São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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"Fiz o que pude", diz ex-presidente

DA REPORTAGEM LOCAL

Um pouco abatido, Ricardo Gonçalves, 53, agora ex-presidente da Parmalat, faz questão de ressaltar que não contesta a decisão da Justiça, diz que fez "o melhor" na tentativa de recuperar a empresa, mas que, mesmo assim, "não deu". Ele diz que não sabe ainda se volta. Abaixo, trechos da entrevista para a Folha. (AM)
 

Folha - Como o senhor recebeu a decisão judicial?
Ricardo Gonçalves -
Olha, para ser sincero, estava em casa e quase às 21h um oficial bateu na porta da minha casa. Fiquei constrangido. É meio chato tudo isso. Estava fazendo uma força danada, empenhado mesmo em achar um caminho e, de repente, tive de sair. Não acho que tenha havido falha, erro da Justiça. A ela compete investigar e tirar suas conclusões. Eu não tenho nada a esconder. Já mostramos com documentos que a Parmalat Alimentos não mandou dinheiro para fora.

Folha - Os advogados devem entrar com recurso contra a decisão de destituir os executivos. O senhor volta para a Parmalat?
Gonçalves -
Depende. Fica difícil saber o que fazer agora, a cada dia as coisas mudam. Não sei se volto porque, de repente, os advogados podem aconselhar esse caminho. Acho difícil "hipotetizar"...

Folha - Sua carta de renúncia estava pronta, pelo que a Folha apurou, antes da decisão judicial. Se a sua volta for permitida, porque o senhor voltaria para a empresa?
Gonçalves -
Entendo o seu raciocínio e aonde quer chegar. É verdade que minha carta de renúncia foi escrita às 18h de quarta, antes de eu ser informado da decisão do juiz. Mas não quero ficar levantando passos futuros porque não sei o que acontecerá.

Folha - Quais eram os seus planos para a empresa? Falava-se em demissões na Parmalat.
Gonçalves -
Estávamos vendo a possibilidade de novos recursos, mas não necessariamente com bancos. Poderíamos buscar o caminho da parceria com outras empresas interessadas em investir. Havia a questão do arrendamento das fábricas, que já estava sendo debatida. Discutimos um plano de demissões fortes, profundas, mas não de forma generalizada. Não pensamos em demitir um bando de gente, com salários baixos, com peso zero na folha de pagamento. Havia um planejamento de reduzir em 25% os cargos de direção. Mas não estou mais lá, não posso responder pelas futuras decisões ou se o que foi estudado será feito.

Folha - Por que a empresa chegou a essa situação?
Gonçalves -
Dependíamos de recursos da matriz para manter a operação porque a empresa não era lucrativa. Havia a expectativa de conseguir o primeiro lucro neste ano, após anos no prejuízo. Com a intervenção na Itália, paramos de receber recursos, ninguém quer emprestar e as linhas de bancos foram fechadas. Fiz o que pude, como executivo contratado, com carimbo em carteira de trabalho, sendo pago para isso.

Folha - A decisão da Justiça de intervir pode acelerar a sua quebra?
Gonçalves -
Não estou aqui para julgar o que a Justiça determinou. Acho até que eles (interventores) podem achar um caminho.


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