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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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TUDO PELO CRÉDITO

Levantamento do BC vê problemas financeiros, administrativos e até fraudes em 20% das entidades

Modelo do PT, cooperativa expõe fragilidade

DA REDAÇÃO

Uma das principais esperanças do governo para permitir o acesso de pessoas de menor poder aquisitivo ao financiamento, as cooperativas de crédito no Brasil exibem problemas financeiros, administrativos e fraudes.
Levantamento do BC (Banco Central) revela que 20% das 1.451 cooperativas de crédito do país estão com suas contas irregulares.
O BC identificou ainda que, mesmo entre as cooperativas que cumprem as normas mínimas de funcionamento -emprestar no máximo 7,7 vezes o valor do patrimônio e comprometer no máximo 50% do patrimônio em ativos imobilizados-, há risco de prejuízo para os sócios. "O preparo dos dirigentes dessas instituições não é bom. A maioria deles não tem conhecimento de administração", disse à Folha Oswaldo Watanabe, chefe do Departamento de Supervisão Direta do BC.
Segundo o levantamento, 184 das cooperativas emprestaram mais dinheiro aos sócios do que podiam, 158 investiram em bens e imóveis mais do que estavam autorizadas e 63 estavam com patrimônio líquido negativo. Algumas entidades cometeram mais de uma de irregularidades.
Em operação no país desde 1902, cooperativas de crédito são sociedades sem fins lucrativos que financiam associados a taxas melhores que as de mercado. Juntas, elas somavam patrimônio de R$ 2,6 bilhões no final de 2002.
Na próxima semana, o governo deve aprovar nova regulamentação para essas entidades com o objetivo de expandir o crédito à população de baixa renda.
Será autorizada a formação de cooperativas abertas, de vínculo associativo amplo. Ou seja: poderão atuar como bancos, captando recursos de quaisquer pessoas.
Hoje, essas instituições só podem captar e emprestar para categorias profissionais, funcionários de uma mesma empresa e setores da economia.
"Isso tem limitado o crescimento do sistema, pois, nas pequenas comunidades, elas acabam atendendo pouca gente", diz Marco Aurélio Almada, superintendente de uma confederação que reúne 755 cooperativas e 15 centrais.
Com as mudanças propostas pelo governo, o BC quer apertar a fiscalização sobre as cooperativas para aperfeiçoar seus critérios de empréstimos e melhorar o controle na captação de recursos.
Manoel Messias, presidente da Cecresp (Central das Cooperativas de Crédito do Estado de São Paulo), admite a precariedade na condução dessas cooperativas.
O problema, segundo ele, é que os administradores são médicos, engenheiros, metalúrgicos e advogados, "muitas vezes amadores em gestão". No ano passado, 23 instituições foram liquidadas, quase o dobro de 2001, quando 12 foram extintas.


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