São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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China volta a apertar crédito e afeta Bolsas

Pela 2ª vez no ano, país eleva parcela de recursos que bancos devem manter depositados; medida visa frear expansão da economia

Governo teme bolhas imobiliárias e acionárias; desaceleração na economia chinesa pode afetar as exportações brasileiras

27.jan.10 -Reuters
Investidores à frente de painel com informações sobre ações em corretora em Xangai; compulsório é elevado em 0,5 ponto percentual

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O Banco Popular da China decidiu elevar o depósito compulsório bancário em 0,5 ponto percentual a partir do dia 25. É a segunda vez no ano em que o banco central do país aumenta o compulsório, depois do 0,5 ponto percentual em janeiro.
Após o aumento anunciado ontem, os grandes bancos serão obrigados a manter 16,5% de seus depósitos em reserva.
A medida indica que o governo chinês ainda não conseguiu frear a expansão do crédito que foi a tônica do plano de estímulo à economia do ano passado, quando o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 8,7%, a maior alta entre as 20 maiores economias do mundo.
O anúncio afetou as Bolsas de Valores pelo mundo. A Bovespa recuou 0,41%, após quatro sessões consecutivas de alta. Na Europa, Londres recuou 0,37%, e Paris, 0,49%. Nos Estados Unidos, o Dow Jones recuou 0,44%. A Bolsa de Xangai subiu 1,1%, mas já estava fechada quando houve o anúncio.
Em 2009, os bancos estatais concederam 9,6 trilhões de yuans (R$ 2,4 trilhões, 85% do PIB brasileiro) em empréstimos, quase duas vezes e meia o total concedido em 2008 (o equivalente a R$ 1 trilhão).
A medida vem logo antes do feriado prolongado do Ano Novo Lunar da China, quando os mercados financeiros locais estarão fechados. As cooperativas de crédito rural e as pequenas empresas financeiras não serão afetadas pela decisão.
Uma freada no crescimento chinês -o governo teme bolhas imobiliárias e acionárias e hiperaquecimento- pode afetar as exportações do Brasil. Mais de 90% das vendas do país ao exterior são matérias-primas que alimentam a expansão chinesa, como ferro e derivados.
No ano passado, a China se tornou o maior mercado para as exportações brasileiras, com vendas de US$ 20,1 bilhões (o segundo mercado, os EUA, ficou com US$ 15 bilhões).
Após vários anos de deficit com os chineses, o Brasil teve superavit de US$ 4,2 bilhões -enquanto teve saldo negativo com os EUA, de US$ 5 bilhões.

Mas, por enquanto, o governo exibe números de que a recuperação da economia é forte, por isso é possível desacelerar. As exportações em janeiro subiram 21% em relação ao mesmo mês do ano passado, e as importações tiveram alta de 85,5% -boa parte delas alimenta a indústria exportadora chinesa em peças e insumos.
A maioria dos bancos em Hong Kong estima o crescimento do PIB chinês em 2010 entre 9,5% e 10%.
"A mensagem é clara, a política responde a conter expectativas de mais inflação e o risco de bolhas imobiliárias e de investimentos", diz Jing Ulrich, diretora do JPMorgan em Hong Kong.

Inflação
A inflação dos preços ao consumidor em janeiro, de 1,5%, foi menor que a esperada, mas os preços ao produtor subiram 4,3% em relação a janeiro do mesmo ano. Preços de imóveis nas 70 maiores cidades do país subiram 9,5% em janeiro, depois de 1,3% em dezembro.
No mês passado, apesar do discurso governamental de desacelerar a concessão de crédito, foi emprestado 1,39 trilhão de yuans, mais que novembro e dezembro juntos, o que pediu a nova intervenção do Banco Popular da China.
O início do ano é uma época tradicional para a concessão de empréstimos no país, às vésperas do Ano Novo Chinês. Por não haver férias remuneradas, a semana do feriado prolongado, chamada de "Festival da Primavera", é a oportunidade de centenas de milhões de chineses visitarem suas famílias, distribuírem presentes aos parentes e descansarem.
Em fevereiro, 2,5 bilhões de viagens são realizadas por conta do Ano Novo Chinês.


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