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FOLHAINVEST
De janeiro a abril, R$ 2,7 bilhões evaporaram da caderneta
Crise esvazia poupança e fundos de investimentos
ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A falta de dinheiro e o medo do
que possa acontecer no próximo
governo começam a afetar a captação dos fundos de investimentos e da caderneta de poupança.
As pessoas fazem mais saques do
que aplicações hoje.
Segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), em abril, os fundos
de investimentos perderam R$
6,5 bilhões. Desde 97, não se via
uma saída de recursos tão alta
num único mês. A sangria já é superior ao valor resgatado durante
todo o ano passado, que foi de R$
5,8 bilhões.
Maio também não começou
bem. Até o dia 7, a captação líquida já estava negativa em R$ 956,6
milhões. No ano, a perda é de R$
4,6 bilhões. Só não está pior porque em janeiro a indústria de fundos recebeu um aporte de R$ 4,1
bilhões.
A caderneta de poupança também passa por um mau momento. De acordo com informações
do Banco Central, em todos os
meses deste ano saiu mais dinheiro do que entrou. No primeiro
quadrimestre, os resgates somaram R$ 2,7 bilhões, sendo que em
abril foi de R$ 1,1 bilhão.
Os volumes de resgate só não
abalam os fundos e a poupança
porque o patrimônio deles é grande e a rentabilidade gerada consegue cobrir os resgates. No final de
abril, o patrimônio dos fundos era
de R$ 360,2 bilhões e o da caderneta, de R$ 119,1 bilhões.
Bolso vazio
Afirmar com certeza o que está
motivando essa saída de recursos
ou para onde o dinheiro está indo
é impossível, pois nenhum monitoramento é feito nesse sentido.
Mas a percepção dos profissionais
de mercado é que há várias razões
para isso, sendo a maioria ligada
ao atual momento econômico
"Ao olhar os índices de inadimplência, a queda dos salários e a
redução do consumo de bens duráveis, acho que parte dos investidores está tirando dinheiro das
aplicações para pagar dívidas e
complementar a renda", diz Jorge
Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).
Fábio Colombo, diretor da consultoria Money Maker, também
diz acreditar que parte da explicação possa ser essa. "Tanto as pessoas físicas como as empresas estão com menos dinheiro", afirma.
Colombo também acrescenta outra possibilidade: há empresas fazendo resgate de fundos para fazer "hedge" (proteção contra variação cambial), devido às oscilações do dólar.
Na opinião de Renato Russo, diretor-executivo da Sul América
Investimentos, a inadimplência
não seria um dos motivos para o
resgate. Para ele, as pessoas estariam tirando dinheiro das aplicações para comprar ativos reais,
como imóveis, com receio de
quem será o novo presidente da
República. "É uma dinâmica típica de período pré-eleitoral", diz.
As eleições ainda levam os investidores a mandar recursos para o exterior, segundo a percepção dos analistas. Entretanto, o
BC não divulga estatísticas que
mostrem, de modo discriminado,
quem remete dinheiro.
Não só a crise
Parte da explicação também pode estar fora da crise. É certo que
os fundos de pensão tiraram, no
início deste ano, recursos de fundos de investimentos para pagar
um acerto feito com a Receita Federal -referente a um antigo
passivo de Imposto de Renda.
Russo diz que, no começo de
2002, os fundos de pensão vêm
reestruturando suas aplicações.
Alguns, por exemplo, estariam trocando os fundos por títulos de curto prazo, como os CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
Segundo a Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), em março houve um grande aporte em CDBs. A captação líquida foi de R$ 6,8 bilhões. No entanto, em abril, ela fechou negativa em R$ 954 milhões, o que não se via há muitos meses.
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