São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997.

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UMA JANELA PARA O MUNDO
Exemplo da Holanda

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.
Como a discussão das políticas domésticas anda um tanto redundante, é oportuno refletir sobre outros exemplos para se conhecerem alternativas de respostas nacionais à globalização. Vamos tratar o exemplo vindo da Holanda, pouco conhecido entre nós, mas que traz um contraste com o que por aqui se pratica.
A maioria dos países europeus vêm enfrentando altas taxas de desemprego. A taxa de desemprego da União Européia saltou da média de 5% nos anos 70 para 11% entre 1993-96.
Na raiz desse desemprego estão o processo de transformação tecnológica, que absorve menos mão-de-obra, a perda de importância relativa da indústria e a rigidez nos mercados de trabalho. O sindicalismo forte, encargos sociais elevados e regulamentações pesadas são elementos que dificultam a criação de empregos.
Contudo, a rede de apoio social continua tendo sustentação política da população, que não se sente atraída pelo exemplo inglês de confronto, diluição dos sindicatos e aumento da disparidade de rendas produzido pelas políticas de Thatcher na Inglaterra. Não há, fique registrado, um desmonte em larga escala da rede de segurança social existente.
Em contraste com seus vizinhos, a Holanda diminuiu sua taxa de desemprego de 12% em 1983 para 6,2% no ano passado. Embora também enfrente uma competição internacional mais forte, sua elite política produziu respostas mais inteligentes.
Em primeiro lugar, desde os anos 80 está em curso um esforço de redução das despesas públicas, visando eliminar os desperdícios. O dispêndio público total caiu de 60% para 50% do PIB. Com a economia de recursos, foi cortada pela metade a contribuição social sobre a folha de salários, incentivando a criação de empregos.
Em segundo lugar, diversas adaptações foram feitas no mercado de trabalho, visando torná-lo mais flexível (por exemplo, facilitando o trabalho em meio período e o temporário), mas garantindo-se certos níveis de empregos e não se cogitando de impor uma redução brutal nos rendimentos assalariados.
Por meio de negociações abertas busca-se o consenso, com a discussão ampla dos desafios colocados a esse país aberto e integrado no comércio mundial. Lucidez e liderança política, que se caracterizam por não ser ideológica, mas racional, vêm tornando possível esse desempenho favorável.
Ou seja, as mudanças tecnológicas e os custos sociais associados à globalização são processos que impactam em todos os países. Mas respostas inteligentes dependem de vontade e liderança política para assinalar a direção a seguir.


Álvaro Antônio Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e administração da USP.

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