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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Internet poderia ajudar na crise energética
GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Sem menosprezar os erros estratégicos e econômicos do modelo energético
brasileiro, é importante examinar as alternativas puramente
tecnológicas. O fato é que há
possibilidades de uso mais inteligente de energia. É aí que entra
em cena a internet.
Na visão convencional, a internet consome energia (a começar pelos computadores conectados à rede). A rede nos torna mais dependentes de energia.
No entanto, se a internet serve
para colocar pessoas em contato
entre si ou com máquinas, sua
eficácia talvez ainda seja maior
na conexão entre máquinas
mesmo. Podem ser máquinas
tão diferentes quanto geradores,
aparelhos de ar-condicionado
ou postes que fazem a iluminação das ruas.
O conceito de prédio inteligente tornou-se bem difundido
nos últimos anos. Ruas, sinais
de trânsito, elevadores, geladeiras e outros aparelhos poderiam
ser permanentemente conectados a uma rede de informação.
O monitoramento, aliás, já
existe (afinal, as empresas de
distribuição monitoram esse
consumo para poder emitir as
contas). Mas será que essas empresas têm interesse em reduzir
o consumo? Ou preferem provocar ajustes sempre por meio
de elevações das tarifas?
A informação relevante pode
ser coletada de modo automático, assim como podem ser automatizadas as decisões estratégicas de conexão ou desconexão à
rede elétrica. O truque é velho na
indústria de computadores, que
há vários anos, face à precariedade das baterias, passaram a
incorporar "sleep modes" (regimes de dormência) para prolongar o tempo de uso das baterias.
Cidades digitais poderiam incorporar milhões de chips conectados a redes e robôs capazes
de acionar "sleep modes" de
acordo com temperatura, tráfego ou variações na luz ambiente.
Do ponto de vista tecnológico,
nenhum desses dispositivos é
revolucionário, pois nada mais
são que variações mais ou menos sofisticadas de termostatos.
A novidade estaria na construção de sistemas gigantescos de
termostatos ainda mais interativos e regulados por diferentes
critérios. Pode parecer pouco
para um ou outro equipamento.
Para sistemas urbanos complexos e densos, a economia poderia ser significativa.
Não se trata de outra versão de
campanha publicitária sobre o
uso parcimonioso de água e luz.
Esse tipo de campanha joga sobre o indivíduo a responsabilidade por um uso mais inteligente dos recursos. Mas essa não é
uma opção para o indivíduo, na
atual infra-estrutura. Só enormes investimentos em redes de
infra-estrutura pública poderiam torná-las mais inteligentes
e capazes de operar em rede.
Há poucas semanas o "The
Wall Street Journal" publicou
uma análise citando a economia
potencial de energia em redes de
consumo inteligentes. Segundo
especialistas, numa rede de lojas
com 800 pontos-de-venda um
grau de desvio com relação à
temperatura desejada pode custar US$ 1 milhão por ano.
Ora, supermercados já operam com redes de informação
sobre estoques de mercadorias,
reduzindo custos de estocagem
e conectando a distribuição a informações de compras e vendas.
Na energia, o princípio é o
mesmo, mas o objetivo é simétrico: manter estoques altos.
O paradoxo é gritante: a rede e
os computadores não têm sido
bem usados onde têm o maior
potencial de ser eficientes (na
economia de energia).
O problema é saber quem fará
os investimentos para combinar
infra-estrutura com inteligência, se nem a expansão burra da
infra-estrutura padrão tem sido
obtida.
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