São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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FOLHAINVEST

De janeiro a abril, R$ 2,7 bilhões evaporaram da caderneta

Crise esvazia poupança e fundos de investimentos

ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de dinheiro e o medo do que possa acontecer no próximo governo começam a afetar a captação dos fundos de investimentos e da caderneta de poupança. As pessoas fazem mais saques do que aplicações hoje.
Segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), em abril, os fundos de investimentos perderam R$ 6,5 bilhões. Desde 97, não se via uma saída de recursos tão alta num único mês. A sangria já é superior ao valor resgatado durante todo o ano passado, que foi de R$ 5,8 bilhões.
Maio também não começou bem. Até o dia 7, a captação líquida já estava negativa em R$ 956,6 milhões. No ano, a perda é de R$ 4,6 bilhões. Só não está pior porque em janeiro a indústria de fundos recebeu um aporte de R$ 4,1 bilhões.
A caderneta de poupança também passa por um mau momento. De acordo com informações do Banco Central, em todos os meses deste ano saiu mais dinheiro do que entrou. No primeiro quadrimestre, os resgates somaram R$ 2,7 bilhões, sendo que em abril foi de R$ 1,1 bilhão.
Os volumes de resgate só não abalam os fundos e a poupança porque o patrimônio deles é grande e a rentabilidade gerada consegue cobrir os resgates. No final de abril, o patrimônio dos fundos era de R$ 360,2 bilhões e o da caderneta, de R$ 119,1 bilhões.

Bolso vazio
Afirmar com certeza o que está motivando essa saída de recursos ou para onde o dinheiro está indo é impossível, pois nenhum monitoramento é feito nesse sentido. Mas a percepção dos profissionais de mercado é que há várias razões para isso, sendo a maioria ligada ao atual momento econômico
"Ao olhar os índices de inadimplência, a queda dos salários e a redução do consumo de bens duráveis, acho que parte dos investidores está tirando dinheiro das aplicações para pagar dívidas e complementar a renda", diz Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).
Fábio Colombo, diretor da consultoria Money Maker, também diz acreditar que parte da explicação possa ser essa. "Tanto as pessoas físicas como as empresas estão com menos dinheiro", afirma. Colombo também acrescenta outra possibilidade: há empresas fazendo resgate de fundos para fazer "hedge" (proteção contra variação cambial), devido às oscilações do dólar.
Na opinião de Renato Russo, diretor-executivo da Sul América Investimentos, a inadimplência não seria um dos motivos para o resgate. Para ele, as pessoas estariam tirando dinheiro das aplicações para comprar ativos reais, como imóveis, com receio de quem será o novo presidente da República. "É uma dinâmica típica de período pré-eleitoral", diz.
As eleições ainda levam os investidores a mandar recursos para o exterior, segundo a percepção dos analistas. Entretanto, o BC não divulga estatísticas que mostrem, de modo discriminado, quem remete dinheiro.

Não só a crise
Parte da explicação também pode estar fora da crise. É certo que os fundos de pensão tiraram, no início deste ano, recursos de fundos de investimentos para pagar um acerto feito com a Receita Federal -referente a um antigo passivo de Imposto de Renda.
Russo diz que, no começo de 2002, os fundos de pensão vêm reestruturando suas aplicações. Alguns, por exemplo, estariam trocando os fundos por títulos de curto prazo, como os CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
Segundo a Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), em março houve um grande aporte em CDBs. A captação líquida foi de R$ 6,8 bilhões. No entanto, em abril, ela fechou negativa em R$ 954 milhões, o que não se via há muitos meses.



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