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POLÍTICA INDUSTRIAL
Para entidade, governo deverá oferecer atrativos para obter investimento externo
País terá que 'barganhar' com múltis, diz Sobeet
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Se quiser manter o Brasil como
destino de investimento direto estrangeiro, converter o país em
uma plataforma de exportações
ou no mínimo aliviar a dependência externa em setores estratégicos, o governo terá que ""barganhar" com as matrizes das grandes empresas globais.
Barganhar significa oferecer
atrativos, inclusive fiscais, que vão
além da taxa de câmbio (real desvalorizado resulta em produtos
brasileiros mais baratos em dólares) e do tamanho do potencial
mercado de consumidores. Essa
avaliação foi feita pela Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de
Empresas Transnacionais e da
Globalização Econômica) ao
apresentar relatório sobre o investimento direto estrangeiro e a
participação de empresas com capital externo nas exportações.
""A produção está globalizada.
As decisões estratégicas não estão
mais em mãos do Estado, e sim de
empresas transnacionais que, na
maioria das vezes, têm sede em
outro país, e não onde fizeram determinado investimento", argumenta Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet. ""Isso
obriga o Brasil a abrir um canal de
diálogo com essas empresas e
usar o poder de barganha. Todos
os países em desenvolvimento
têm usado de política deliberada
para incentivar a produção local."
A importância das empresas estrangeiras no comércio exterior
brasileiro se evidencia a partir de
dados do Censo de Capitais do
BC. Em 1995, dos US$ 46,506 bilhões em exportações, as empresas com capital estrangeiro foram
responsáveis por US$ 21,745 bilhões (46,8%). Em 2000, de US$
60,4 bilhões em vendas externas,
US$ 33,250 bilhões (60,4%) couberam a essas companhias.
O comércio intrafirmas em 1995
representava 19,5% das exportações (totais) brasileiras. Em 2000,
chegava a 38,2%. O exemplo típico desse comércio são as montadoras de automóveis. Nos últimos
cinco anos, novas montadoras
desembarcaram no país. A capacidade instalada de produção passou de 2,5 milhões para 3,5 milhões de veículos ao ano, mas o
mercado interno não absorveu
mais que 1,4 milhão em 2002. A
saída foi ampliar exportações.
""Daí a necessidade de uma política que não apenas use a capacidade instalada, mas incentive setores deficientes, como o químico e
de eletroeletrônicos", disse.
Divisão do bolo
O fluxo de capital estrangeiro e
o estoque (soma do capital mantido no país mais novos investimentos) sofreu sensível mudança
no decorrer dos anos 90.
Até 1995, dos US$ 41,696 bilhões
de capital estrangeiro investido
no país, 66,9% estava no setor industrial e não mais que 30,9% no
setor de serviços.
Em 2000, o setor de serviços
concentrava 64% dos US$ 103,014
bilhões de capital externo no Brasil. A mudança brusca ocorreu
porque o processo de privatização atingiu setores de serviços,
como telefonia. O segundo motivo é que o câmbio sobrevalorizado (até 1999) desencorajava o investimento no setor produtivo.
A desvalorização do real e a
freada nas privatizações marcam
a "reacomodação" do IDE. Entre
janeiro de 2001 e janeiro passado,
dos US$ 40,592 bilhões que ingressaram no Brasil, 36,8% foram
à industria, e 57,9%, aos serviços.
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