São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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Google melhora ferramenta de tradução e avança no setor

Empresa usa poderio tecnológico para ampliar o serviço, que abrange 52 idiomas

Esforços do Google para se expandir nem sempre encontram sucesso, como no caso do impasse jurídico sobre a digitalização de livros

MIGUEL HELFT
DO "NEW YORK TIMES"

Em uma reunião no Google em 2004, a discussão girava em torno de um e-mail recebido pela empresa de um fã da Coreia do Sul. Sergey Brin, um dos criadores da companhia, usou um serviço automatizado de tradução para tentar decifrar a mensagem. O resultado foi: "O peixe cru fatiado sapatos deseja. Google coisa cebola verde!".
Brin argumentava que o Google tinha a obrigação de fazer melhor. Seis anos depois, o serviço gratuito Google Translate (translate.google.com) trabalha com 52 idiomas, mais que qualquer rival, e as pessoas o empregam centenas de milhões de vezes por semana.
"O que você vê no Google Translate é o que há de mais avançado" na tradução computadorizada, ao menos nas formas não limitadas a um tema específico, disse Alon Lavie, professor no Instituto de Tecnologia da Linguagem da Universidade Carnegie Mellon.
Os esforços do Google para se expandir a outras áreas que não a de buscas na web nem sempre encontram sucesso. O projeto de digitalização de livros enfrenta um impasse jurídico, e a introdução do Buzz, seu serviço de redes sociais, despertou temores quanto à privacidade dos usuários. O padrão sugere que a empresa pode ocasionalmente tropeçar quando tenta desafiar as tradições do mundo dos negócios e as convenções culturais.
Mas a rápida ascensão do Google ao escalão mais alto do negócio da tradução é um lembrete daquilo que pode acontecer quando emprega a força bruta de seu poderio de computação para resolver problemas complexos.
A rede de centrais de processamento de dados que a empresa criou para suas buscas talvez se tenha tornado, quando operando de forma integrada, o maior computador do mundo. E o Google emprega essa máquina para redefinir os limites da tecnologia de tradução. No mês passado, por exemplo, disse que está trabalhando para combinar a ferramenta de tradução a um recurso de análise de imagem, para permitir que uma pessoa tire, por exemplo, uma foto de um cardápio de restaurante escrito em alemão e consiga tradução instantânea para o inglês.
"A tradução mecânica é uma das melhores demonstrações da visão estratégica do Google", disse Tim O'Reilly, da O'Reilly Media, editora especializada em tecnologia. "Ele compreende um fato que ninguém mais compreende com relação aos dados e está disposto a fazer os investimentos necessários a resolver problemas complexos como esse antes do mercado."
Criar uma máquina de tradução vem sendo há muito um dos mais difíceis desafios no campo da inteligência artificial. Por décadas, os cientistas tentaram desenvolver uma abordagem baseada em regras, ou seja, ensinar a um computador as regras linguísticas de dois idiomas e fornecer a ele os dicionários necessários.
Mas, por volta da metade dos anos 90, pesquisadores começaram a preferir a chamada abordagem estatística. Constataram que, caso alimentassem um computador com milhares ou milhões de trechos e traduções humanas, a máquina poderia "aprender" a fazer palpites acurados sobre como esses textos deveriam ser traduzidos.
E ao que parece essa técnica, que requer imenso volume de dados e muita potência de computação, é perfeitamente adequada ao Google.
"Nossa infraestrutura está muito bem adaptada a isso", disse Vic Gundotra, vice-presidente do Google. "Podemos adotar abordagens que outras companhias nem sonhariam."
Os sistemas automatizados de tradução estão longe de perfeitos e nem mesmo o do Google eliminará a necessidade de tradutores humanos, pelo menos em prazo previsível. Os especialistas afirmam que é extremamente difícil para um computador dividir uma sentença em partes, traduzi-la e depois remontá-la. Mas o serviço do Google é bom o suficiente para transmitir a essência de um artigo jornalístico.
Franz Och, cientista que comanda os esforços de tradução mecânica do Google, reconheceu que o serviço ainda precisa melhorar, mas afirmou que os avanços vêm sendo rápidos.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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