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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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ARTIGO

A economia dos EUA talvez esteja melhor do que você pensa

FLOYD NORRIS
DO "THE NEW YORK TIMES"

Talvez a economia em 2003 venha a ser um pouco como a guerra no Iraque: um início lento que fez os críticos reclamarem, seguido de um avanço surpreendentemente forte até o final.
A reação do mercado de ações a todas as boas notícias do Iraque tem sido um pouco menos que notável. Esta semana os profissionais que negociam futuros dos índices de ações overnight em geral esperavam recuperações quando a Bolsa abrisse, mas ficaram desapontados com a hesitação dos investidores de verdade em valorizar os preços das ações reais.
Há muito pessimismo em relação à economia. A Mesa-Redonda Empresarial, um grupo de executivos de grandes companhias, informa que a maioria de seus membros diz que suas vendas aumentarão nos próximos seis meses. Mas esses executivos ainda estão pessimistas sobre a economia e muitos planejam cortes de postos de trabalho.
O mais surpreendente nesse relatório foi que quase 80% dos executivos dizem que é o consumidor que os assusta. Solicitados a indicar "o maior desafio econômico que enfrenta a América corporativa", poucos escolheram os danos causados pelo dólar forte às exportações, ou a fraca demanda externa, ou os custos crescentes do seguro-saúde.
Mas 27% citaram "a fraca demanda do consumidor" e 52% escolheram "a incerteza do consumidor" causada pela guerra e o terrorismo.
Na verdade a economia não está tão ruim. Os preços no varejo estão crescendo em um ritmo morno, mas os altos preços da gasolina têm uma boa parte da culpa disso. "O dinheiro que foi para os postos de combustível não foi para as lojas de departamentos", disse Robert Barbera, principal economista do ITG/Hoenig. Com os preços do petróleo caindo, as lojas poderão recuperá-lo.
Depois há as estatísticas de seguro-desemprego. O número ajustado sazonalmente mostra que o número de beneficiários aumentou 5% desde o fim de janeiro. Mas os números reais - antes do ajuste sazonal - mostram uma queda de 7%.
Os ajustes sazonais supõem que, quando o clima melhorar, um número maior de pessoas encontrará empregos. Isso já aconteceu, mas não na medida esperada. Pode-se acusar o clima ou o pessimismo provocado pela guerra. Ou pode-se ver evidências de uma iminente cobrança dupla.

Cobranças
A probabilidade é que não seja uma cobrança dupla. A queda dos preços do petróleo ajudará a economia depois da guerra.
O crescimento, porém, será desacelerado durante algum tempo pela necessidade de as empresas trabalharem com os estoques excedentes adquiridos para dar segurança caso a guerra ao terrorismo cortasse as rotas comerciais internacionais. Então veremos se os consumidores estão tão preocupados quanto as empresas pensam que eles estão.
Existe uma boa probabilidade de que, com o pessimismo tão forte nos Estados Unidos e na Europa, a próxima rodada de estatísticas econômicas seja melhor do que se espera. Os ajustes sazonais poderão exagerar a recuperação dos meses de fevereiro e março, prejudicados pelo clima, fazendo a recuperação parecer mais forte do que é, mas a valorização que beneficiou as ações no início da guerra poderia ajudar a economia agora.

Crescimento
A economia não está pronta para um boom, e a grande surpresa dos últimos três anos continua sendo a lentidão da economia em reagir aos estímulos do Federal Reserve (banco central dos EUA) depois do estouro da bolha do mercado de ações. A era do capital virtualmente grátis para as empresas preferidas, principalmente de tecnologia e telecomunicações, produziu mais capacidade excedente do que seria compreensível, mesmo em 2001.
A economia terá de prosseguir sem muita contribuição desses setores, mas há motivos para que se espere um aumento nos gastos de outras empresas depois que os diretores superarem o medo de que os consumidores vão parar de gastar.
O alívio de guerra na Bolsa atingiu o pico três semanas atrás, e os preços se recuperaram desde então. Mas é interessante que os piores desempenhos tenham sido os das velhas empresas borbulhantes de tecnologia e telecomunicações. Companhias de outros setores se saíram melhor. Aí o mercado pode estar fazendo uma boa previsão econômica.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves


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