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FASE DOIS
Projetos em infra-estrutura podem ser custeados com recursos da Cide
Arrecadação do tributo da
gasolina pode financiar obra
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo espera aumentar a
arrecadação da Cide -contribuição cobrada no consumo de combustíveis- para financiar projetos na área de transportes, como a
construção de rodovias e ferrovias, disse ontem o ministro Guido Mantega (Planejamento).
A idéia do governo é aumentar a
arrecadação do tributo, que passaria dos atuais R$ 8 bilhões para
R$ 10,5 bilhões por ano, segundo
calculou Mantega, incluindo a
parte que irá para os Estados na
reforma tributária.
O governo, porém, não especificou de que maneira poderia ser
elevada essa contribuição.
Uma das maneiras, mas que o
governo não confirmou que usará, seria alterar simplesmente a
cobrança da Cide. Hoje, o consumidor paga, a cada litro de gasolina, R$ 0,54 como Cide, mas o governo já está autorizado a aumentar a contribuição até R$ 0,86 por
litro. Aumentos maiores dependem de nova autorização do Congresso.
De qualquer forma, se o governo passar a cobrar o teto da contribuição por litro, o preço para o
consumidor poderá aumentar na
mesma proporção (R$ 0,32).
O aumento de arrecadação seria
uma das formas encontradas pelo
governo para poder tirar do papel
uma lista de obras consideradas
prioritárias nos próximos anos.
A lista de obras deverá ser fechada em nova reunião com Lula
e ministros convocada para o fim
da tarde de hoje. Os presidentes
de bancos estatais também foram
convocados.
"Caberá ao presidente bater o
martelo", disse Mantega, negando que houvesse discordância na
escolha dos projetos, que passarão por mais uma rodada de negociação entre os ministros antes
da reunião no Palácio do Planalto.
Setor privado
Anteontem, o governo fez uma
reunião também com a presença
de ministros. Lula pediu obras
"factíveis" no setor de infra-estrutura. A intenção do governo é investir em obras R$ 191,4 bilhões
entre 2004 e 2007, numa parceria
com o setor privado.
A arrecadação da Cide é um dos
mecanismos de que o governo
dispõe para atrair a iniciativa privada a investir em infra-estrutura.
O dinheiro irá para fundos destinados a financiar obras sem garantia de rentabilidade imediata.
Nos projetos com expectativa
de lucro mais rápido, o governo
espera atrair a iniciativa privada
via concessões: a empresa assume
a obra e cobra pedágio do usuário. Segundo Mantega, haverá licitação para a duplicação da BR-101 (Rio Grande do Sul ao Rio
Grande do Norte), para a conclusão da rodovia Transnordestina e
para a modernização dos portos
de Sepetiba e de Santos.
Dinheiro dos fundos de pensão
também ajudará a financiar essas
obras, disse o ministro. Ele sinalizou mudanças na resolução do
BC que fixa limites para as aplicações dos fundos. "Os fundos têm
de investir em coisas seguras."
Embora o porta-voz da Presidência, André Singer, tenha
anunciado anteontem que o total
de recursos públicos e privados a
serem investidos em projetos de
infra-estrutura alcançaria R$
191,4 bilhões, Mantega disse que
os números não estão definidos.
Seriam R$ 35 bilhões do governo
por ano e cerca de R$ 30 bilhões
da iniciativa privada, estimou.
Tanto na montagem do PPA
(Plano Plurianual) como na confecção do Orçamento da União
para 2004 o governo ignorou a
principal reivindicação dos governadores na negociação da reforma tributária e decidiu contar
com a arrecadação integral da
CPMF (Contribuição Provisória
sobre Movimentação Financeira),
sem rateio com os Estados. "São
recursos escassos", argumentou
Mantega.
Questionado sobre o risco de
parte do PPA ficar no papel, assim
como os últimos Orçamentos e
planos do tipo, Mantega insistiu
em que tudo será diferente no governo Lula. "Estamos fazendo um
PPA realista, com os pés no chão;
nos últimos anos, foram feitos
planos megalomaníacos, obras de
ficção que contavam com a iniciativa privada à sua revelia."
Na reunião de hoje com Lula, os
ministros também deverão definir o volume de dinheiro destinado à transferência de renda aos
pobres. Neste ano, esses programas deverão custar R$ 4,3 bilhões. A partir de 2004, os pobres
contarão com mais dinheiro. Não
se sabe quanto.
Na reunião de hoje, segundo
Singer, também serão analisados
os programas que possam apresentar resultados ainda neste ano
em infra-estrutura. Essa reunião
será, na prática, uma continuação
do encontro de anteontem.
Colaborou Luciana Constantino,
da Sucursal de Brasília
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