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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Exclusão digital limita a inserção global do Brasil

GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA

Um complexo de tecnologias determinantes do futuro das economias, dos governos e das sociedades, conhecido como "tecnologias de informação e comunicação" (TICs), está subdesenvolvido no Brasil.
Segundo o "Mapa da Exclusão Digital" publicado na semana passada pela FGV-RJ, em parceria com o Comitê para a Democratização para a Informática (CDI), a Sun Microsystems e o programa USAID, há no país 150 milhões de excluídos. Apenas 12,46% dos brasileiros têm computador em casa. E o percentual dos que estão conectados à internet é de apenas 8,31%.
O problema, no entanto, pode ser muito mais grave do que o mapa deixa transparecer. A questão de fundo é técnica e metodológica, mas também política e empresarial.
Como em todo o mundo essas TICs estão mudando muito rapidamente, os indicadores disponíveis provavelmente deixam de captar boa parte do processo de exclusão. Ou seja, há novas formas de exclusão. Além disso, há desafios tecnológicos que estão muito além do número de máquinas instaladas em lares, escritórios ou telecentros.
O desafio estratégico maior, imposto pelas tendências tecnológicas globais, é incluir as pessoas e organizações em redes.
Colocar à disposição dos "sem-micro" computadores sem conexão a redes digitais interativas, por exemplo, é perda de tempo.
Mas no Brasil ainda se gastam muitos recursos (públicos e privados), tempo e saliva nesse tipo de inclusão primária e potencialmente inútil. A inclusão digital não será determinada pela máquina, embora os novos modos de organizar empresas, governos e países exijam de fato a produção de novas máquinas de informar e comunicar.
Indicadores como a disponibilidade de máquinas em residências devem ser encarados com enorme cautela. Parece apenas mais um dado "inocente", mas valorizar esse indicador significa contrabandear um modelo de sociedade da informação talvez relevante nos EUA, mas inviável no Brasil. Fotografar a inclusão digital exige uma câmera com lentes focadas num horizonte pertinente.
Há outras tendências internacionais que exigem uma ampliação do foco quando se fala de inclusão digital. A computação distribuída e onipresente (conhecida como "ubiquitous computing") e principalmente a visão da convergência digital que faz da televisão um meio de acesso mais significativo que o "micro" são dois exemplos óbvios e que colocam em cena setores industriais nas áreas de telecomunicações e eletrônica que vão muito além do fabricante de computadores e de softwares para o seu uso.
Aliás, a Sun, empresa que patrocina o mapa da FGV, do CDI e da USAID, sempre adotou como lema a idéia de que "a rede é o computador".
Formar redes de informação e comunicação é um desafio estratégico que exige mudanças organizacionais e culturais que vão muito além de saber digitar num teclado ou dominar um software de navegação na internet ou datilografia digital.
É também óbvio que o destino de setores inteiros pode estar em questão, pois nada garante que as redes digitais interativas da TV futura coincidam com os modelos de negócios hoje vigentes na rede de canais abertos da TV comercial.
Enquanto não houver políticas fortes de formação de redes e indicadores socioeconômicos correspondentes, a presença de mais ou menos PCs no país pode até causar algum alarme, sem que o caminho para superar o atraso seja mesmo trilhado.


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