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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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TUDO PELO CRÉDITO

Para presidente da Febraban, garantia para o financiamento deve ser de quem faz o empréstimo

Custo dificulta financiamento para pobres

DA REPORTAGEM LOCAL

A expansão do crédito a produtores e consumidores pobres pretendida pelo governo, como forma de reativar a economia, é aplaudida por dirigentes de cooperativas, analistas e banqueiros. Mas ninguém quer carregar o risco do negócio.
O presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações dos Bancos), Gabriel José Ferreira, diz que o setor ainda tem de aprender a trabalhar o chamado microcrédito.
"Esse é um segmento com grande potencial de crescimento, se os bancos souberem operacionalizar as carteiras", afirma Ferreira.
Um dos problemas apontados é que a concessão de crédito a pequenos produtores, donos de negócios de subsistência, não pode contar com garantias dadas pelos tomadores dos recursos, diz Ferreira. Isso desestimula os bancos.
Por isso, Ferreira defende que na expansão do crédito à pobreza o risco do financiamento seja de quem faz o empréstimo. "Se o funding [recursos" for do Tesouro ou de entidades internacionais, o risco é deles", diz.
Na sua opinião, os bancos que decidirem operar essas carteiras não devem usar recursos captados de terceiros. "Eventualmente serão usados recursos do próprio banco, do BNDES ou do Banco Mundial".

Custos
O receio dos banqueiros não é a inadimplência, que é baixa entre os pequenos tomadores de crédito. O problema é que o custo de captação dos bancos no mercado é alto para atender ao segmento.
Exemplos da baixa inadimplência do setor são o Bancoob e o Bansicredi, os únicos bancos comerciais especializados no atendimento às cooperativas de crédito. Segundo Joel Santana, diretor de risco da consultoria Lopes Filho, o índice de inadimplência do Bancoob é de 2% da carteira de crédito, e do Bansicredi é zero.
A Lopes Filho faz o "rating" (análise de risco) desses bancos, ambos de pequeno porte. O Bancoob tem R$ 1,169 bilhão em ativos e o Bansicredi R$ 1,674 bilhão. "Os dois são bancos de baixo risco de crédito", diz Santana.
Apesar de se tratar de instituições pequenas, elas são analisadas pela Lopes Filho com a mesma metodologia usada na avaliação de risco dos grandes bancos, segundo ele.

Atuação incipiente
Ferreira, da Febraban, diz que os bancos ainda engatinham na concessão do microcrédito. Alguns bancos com Bradesco, ABN Amro e Unibanco já começam a atuar no setor.
"Mas os bancos precisam aprender a trabalhar esse segmento. Ele tem particularidades, trata-se de uma população não bancarizada, sem acesso à informática e a agências bancárias, que tem de ser procurada para saber que há linhas de crédito para a produção destinadas a eles", diz.

Concorrência
Por conta das reticências históricas dos bancos em atuar com pequenos tomadores de crédito - e das altas taxas de juros cobradas- as cooperativas vêm sendo apontadas pelo governo como uma forma de democratizar o acesso a linhas de financiamento.
O presidente da Febraban diz que os bancos não temem a concorrência das cooperativas. "Elas podem ter um papel complementar aos bancos muito importante e podem contribuir para reduzir os juros", afirma.
Ferreira, porém, alerta que as cooperativas abertas que o governo está para criar devem se sujeitar às mesmas regras de supervisão, recolhimento compulsório e gerenciamento de riscos das demais instituições financeiras.
(SB)


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