São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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FMI sugere afrouxamento de metas de inflação

CHRIS GILES
DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES

Economistas do FMI desafiaram a ortodoxia econômica ontem ao sugerir que muitas das ferramentas de política econômica existentes antes da crise deveriam ser reformadas. Estudo interno da instituição, que traz entre seus co-autores seu economista-chefe, Olivier Blanchard, afirma que a crise econômica e financeira "expôs falhas na estrutura básica de política econômica existente antes da crise".
As sugestões apresentadas incluem elevar as metas de inflação de 2% para 4% ao ano, de modo que a política monetária possa responder melhor aos choques; pagamentos automáticos de benefícios às famílias mais pobres caso o desemprego exceda um limite e intervenção cambial para as economias menores que dependam do comércio externo.
Blanchard, no entanto, reconhece que não existe ímpeto político em apoio a muitas dessas ideias. A sugestão de que as metas inflacionárias sejam elevadas a 4% fará com que dirigentes de bancos centrais engasguem no café da manhã, porque passaram suas carreiras conquistando a credibilidade de metas em torno dos 2%.
Blanchard disse que a ideia de elevar as metas inflacionárias não deveria ser vista como abstrusa. O economista reconheceu que inflação e taxas de juros mais altas, em tempos normais, acarretariam custos, mas que poderiam valer a pena, já que isso tornaria a política monetária mais efetiva em momentos de crise.
Além das metas inflacionárias mais altas, o estudo sugeria oferecer aos dirigentes de bancos centrais "ferramentas regulatórias cíclicas", incluindo razões de capitalização bancárias que permitiriam alterar o nível de endividamento, limites nos empréstimos a fim de controlar a captação interna nos mercados hipotecários e requerimentos de margem que ofereceriam algum controle sobre as ações.
Os juros foram por décadas a única ferramenta dos bancos centrais. Alguns economistas sugeriram que elas fossem usadas de forma mais ativa para combater as tendências vigentes nos mercados de crédito, mas Blanchard rejeitou essa abordagem vigorosamente.
O estudo reconhece que a política fiscal se tornou uma ferramenta vital de estímulo à demanda durante a crise e diz que seu sucesso deveria ser formalizado com medidas como "transferências temporárias dirigidas a domicílios de baixa renda ou liquidez restrita".
Muitos mercados deveriam deixar de dizer que simplesmente seguiram suas metas inflacionárias, quando políticas de estabilização de câmbio se mostram "mais sensatas que sua retórica", afirmou.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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