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Google melhora ferramenta de tradução e avança no setor
Empresa usa poderio tecnológico para ampliar o serviço, que abrange 52 idiomas
Esforços do Google para se expandir nem sempre encontram sucesso, como no caso do impasse jurídico sobre a digitalização de livros
MIGUEL HELFT
DO "NEW YORK TIMES"
Em uma reunião no Google
em 2004, a discussão girava em
torno de um e-mail recebido
pela empresa de um fã da Coreia do Sul. Sergey Brin, um dos
criadores da companhia, usou
um serviço automatizado de
tradução para tentar decifrar a
mensagem. O resultado foi: "O
peixe cru fatiado sapatos deseja. Google coisa cebola verde!".
Brin argumentava que o
Google tinha a obrigação de fazer melhor. Seis anos depois, o
serviço gratuito Google Translate (translate.google.com)
trabalha com 52 idiomas, mais
que qualquer rival, e as pessoas
o empregam centenas de milhões de vezes por semana.
"O que você vê no Google
Translate é o que há de mais
avançado" na tradução computadorizada, ao menos nas formas não limitadas a um tema
específico, disse Alon Lavie,
professor no Instituto de Tecnologia da Linguagem da Universidade Carnegie Mellon.
Os esforços do Google para
se expandir a outras áreas que
não a de buscas na web nem
sempre encontram sucesso. O
projeto de digitalização de livros enfrenta um impasse jurídico, e a introdução do Buzz,
seu serviço de redes sociais,
despertou temores quanto à
privacidade dos usuários. O padrão sugere que a empresa pode ocasionalmente tropeçar
quando tenta desafiar as tradições do mundo dos negócios e
as convenções culturais.
Mas a rápida ascensão do
Google ao escalão mais alto do
negócio da tradução é um lembrete daquilo que pode acontecer quando emprega a força
bruta de seu poderio de computação para resolver problemas complexos.
A rede de centrais de processamento de dados que a empresa criou para suas buscas
talvez se tenha tornado, quando operando de forma integrada, o maior computador do
mundo. E o Google emprega
essa máquina para redefinir os
limites da tecnologia de tradução. No mês passado, por
exemplo, disse que está trabalhando para combinar a ferramenta de tradução a um recurso de análise de imagem, para
permitir que uma pessoa tire,
por exemplo, uma foto de um
cardápio de restaurante escrito
em alemão e consiga tradução
instantânea para o inglês.
"A tradução mecânica é uma
das melhores demonstrações
da visão estratégica do Google",
disse Tim O'Reilly, da O'Reilly
Media, editora especializada
em tecnologia. "Ele compreende um fato que ninguém mais
compreende com relação aos
dados e está disposto a fazer os
investimentos necessários a
resolver problemas complexos
como esse antes do mercado."
Criar uma máquina de tradução vem sendo há muito um
dos mais difíceis desafios no
campo da inteligência artificial.
Por décadas, os cientistas tentaram desenvolver uma abordagem baseada em regras, ou
seja, ensinar a um computador
as regras linguísticas de dois
idiomas e fornecer a ele os dicionários necessários.
Mas, por volta da metade dos
anos 90, pesquisadores começaram a preferir a chamada
abordagem estatística. Constataram que, caso alimentassem
um computador com milhares
ou milhões de trechos e traduções humanas, a máquina poderia "aprender" a fazer palpites acurados sobre como esses
textos deveriam ser traduzidos.
E ao que parece essa técnica,
que requer imenso volume de
dados e muita potência de
computação, é perfeitamente
adequada ao Google.
"Nossa infraestrutura está
muito bem adaptada a isso",
disse Vic Gundotra, vice-presidente do Google. "Podemos
adotar abordagens que outras
companhias nem sonhariam."
Os sistemas automatizados
de tradução estão longe de perfeitos e nem mesmo o do Google eliminará a necessidade de
tradutores humanos, pelo menos em prazo previsível. Os especialistas afirmam que é extremamente difícil para um
computador dividir uma sentença em partes, traduzi-la e
depois remontá-la. Mas o serviço do Google é bom o suficiente para transmitir a essência de um artigo jornalístico.
Franz Och, cientista que comanda os esforços de tradução
mecânica do Google, reconheceu que o serviço ainda precisa
melhorar, mas afirmou que os
avanços vêm sendo rápidos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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