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OPINIÃO ECONÔMICA
Basta vontade política para o vôo solo da Varig
GRAZIELLA BAGGIO
O processo de desregulamentação do transporte aéreo, implementado a partir do início da década de 90, pode ser
apontado como o maior responsável pela situação pré-falimentar
de nossas principais empresas aéreas. Das quatro maiores companhias de então, a Transbrasil quebrou e, se nada for feito, a Varig, a
TAM e a Vasp trilharão o mesmo
caminho.
Não é por outra razão que o Comitê Técnico de Políticas Públicas, instituído pelo governo em
abril, propõe a revisão do atual
marco regulatório. O relatório final do comitê, entre outras propostas, incluiu o controle do excesso de oferta. Caso essa medida
seja implementada, será possível
retomar o crescimento sustentado do transporte aéreo brasileiro
e gerar superávits suficientes para
fazer frente ao pesado endividamento vigente. Essa meta, no entanto, está condicionada à negociação do alongamento do perfil
da dívida que está asfixiando as
empresas aéreas brasileiras. O caso da Varig é um bom exemplo
para confirmar essa tese.
Em junho de 2002, a oferta do
Grupo Varig apresentava um
aproveitamento médio de 58% da
capacidade de suas aeronaves.
Havia, portanto, uma clara necessidade de redução da oferta de assentos. Passados 12 meses, em junho de 2003, a oferta foi reduzida
em 30%. A demanda, contudo,
devido ao quadro recessivo observado na economia brasileira,
foi reduzida em 26,6%. Assim,
apesar da melhora verificada na
ocupação de suas aeronaves
(61%), esta não foi suficiente para
que a empresa atingisse o ponto
de equilíbrio.
Apesar do desequilíbrio, a partir
de maio deste ano a Varig passou
a operar com resultado positivo
de aproximadamente US$ 4 milhões. Esse lucro operacional pode aumentar com a perspectiva de
redução da taxa de juros no segundo semestre. Com a manutenção da oferta da Varig no mercado doméstico nos níveis atuais e a
demanda recuperando o patamar
do ano passado, a empresa passaria a operar com um aproveitamento de 83% de sua capacidade,
índice mais que suficiente para
viabilizar o vôo solo da empresa.
Em maio, a receita unitária da
empresa foi de US$ 0,0677. Na hipótese de esse valor ter permanecido constante em junho e multiplicando-o pelo total de passageiros/km transportados nos mercados doméstico e internacional relativos a junho de 2002
(2.405.951), chegamos a uma receita líquida de vôo de US$ 162,9
milhões. Subtraindo-se o total de
custos/despesas referente a
maio/2003, mantido constante
para junho (US$ 148,6 milhões), o
resultado é um "superávit" de
US$ 14,3 milhões, que, projetado
para 12 meses, gera um total positivo de US$ 171,6 milhões.
Com base nesse resultado, a Varig poderia enfrentar a sua dívida,
estimada em torno de US$ 1,2 bilhão. Com uma taxa de juros de
8% ao ano (em US$) e amortização de US$ 150 milhões anuais, no
prazo de 13 anos a dívida estaria
totalmente quitada e ainda sobrariam US$ 22 milhões ao ano para
investimentos da empresa.
Os sindicatos dos aeronautas e
aeroviários encaminharam ao governo federal uma proposta alternativa à fusão que garante a sobrevivência financeira e operacional das companhias aéreas, mantém a concorrência no setor e preserva milhares de empregos. A
base dessa proposta é o alongamento do perfil da dívida pública
da Varig, com três anos de carência e 15 anos de prazo para a
amortização, e a negociação de
deságios com seus principais credores privados. Essa é uma alternativa viável para a empresa retomar a sua trajetória de crescimento e fortalecer o conjunto da aviação civil brasileira.
A proposta de fusão entre a Varig e a TAM, pelo contrário, é a
certeza de concentração do mercado doméstico, graves prejuízos
para a competição no setor aéreo
e milhares de demissões de trabalhadores. A fusão também exigirá
que o BNDES faça pesados desembolsos para socorrer empresas privadas. Portanto a Varig apresenta todas as condições necessárias para prosseguir em vôo
solo. Basta haver vontade política
do governo Lula.
Graziella Baggio, 46, comissária de vôo, é presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas.
Hoje, excepcionalmente, a coluna de Antonio Barros de Castro não
é publicada.
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