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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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POLÍTICA INDUSTRIAL

Para entidade, governo deverá oferecer atrativos para obter investimento externo

País terá que 'barganhar' com múltis, diz Sobeet

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se quiser manter o Brasil como destino de investimento direto estrangeiro, converter o país em uma plataforma de exportações ou no mínimo aliviar a dependência externa em setores estratégicos, o governo terá que ""barganhar" com as matrizes das grandes empresas globais.
Barganhar significa oferecer atrativos, inclusive fiscais, que vão além da taxa de câmbio (real desvalorizado resulta em produtos brasileiros mais baratos em dólares) e do tamanho do potencial mercado de consumidores. Essa avaliação foi feita pela Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) ao apresentar relatório sobre o investimento direto estrangeiro e a participação de empresas com capital externo nas exportações.
""A produção está globalizada. As decisões estratégicas não estão mais em mãos do Estado, e sim de empresas transnacionais que, na maioria das vezes, têm sede em outro país, e não onde fizeram determinado investimento", argumenta Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet. ""Isso obriga o Brasil a abrir um canal de diálogo com essas empresas e usar o poder de barganha. Todos os países em desenvolvimento têm usado de política deliberada para incentivar a produção local."
A importância das empresas estrangeiras no comércio exterior brasileiro se evidencia a partir de dados do Censo de Capitais do BC. Em 1995, dos US$ 46,506 bilhões em exportações, as empresas com capital estrangeiro foram responsáveis por US$ 21,745 bilhões (46,8%). Em 2000, de US$ 60,4 bilhões em vendas externas, US$ 33,250 bilhões (60,4%) couberam a essas companhias.
O comércio intrafirmas em 1995 representava 19,5% das exportações (totais) brasileiras. Em 2000, chegava a 38,2%. O exemplo típico desse comércio são as montadoras de automóveis. Nos últimos cinco anos, novas montadoras desembarcaram no país. A capacidade instalada de produção passou de 2,5 milhões para 3,5 milhões de veículos ao ano, mas o mercado interno não absorveu mais que 1,4 milhão em 2002. A saída foi ampliar exportações. ""Daí a necessidade de uma política que não apenas use a capacidade instalada, mas incentive setores deficientes, como o químico e de eletroeletrônicos", disse.

Divisão do bolo
O fluxo de capital estrangeiro e o estoque (soma do capital mantido no país mais novos investimentos) sofreu sensível mudança no decorrer dos anos 90.
Até 1995, dos US$ 41,696 bilhões de capital estrangeiro investido no país, 66,9% estava no setor industrial e não mais que 30,9% no setor de serviços.
Em 2000, o setor de serviços concentrava 64% dos US$ 103,014 bilhões de capital externo no Brasil. A mudança brusca ocorreu porque o processo de privatização atingiu setores de serviços, como telefonia. O segundo motivo é que o câmbio sobrevalorizado (até 1999) desencorajava o investimento no setor produtivo.
A desvalorização do real e a freada nas privatizações marcam a "reacomodação" do IDE. Entre janeiro de 2001 e janeiro passado, dos US$ 40,592 bilhões que ingressaram no Brasil, 36,8% foram à industria, e 57,9%, aos serviços.


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