|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
UMA JANELA PARA O MUNDO
Exemplo da Holanda
ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.
Como a discussão das políticas domésticas anda um
tanto redundante, é oportuno refletir sobre outros exemplos para se conhecerem alternativas de respostas nacionais à globalização. Vamos
tratar o exemplo vindo da
Holanda, pouco conhecido
entre nós, mas que traz um
contraste com o que por aqui
se pratica.
A maioria dos países europeus vêm enfrentando altas
taxas de desemprego. A taxa
de desemprego da União Européia saltou da média de 5%
nos anos 70 para 11% entre
1993-96.
Na raiz desse desemprego
estão o processo de transformação tecnológica, que absorve menos mão-de-obra, a
perda de importância relativa da indústria e a rigidez
nos mercados de trabalho. O
sindicalismo forte, encargos
sociais elevados e regulamentações pesadas são elementos
que dificultam a criação de
empregos.
Contudo, a rede de apoio
social continua tendo sustentação política da população,
que não se sente atraída pelo
exemplo inglês de confronto,
diluição dos sindicatos e aumento da disparidade de rendas produzido pelas políticas
de Thatcher na Inglaterra.
Não há, fique registrado, um
desmonte em larga escala da
rede de segurança social existente.
Em contraste com seus vizinhos, a Holanda diminuiu
sua taxa de desemprego de
12% em 1983 para 6,2% no
ano passado. Embora também enfrente uma competição internacional mais forte,
sua elite política produziu
respostas mais inteligentes.
Em primeiro lugar, desde os
anos 80 está em curso um esforço de redução das despesas
públicas, visando eliminar os
desperdícios. O dispêndio público total caiu de 60% para
50% do PIB. Com a economia
de recursos, foi cortada pela
metade a contribuição social
sobre a folha de salários, incentivando a criação de empregos.
Em segundo lugar, diversas
adaptações foram feitas no
mercado de trabalho, visando torná-lo mais flexível (por
exemplo, facilitando o trabalho em meio período e o temporário), mas garantindo-se
certos níveis de empregos e
não se cogitando de impor
uma redução brutal nos rendimentos assalariados.
Por meio de negociações
abertas busca-se o consenso,
com a discussão ampla dos
desafios colocados a esse país
aberto e integrado no comércio mundial. Lucidez e liderança política, que se caracterizam por não ser ideológica, mas racional, vêm tornando possível esse desempenho favorável.
Ou seja, as mudanças tecnológicas e os custos sociais
associados à globalização são
processos que impactam em
todos os países. Mas respostas
inteligentes dependem de
vontade e liderança política
para assinalar a direção a seguir.
Álvaro Antônio Zini Jr., 44, é professor
titular da Faculdade de Economia e administração da USP.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|