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"Fiz o que pude", diz ex-presidente
DA REPORTAGEM LOCAL
Um pouco abatido, Ricardo
Gonçalves, 53, agora ex-presidente da Parmalat, faz questão de ressaltar que não contesta a decisão
da Justiça, diz que fez "o melhor"
na tentativa de recuperar a empresa, mas que, mesmo assim,
"não deu". Ele diz que não sabe
ainda se volta. Abaixo, trechos da
entrevista para a Folha.
(AM)
Folha - Como o senhor recebeu a
decisão judicial?
Ricardo Gonçalves - Olha, para
ser sincero, estava em casa e quase
às 21h um oficial bateu na porta
da minha casa. Fiquei constrangido. É meio chato tudo isso. Estava
fazendo uma força danada, empenhado mesmo em achar um caminho e, de repente, tive de sair.
Não acho que tenha havido falha,
erro da Justiça. A ela compete investigar e tirar suas conclusões.
Eu não tenho nada a esconder. Já
mostramos com documentos que
a Parmalat Alimentos não mandou dinheiro para fora.
Folha - Os advogados devem entrar com recurso contra a decisão
de destituir os executivos. O senhor volta para a Parmalat?
Gonçalves - Depende. Fica difícil
saber o que fazer agora, a cada dia
as coisas mudam. Não sei se volto
porque, de repente, os advogados
podem aconselhar esse caminho.
Acho difícil "hipotetizar"...
Folha - Sua carta de renúncia estava pronta, pelo que a Folha apurou, antes da decisão judicial. Se a sua volta for permitida, porque o
senhor voltaria para a empresa?
Gonçalves - Entendo o seu raciocínio e aonde quer chegar. É verdade que minha carta de renúncia
foi escrita às 18h de quarta, antes
de eu ser informado da decisão do
juiz. Mas não quero ficar levantando passos futuros porque não
sei o que acontecerá.
Folha - Quais eram os seus planos
para a empresa? Falava-se em demissões na Parmalat.
Gonçalves - Estávamos vendo a
possibilidade de novos recursos,
mas não necessariamente com
bancos. Poderíamos buscar o caminho da parceria com outras
empresas interessadas em investir. Havia a questão do arrendamento das fábricas, que já estava
sendo debatida. Discutimos um
plano de demissões fortes, profundas, mas não de forma generalizada. Não pensamos em demitir
um bando de gente, com salários
baixos, com peso zero na folha de
pagamento. Havia um planejamento de reduzir em 25% os cargos de direção. Mas não estou
mais lá, não posso responder pelas futuras decisões ou se o que foi
estudado será feito.
Folha - Por que a empresa chegou
a essa situação?
Gonçalves - Dependíamos de recursos da matriz para manter a
operação porque a empresa não
era lucrativa. Havia a expectativa
de conseguir o primeiro lucro
neste ano, após anos no prejuízo.
Com a intervenção na Itália, paramos de receber recursos, ninguém quer emprestar e as linhas
de bancos foram fechadas. Fiz o
que pude, como executivo contratado, com carimbo em carteira
de trabalho, sendo pago para isso.
Folha - A decisão da Justiça de intervir pode acelerar a sua quebra?
Gonçalves - Não estou aqui para
julgar o que a Justiça determinou.
Acho até que eles (interventores)
podem achar um caminho.
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