São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Segundo Armínio, BC deve usar US$ 3 bi para fornecer linhas de crédito externo; seca de empréstimos pressiona o dólar

Empresas vão receber crédito em dólar do BC

Agência O Globo
Ivan Lins e Armínio Fraga esperam avião no Rio retidos por nevoeiro


GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse ontem, em São Paulo, em reuniões com empresários e banqueiros, que irá usar o dinheiro das reservas do Brasil para cobrir o corte dos bancos nas linhas de crédito. "O desenho da operação não foi fechado, mas será concluído em questão de dias", afirmou à Folha.
Armínio não disse quanto o BC poderia usar das reservas para cobrir o corte das linhas comerciais, mas deu uma pista. Segundo ele, há cerca de um ano as linhas comerciais eram de US$ 16 bilhões. Hoje, estão em US$ 13 bilhões.
Ou seja, o BC pode vir a usar US$ 3 bilhões das reservas internacionais (o caixa do país em moedas fortes) para compensar a seca de crédito externo. Na reunião com os banqueiros, discutiu-se como criar mecanismos para colocar em prática a idéia do BC. "O BC não pode atuar como agente de repasse de linhas comerciais", explica Armínio.
Armínio teve ontem dois encontros com empresários e banqueiros na sede do BC em São Paulo, em horários distintos. No encontro com empresários, estiveram, entre outros, Luiz Fernando Furlan (Sadia), Ricardo Steinbruch (Vicunha), José Ermírio de Moraes Neto (Votorantim) e David Feffer (Suzano).
Na reunião com o setor produtivo, Armínio ouviu muitas queixas sobre a interrupção das linhas comerciais. Segundo os empresários, na semana passada, até as linhas de adiantamento de exportação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) repassadas pelos bancos comerciais começaram a ser cortadas.
O problema, segundo a Folha apurou, é que, apesar de os recursos serem do BNDES, o risco do empréstimo é dos bancos. Como os bancos, no momento, estão com grande aversão a risco, começaram a cortar as linhas de financiamento à exportação do BNDES. Segundo a Folha apurou, o BNDES desconhece que isso esteja ocorrendo.
Armínio concordou com os empresários a respeito das grandes dificuldades em modificar as políticas operacionais do BNDES a fim de que se crie um novo suprimento de linhas de crédito comercial. Mas o presidente do BC não quis dizer quando os bancos retomarão os empréstimos para o Brasil. "Não tenho bola de cristal", disse Armínio.
Tudo depende, segundo Armínio, do comportamento dos candidatos à Presidência daqui para a frente. Ele reafirmou que o dinheiro obtido com o FMI é suficiente para dar tranquilidade para este governo e para o início do próximo, mas disse que o cenário é bastante confuso e as reações do mercado são imprevisíveis.
Fraga disse também que não via muito sentido na alta do dólar de sexta-feira passada, depois de o Brasil ter anunciado o fechamento do acordo com o FMI. Ele afirmou aos empresários que tem certeza de que o BC não cometeu nenhum erro operacional.
Dentro dessa estratégia de encontros corpo a corpo com o mercado, o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, jantaria ontem, em São Paulo, com operadores de tesourarias de bancos.


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