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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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ARTIGO

México precisa de um choque

DAVID HALE
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"

Um dia , os historiadores do México talvez possam argumentar que o país avançou economicamente com base em ganhos inesperados e avançou politicamente com base em desastres, como o principal historiador econômico da África do Sul descreveu o país nos anos 30. C.W. de Kieviet estava se referindo às grandes descobertas sul-africanas de ouro do final do século 19. No caso do México, os ganhos inesperados do século 20 vieram do petróleo.
Os dois choques que deram forma à história política mexicana foram a revolução de 1910-1916 e o colapso do comunismo em 1989. A revolução gerou muitos anos de conflitos civis e abriu caminho para um Estado de partido único. Sob o PRI (Partido Revolucionário Institucional), o México desenvolveu uma economia corporativista. A política econômica mudou dramaticamente nos anos 80, devido à crise da dívida e ao colapso do comunismo. Depois que assumiu a Presidência, em 1989, Carlos Salinas começou a promover o México como destino do capital internacional. Mas, no Fórum Econômico Internacional de Davos, em 1990, descobriu que os investidores estavam entusiasmados com a Europa Oriental, e não com a América Latina. Decidiu apostar em um novo e audacioso conceito: o Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte).
O Nafta ajudou a transformar a economia e o sistema político do México. As exportações subiram de 15% do PIB, em 1985, a quase 30% no ano passado. O investimento estrangeiro direto subiu de US$ 4 bilhões ao ano para US$ 14 bilhões. Por meio da liberalização econômica, o sistema político se tornou mais aberto. O PRI perdeu o controle do Congresso em 1997, pela primeira vez desde o final da década de 20, e em 2000 o país elegeu o primeiro presidente de outro partido.
O choque que pode agora romper o impasse político que emperra as reformas é a ascensão da China. A elite mexicana teme que a China em breve ultrapasse o país como segundo maior parceiro comercial dos EUA. Por isso, o México foi o último país a aprovar a adesão chinesa à Organização Mundial do Comércio, em 2001.
As preocupações são legítimas. As indústrias perderam mais de 200 mil empregos desde 2000, em parte porque empresas transferiram produção para a Ásia. Os custos trabalhistas do México são três vezes superiores aos da China. A eletricidade mexicana é o dobro da chinesa, devido a uma falta de investimentos no setor. O México depende pesadamente de exportações de produtos tradicionais, como automóveis e televisores, enquanto companhias chinesas vêm expandindo as exportações de alta tecnologia. Os investimentos estrangeiros diretos no México são de US$ 14 bilhões ao ano, enquanto na China o total atinge US$ 55 bilhões, US$ 16 bilhões no setor de tecnologia.
A questão para o México é determinar se a China vai precipitar uma mudança econômica tão dramática quanto a viagem de Salinas a Davos. Caso não haja um avanço político, não só o México perderá mercado nos EUA, mas haverá um êxodo constante de empregos.
É irônico que um país não democrático como a China desempenhe papel tão crítico na revitalização das instituições democráticas mexicanas. Trata-se de mais um exemplo da globalização em ação. A liberalização econômica prepara o cenário para uma abertura política mas só terá sucesso se a democracia produzir políticas que promovam a competitividade. O México agora precisa de cooperação multipartidária para realizar seu pleno potencial econômico e encarar o desafio da expansão mundial chinesa.


David Hale é presidente do conselho da organização China Online


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