São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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COMÉRCIO

Nacionais só ganham força se real ficar baixo mais 90 dias; empresas deixam produto no porto à espera de queda do dólar

Dólar alto não barra insumos importados

ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES

DA REPORTAGEM LOCAL

Nem a forte perda de valor do real contribuiu para um processo de substituição relâmpago de importações. Mais do que isso: as empresas não só continuam trazendo itens de fora como criaram saídas para tentar pagar menos pelos insumos importados.
"Não mudou nadinha. Quem comprava componentes antes da escalada do dólar continua comprando. As coisas não são alteradas num estalar de dedos", diz Francisco Dias Rosa, empresário do setor e diretor da Abinee, associação da área eletrônica. "Nada se altera do dia para a noite. É um processo de mudança para 90 dias", afirma Toshihiko Komatsu, diretor da Itautec Philco.
Quando o real perde valor, fica mais barato para as companhias instaladas no Brasil comprar insumos dentro do país. As importações, cotadas em dólar, acabam com o preço mais salgado a cada soluço do dólar. Por isso, a substituição de importações pode se transformar em saída em alguns momentos. Mas não agora.

Driblando o dólar
A Siemens, por exemplo, continua importando componentes - até porque já há contratos de entrega fechados com antecedência para atender a demanda futura. "Num eventual aumento de consumo ou de pedidos, até seria justificada a elevação da compra no mercado interno, mas não é o caso", diz Ernani Brune, gerente de compras da Siemens, fabricante de equipamentos eletrônicos.
Uma das alternativas para driblar a escalada do dólar, usada pela companhia, já têm sido seguida por outras empresas, segundo informam os despachantes aduaneiros de aeroportos.
As empresas têm atrasado o desembaraço de produtos e só solicitam a liberação quando a cotação da moeda estrangeira cai. Isso tem funcionado porque, na prática, as empresas pagam a mercadoria com base no chamado "dólar fiscal". Esse dólar nada mais é do que a cotação média do dólar comercial dos últimos dois dias. Logo, se a moeda se desvaloriza, como ocorreu na última quarta-feira e quinta-feira, as empresas tendem a liberar mais produtos na sexta-feira. Ontem, o dólar fiscal ficou cotado em R$ 2,88.
"Posso segurar os insumos importados por 90 dias nos aeroportos, e tenho mais 30 dias prorrogáveis. É paga uma taxa para a estocagem nos armazéns, mas às vezes vale a pena fazer isso até o dólar cair mais", conta o gerente da Siemens.
A empresa Dinâmica, que faz assessoria em comércio exterior, informa que, para deixar produtos nos aeroportos, as companhias pagam pela armazenagem, que corresponde a uma porcentagem sobre o valor da mercadoria.
A redução na produção das empresas de telefonia e de eletrônicos também é uma das razões apontadas para a falta de pressa na hora de liberar os insumos, informam as companhias.

Consumo
A substituição de importação depende de uma reforma tributária e do aumento do consumo no mercado interno, na análise de Fábio Silveira, economista da MB Associados. "Para que o processo de substituição tenha êxito não basta apenas o dólar subir, como se observa desde 99", afirma.
As importações brasileiras são elevadas -US$ 55,6 bilhões em 2001-, diz, e só não subiram mais porque a economia brasileira está enfraquecida nos últimos meses. E porque os impostos incidentes sobre os produtos são altos e acabam tirando a competitividade das empresas nacionais na comparação com as estrangeiras.
Komatsu, do grupo Itautec Philco, diz que a ociosidade das fábricas de componentes do grupo é da ordem de 30%. "Estamos chamando as indústrias para nacionalizar os componentes (circuitos impressos e memórias), mas até agora não há nada definido."


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