático o comportamento da norte-americana AES -que possui 53% do capital da AES Tietê e 77,8% da AES Eletropaulo.
Apesar de acumular uma dívida de mais de R$ 6,2 bilhões, desde que foi privatizada, em 1998, a AES Eletropaulo nunca deixou de pagar dividendos à matriz. Entre 98 e 2001, remeteu US$ 318 milhões a título de dividendos.
Em setembro, o diretor financeiro da Tietê, Paulo Dutra, chegou a defender a distribuição de recursos, argumentando que a empresa "gera mais caixa do que utiliza" e não teria investimentos para fazer no curto prazo. Nadando em dinheiro, literalmente.
As remessas tornaram-se tão ostensivas que, no ano passado, debenturistas e bancos credores entraram com ação judicial para que fossem suspensas até que as dívidas fossem pagas. Tomaram essa atitude porque, em abril de 2002, R$ 156 milhões haviam sido provisionados para remessa, apesar de a empresa ter registrado prejuízo de R$ 146 milhões apenas no primeiro semestre, três vezes mais do que a perda do mesmo período do ano anterior.
A AES Tietê é financeiramente saudável, mas está sendo sugada de forma temerária, está sangrando a olhos vistos. No ano passado, a AES Tietê distribuiu R$ 275 milhões aos acionistas, sendo que R$ 210 milhões foram à custa de redução das reservas de capital. Somente R$ 24 milhões vieram de juros pagos sobre capital próprio.
Desde a privatização, em 2000, a AES Corp já recebeu R$ 393 milhões em dividendos da Tietê. De lá para cá, o patrimônio líquido da geradora brasileira caiu de R$ 698 milhões para R$ 572 milhões. Em 2001, as remessas da Tietê somaram R$ 106 milhões, o que representou quase 140% do lucro líquido da companhia.
Em novembro passado, a AES Tietê tentou nova redução de capital, dessa vez de R$ 50 milhões, mas foi pressionada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a não fazê-la. A empresa está sendo descapitalizada para atender às necessidades da matriz, que passa por crise financeira grave.
No terceiro trimestre do ano passado, a AES Corporation contabilizou prejuízo de US$ 314 milhões, ante lucro de US$ 3 milhões no mesmo período do ano anterior. No acumulado do ano, o prejuízo chega a US$ 743 milhões. No final do ano passado, as dívidas da empresa somavam US$ 22,3 bilhões.
Trata-se, portanto, de um caso a ser analisado à parte. De preferência, na presença do Jurídico.

MCT
Quando o governo Lula acordar, será tarde. Está ocorrendo um desmonte no Ministério de Ciência e Tecnologia, que dificilmente será invertido. Dez anos de avanços da sociedade brasileira, da comunidade científica, do meio empresarial estão indo para o ralo.
Mais cedo ou mais tarde essa conta será cobrada -e como!- do governo Lula.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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