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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Ipea eleva de 9% para 12,6% a estimativa do IPCA deste ano e prevê PIB com "fraco" desempenho no próximo

Inflação alta complica crescimento até 2004

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revisou para cima sua projeção para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano -de 9% para 12,6%- e já considera que 2004 também terá crescimento econômico modesto justamente por causa da inflação.
A previsão para 2003 supera a meta ajustada do governo, de 8,5%. Para 2004, a estimativa é de um IPCA, índice que baliza a meta oficial, de 9,1%.
"O ano de 2004 ainda será fraco. A questão inflacionária ainda será grave e controlar a inflação será o maior desafio do governo, com políticas fortes para reverter [a alta da" a inflação", afirmou o economista Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea, órgão do Ministério do Planejamento.
Ele acrescentou que a preocupação com a disparada da inflação irá fazer com que o governo mantenha uma política monetária "dura" e de juros altos, o que restringirá o crescimento tanto neste ano como em 2004.
O Ipea estima crescimento do PIB de 1,8% neste ano. Para 2004, a estimativa é de expansão de 2,8%, o que Levy considerou como um desempenho "fraco".
O economista avalia que, para o governo conseguir atingir a meta de inflação traçada para este ano, terá duas opções: ou aumentar ainda mais o aperto fiscal ou elevar novamente a taxa básica de juros, fixada hoje em 26,5% ao ano.
Segundo Levy, a expectativa é que os juros fiquem no atual patamar até junho. A partir daí, começaria a cair 0,5 ponto percentual a cada mês, chegando a de 23% em dezembro. Na média do ano, a taxa ficaria em 25,2%.
Apesar das previsões, o economista não descarta que o Banco Central opte por voltar a subir a taxa básica de juros.
No campo fiscal, o governo Lula já ampliou a meta de superávit primário (receitas menos despesas, excluído o pagamento dos juros da dívida) de 3,75% para 4,25% do PIB, realizando um amplo corte de gastos públicos.
A maior preocupação do BC, diz Levy, é com o comportamento do câmbio, principal fator a pressionar a inflação. Isso porque espera-se que o dólar se mantenha valorizado, o que seria uma fonte constante de alta da inflação.
Na média deste ano o Ipea estima que o dólar fique em R$ 3,54, praticamente no mesmo nível que está hoje. Para 2004, é esperado apenas um pequeno recuo, para R$ 3,43.

Ação tardia
Segundo Levy, o BC demorou no ano passado -na época, o país atravessava um período eleitoral- a tomar a decisão de aumentar os juros. Só no final de setembro, quando os índices de inflação já davam sinais de alta, é que o BC subiu a taxa -de 17% para 21% ao ano.
Na visão de Levy, essa decisão já deveria ter sido tomada antes, a julgar pelo comportamento da inflação. Ele só não quis afirmar quando o BC deveria ter iniciado a subida dos juros. "Houve uma reação tardia do BC na elevação da taxa de juros no ano passado."
Para o economista do Ipea, o BC se baseia muito nas estimativas de inflação futura do mercado, captadas pelo Boletim Focus, que é elaborado pelo próprio banco com informações de instituições financeiras. As previsões, diz, sempre ficam abaixo da inflação verificada depois. Pela estimativa do Focus, o IPCA dos próximos 12 meses deve ficar em 11,21%.

Boas notícias
Nem tudo é sombrio nas projeções do Ipea. Segundo o instituto, a balança comercial deve fechar o ano com superávit de US$ 16,2 bilhões -mais do que os US$ 13,1 bilhões de 2002.
Graças ao aumento do saldo da balança comercial, o país irá reduzir sua vulnerabilidade externa neste ano -ou seja, diminuir sua necessidade de financiamento no exterior. O déficit da conta corrente, que abriga as principais entradas e saídas de recursos do país, cairá de US$ 7,8 bilhões para US$ 4,9 bilhões.


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