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COMÉRCIO
Nacionais só ganham força se real ficar baixo mais 90 dias; empresas deixam produto no porto à espera de queda do dólar
Dólar alto não barra insumos importados
ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem a forte perda de valor do
real contribuiu para um processo
de substituição relâmpago de importações. Mais do que isso: as
empresas não só continuam trazendo itens de fora como criaram
saídas para tentar pagar menos
pelos insumos importados.
"Não mudou nadinha. Quem
comprava componentes antes da
escalada do dólar continua comprando. As coisas não são alteradas num estalar de dedos", diz
Francisco Dias Rosa, empresário
do setor e diretor da Abinee, associação da área eletrônica. "Nada
se altera do dia para a noite. É um
processo de mudança para 90
dias", afirma Toshihiko Komatsu,
diretor da Itautec Philco.
Quando o real perde valor, fica
mais barato para as companhias
instaladas no Brasil comprar insumos dentro do país. As importações, cotadas em dólar, acabam
com o preço mais salgado a cada
soluço do dólar. Por isso, a substituição de importações pode se
transformar em saída em alguns
momentos. Mas não agora.
Driblando o dólar
A Siemens, por exemplo, continua importando componentes -
até porque já há contratos de entrega fechados com antecedência
para atender a demanda futura.
"Num eventual aumento de consumo ou de pedidos, até seria justificada a elevação da compra no
mercado interno, mas não é o caso", diz Ernani Brune, gerente de
compras da Siemens, fabricante
de equipamentos eletrônicos.
Uma das alternativas para driblar a escalada do dólar, usada pela companhia, já têm sido seguida
por outras empresas, segundo informam os despachantes aduaneiros de aeroportos.
As empresas têm atrasado o desembaraço de produtos e só solicitam a liberação quando a cotação da moeda estrangeira cai. Isso
tem funcionado porque, na prática, as empresas pagam a mercadoria com base no chamado "dólar fiscal". Esse dólar nada mais é
do que a cotação média do dólar
comercial dos últimos dois dias.
Logo, se a moeda se desvaloriza,
como ocorreu na última quarta-feira e quinta-feira, as empresas
tendem a liberar mais produtos
na sexta-feira. Ontem, o dólar fiscal ficou cotado em R$ 2,88.
"Posso segurar os insumos importados por 90 dias nos aeroportos, e tenho mais 30 dias prorrogáveis. É paga uma taxa para a estocagem nos armazéns, mas às
vezes vale a pena fazer isso até o
dólar cair mais", conta o gerente
da Siemens.
A empresa Dinâmica, que faz
assessoria em comércio exterior,
informa que, para deixar produtos nos aeroportos, as companhias pagam pela armazenagem,
que corresponde a uma porcentagem sobre o valor da mercadoria.
A redução na produção das empresas de telefonia e de eletrônicos também é uma das razões
apontadas para a falta de pressa
na hora de liberar os insumos, informam as companhias.
Consumo
A substituição de importação
depende de uma reforma tributária e do aumento do consumo no
mercado interno, na análise de
Fábio Silveira, economista da MB
Associados. "Para que o processo
de substituição tenha êxito não
basta apenas o dólar subir, como
se observa desde 99", afirma.
As importações brasileiras são
elevadas -US$ 55,6 bilhões em
2001-, diz, e só não subiram
mais porque a economia brasileira está enfraquecida nos últimos
meses. E porque os impostos incidentes sobre os produtos são altos
e acabam tirando a competitividade das empresas nacionais na
comparação com as estrangeiras.
Komatsu, do grupo Itautec Philco, diz que a ociosidade das fábricas de componentes do grupo é da ordem de 30%. "Estamos chamando as indústrias para nacionalizar os componentes (circuitos impressos e memórias), mas até
agora não há nada definido."
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