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Exportação de carne ultrapassa a de soja
Governo avalia que números de janeiro indicam nova tendência; para produtores, ainda é cedo para essa conclusão
Desempenho neste ano depende dos efeitos do embargo europeu contra
cortes bovinos brasileiros, exportados para 150 países
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As exportações brasileiras do
complexo de carnes -bovinos,
aves e suínos- ultrapassaram
as vendas de soja e seus derivados no mês passado e se tornaram a principal commodity exportada pelo país. Os números
iniciam uma nova tendência do
agronegócio brasileiro, na avaliação do governo federal.
Segundo produtores, por outro lado, ainda é cedo para prever o comportamento dos produtos neste ano. A balança comercial do agronegócio fechou
o mês de janeiro com exportações de US$ 4,3 bilhões e importações de US$ 1,02 bilhão.
"O Brasil hoje é o único exportador de carne do mundo
com a facilidade de obter clientes pela capilaridade e pela
competitividade que possui",
disse Antenor Nogueira, presidente do Fórum Permanente
de Pecuária de Corte da CNA
(Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil).
Em janeiro, as exportações
de carne tiveram um crescimento de 25,5% e chegaram a
US$ 898 milhões. O complexo
soja -grão, farelo e óleo- vendeu US$ 678 milhões. Em relação a janeiro do ano passado, o
aumento foi de 94,6%.
A tendência começou a se desenhar no ano passado, quando
o Brasil vendeu US$ 11,381 bilhões do complexo soja, contra
US$ 11,295 bilhões, de carnes.
Em 2007, o ritmo de expansão
das exportações de carnes
(30,7%) também foi superior
ao de soja (22,3%).
Segundo Christian Lohbauer, presidente da Abef (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango), a carne brasileira deve parte de seu bom preço aos insumos, como milho e soja, que são
produzidos em larga escala no
país, o que contribui para segurar o preço.
"Milho e soja representam
70% do custo de produção da
carne e o Brasil tem os dois. Por
isso o frango tem competitividade para repassar o custo para
o produto", afirmou.
Segundo Lohbauer, o frango
brasileiro é vendido para mais
de cem países. A carne bovina é
exportada para mais de 150 diferentes destinos.
O secretário-executivo do
Ministério da Agricultura, Silas
Brasileiro, nega relação da expansão da pecuária com o desmatamento. "Estamos estimulando a recuperação de pastagens degradadas com financiamentos", disse.
Performance em 2008
Ainda há fortes dúvidas sobre o desempenho das carnes
neste ano, principalmente devido à suspensão de importações pela União Européia desde o dia 1º.
Os altos preços de commodities no mercado internacional
impulsionam as vendas brasileiras de ambos os produtos.
No caso das carnes, o aumento
do consumo também impulsiona o deslocamento de pastagens para regiões próximas à
floresta amazônica.
No final do ano passado, o gado avançou sobre o sul do Estado do Pará e o desmatamento
na região causou uma crise no
governo. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), houve aumento de
18% no desmatamento de novembro. Para a ONG Imazon,
porém, o aumento foi muito
maior, de 74%.
Governo e produtores dizem
que o gado que pasta na floresta
amazônica não tem a carne exportada. O problema é que não
há instrumentos eficazes em
vigor para assegurar isso. O
principal exemplo é a suspensão de vendas para a União Européia, desde o dia 1º, porque
há falhas e problemas na rastreabilidade dos bovinos do
país.
Tradicionalmente, o plantio
de soja representava o vilão do
desmatamento com a derrubada da floresta de Mato Grosso
em direção a Rondônia.
Números divulgados ontem
pela Companhia Nacional de
Abastecimento, do Ministério
da Agricultura, indicam que a
área plantada de soja aumentou 9,6% na região Norte (sendo 8,4% em Rondônia, 10,6%
no Pará e 12% no Tocantins) e
2,8% no Centro-Oeste.
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