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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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AGRONEGÓCIO

Segundo o secretário da Agricultura, 40% da produção ainda não foi colhida; qualidade pode ser afetada

Chuvas ameaçam safra de soja em MT

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A safra de soja em Mato Grosso está ameaçada. O Estado, que é o maior produtor nacional do grão, enfrenta um inesperado período com excesso de chuvas há cerca de 30 dias, o que tem atrasado a colheita.
Segundo o secretário da Agricultura, Homero Pereira, 40% da soja produzida nesta safra ainda não foi colhida. "Só no final de abril poderemos saber o percentual de quebra da safra. Mas os produtores estão preocupados, pois ainda falta colher cerca de 5 milhões de toneladas", diz.
Para o consultor agrícola Carlos Gogo, porém, ainda é prematuro calcular os prejuízos econômicos de uma eventual quebra de safra. "O mercado ainda não trabalha com essa possibilidade", afirma.
Embora a perspectiva de quebra total deste percentual da safra seja considerada remota, o revés meteorológico pode afetar a qualidade do produto.
Em geral, a soja que está pronta para colher resiste a no máximo quatro dias sob chuva. Outro problema é que o padrão do mercado exige um grão com teor de umidade de 13%. A chuva, porém, pode fazer esse teor chegar a 18%. "O excesso de água no grão pode levar ao acúmulo de fungos na armazenagem", afirma Elói Elias, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Agropecuária) Soja. Outro problema é que, por estar fora do padrão, os produtores recebem menos pela mercadoria.
O pesquisador também destaca que o problema climático compromete a produção de sementes para o próximo plantio, que começa em outubro deste ano. As sementes colhidas com excesso de umidade têm produtividade menor. "As sementes de boa qualidade sofrerão uma alta nos preços", avalia. Analistas estimam que a saca de 40 kg da semente de soja destinada ao plantio para a safra 2003/04 no município de Rondonópolis (MT) poderá custar entre R$ 75 e R$ 80. Hoje, custa cerca de R$ 70.

Comercialização lenta
Se em Mato Grosso a chuva é a principal responsável pelo atraso na comercialização, no Rio Grande do Sul o ritmo lento tem outros motivos.
Segundo a consultoria Brasoja, até o momento apenas 30% da safra do Estado foi vendida. No caso da produção gaúcha, porém, a lentidão das vendas é causada por um fator positivo: os sojicultores estão mais capitalizados. "Os produtores podem comercializar a conta-gotas. Como já têm renda suficiente, eles podem esperar para comercializar mais tarde, de preferência no segundo semestre, quando os preços são historicamente mais altos. A soja serve como uma espécie de "hedge" [garantia"", diz Antonio Sartori, diretor da Brasoja.
A valorização da moeda brasileira, que diminui a renda dos exportadores de soja, também contribuiu para a desaceleração das vendas. Dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola) revelam que na primeira quadrissemana de abril o preço da soja pago para o produtor caiu 13,20%. A perspectiva da entidade é que essa tendência de preços se intensifique caso a cotação do real se mantenha em alta.
De acordo com Iwao Myiamoto, presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), entretanto, a queda de preços internos é temporária e é compensável pela alta dos preços da commodity no mercado internacional. Mesmo assim, os sojicultores já seguram os estoques. "Entre 20% e 30% da produção é vendida antes da colheita. O restante vai ser vendido aos poucos. A estimativa é que em 40 dias o ritmo de vendas seja retomado", afirma Myiamoto.


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