São Paulo, Quinta-feira, 13 de Maio de 1999
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ECONOMIA MUNDIAL
Secretário do Tesouro renuncia e é substituído por Lawrence Summers; mercado já esperava a saída
Rubin deixa o governo norte-americano

MARCIO AITH
de Washington

A Casa Branca anunciou formalmente ontem o pedido de renúncia do secretário do Tesouro dos EUA, Robert Rubin.
O secretário foi um dos maiores responsáveis pelo sucesso da economia norte-americana nesta década e o principal formulador de pacotes de ajuda financeira dos EUA à América Latina desde a crise mexicana, em 1994.
Alegando motivos pessoais, Rubin deixará o cargo no próximo dia 4 de julho. Ele será substituído pelo secretário-adjunto, Lawrence Summers, que, junto com Rubin e com o presidente do Fed (o banco central norte-americano), Alan Greenspan, forma a tríade que sustenta a atual expansão econômica dos EUA. A mudança no comando do Tesouro já era esperada pelos mercados desde o ano passado. Rubin teria apenas esperado a estabilização das finanças internacionais e o final do processo do impeachment do presidente Clinton para deixar o cargo.
Talvez por esse motivo, a reação dos mercados foi relativamente calma. O índice Dow Jones caiu 213 pontos logo depois da confirmação da saída de Rubin. Essa queda -que também refletiu a demissão do primeiro-ministro russo, Ievguêni Primakov- foi compensada por um ânimo dos investidores no final do pregão. Depois o índice reagiu. "Não acho que Rubin sairia se houvesse uma crise no horizonte", disse Eugene Isenberg, diretor da Nabors Industries, uma das maiores empreiteiras do setor energético dos EUA.
Apesar de alegar motivos pessoais, não ficaram ainda muito claras as razões pelas quais Rubin teria deixado o cargo. Comenta-se que ele deseja ocupar o lugar de Greenspan (cujo segundo mandato de quatro anos acaba no ano 2000 e é renovável) no Fed ou voltar para o setor privado.
Egresso do mercado financeiro, o secretário acumulou uma fortuna pessoal de cerca de US$ 26 milhões como executivo da Goldman Sachs. Aproximou-se do setor público durante a primeira eleição presidencial de Clinton, no começo da década, do qual foi peça-chave como arrecadador de contribuições eleitorais.
Como secretário do Tesouro (cargo que ocupa formalmente desde 1995), foi o responsável pela maior estratégia do governo Clinton para dobrar a maioria republicana no Congresso. Foi Rubin quem convenceu Clinton a roubar a bandeira republicana cortando gastos públicos e buscando, obsessivamente, atingir o controle orçamentário. No ano passado,Clinton obteve o primeiro superávit orçamentário dos EUA desde 1969. Em 1998, o governo atingiu um saldo positivo de US$ 70 bilhões nos gastos públicos, o que rendeu a Clinton crédito político não somente com o eleitorado democrata, seu reduto, mas também com setores conservadores da sociedade.
Rubin também foi responsável pelo aumento do valor do dólar com relação às demais moedas dos países industrializados. Durante sua gestão no Tesouro, o dólar valorizou-se 2,8% ao ano, o que ajudou a manter a inflação baixa ao baratear os preços de produtos importados.
Rubin conciliou tais características conservadoras com uma política extremamente liberal nas finanças internacionais. Seu primeiro desafio como secretário do Tesouro, em 1995, foi conseguir aprovar o pacote de ajuda bilateral ao México depois da crise de 1994. Rubin também foi o principal fiador do programa de ajuda financeira ao Brasil, no ano passado.
Ao despedir-se do amigo Rubin, ontem, Clinton disse: "Ele fundiu o conservadorismo tradicional com novas idéias, ajudando os americanos a se beneficiar da nova economia mundial".


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