São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Internet poderia ajudar na crise energética

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Sem menosprezar os erros estratégicos e econômicos do modelo energético brasileiro, é importante examinar as alternativas puramente tecnológicas. O fato é que há possibilidades de uso mais inteligente de energia. É aí que entra em cena a internet.
Na visão convencional, a internet consome energia (a começar pelos computadores conectados à rede). A rede nos torna mais dependentes de energia.
No entanto, se a internet serve para colocar pessoas em contato entre si ou com máquinas, sua eficácia talvez ainda seja maior na conexão entre máquinas mesmo. Podem ser máquinas tão diferentes quanto geradores, aparelhos de ar-condicionado ou postes que fazem a iluminação das ruas.
O conceito de prédio inteligente tornou-se bem difundido nos últimos anos. Ruas, sinais de trânsito, elevadores, geladeiras e outros aparelhos poderiam ser permanentemente conectados a uma rede de informação.
O monitoramento, aliás, já existe (afinal, as empresas de distribuição monitoram esse consumo para poder emitir as contas). Mas será que essas empresas têm interesse em reduzir o consumo? Ou preferem provocar ajustes sempre por meio de elevações das tarifas?
A informação relevante pode ser coletada de modo automático, assim como podem ser automatizadas as decisões estratégicas de conexão ou desconexão à rede elétrica. O truque é velho na indústria de computadores, que há vários anos, face à precariedade das baterias, passaram a incorporar "sleep modes" (regimes de dormência) para prolongar o tempo de uso das baterias.
Cidades digitais poderiam incorporar milhões de chips conectados a redes e robôs capazes de acionar "sleep modes" de acordo com temperatura, tráfego ou variações na luz ambiente.
Do ponto de vista tecnológico, nenhum desses dispositivos é revolucionário, pois nada mais são que variações mais ou menos sofisticadas de termostatos.
A novidade estaria na construção de sistemas gigantescos de termostatos ainda mais interativos e regulados por diferentes critérios. Pode parecer pouco para um ou outro equipamento. Para sistemas urbanos complexos e densos, a economia poderia ser significativa.
Não se trata de outra versão de campanha publicitária sobre o uso parcimonioso de água e luz. Esse tipo de campanha joga sobre o indivíduo a responsabilidade por um uso mais inteligente dos recursos. Mas essa não é uma opção para o indivíduo, na atual infra-estrutura. Só enormes investimentos em redes de infra-estrutura pública poderiam torná-las mais inteligentes e capazes de operar em rede.
Há poucas semanas o "The Wall Street Journal" publicou uma análise citando a economia potencial de energia em redes de consumo inteligentes. Segundo especialistas, numa rede de lojas com 800 pontos-de-venda um grau de desvio com relação à temperatura desejada pode custar US$ 1 milhão por ano.
Ora, supermercados já operam com redes de informação sobre estoques de mercadorias, reduzindo custos de estocagem e conectando a distribuição a informações de compras e vendas.
Na energia, o princípio é o mesmo, mas o objetivo é simétrico: manter estoques altos.
O paradoxo é gritante: a rede e os computadores não têm sido bem usados onde têm o maior potencial de ser eficientes (na economia de energia).
O problema é saber quem fará os investimentos para combinar infra-estrutura com inteligência, se nem a expansão burra da infra-estrutura padrão tem sido obtida.


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