São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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"RISCO-MENSALÃO"

Analistas acham que governo deve segurar juros por causa da instabilidade política; dólar sobe 1,19%

Volatilidade ameaça queda de juros agora

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da sacudida que o mercado financeiro sofreu nos últimos dias, em muito influenciado pelo agravamento da crise política, ficou difícil encontrar quem ainda afirme que a taxa básica de juros cairá na próxima semana.
Nos últimos dois dias, o dólar subiu 4,12%. Ontem, a moeda americana fechou a R$ 2,374 (alta de 1,19%). Os juros futuros também tiveram alta na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
"O início do processo de relaxamento da política monetária poderia se iniciar já neste mês. Entretanto, diante do expressivo aumento da volatilidade cambial, nossa percepção é a de que o Banco Central adotará a estratégia de esperar para ver", diz relatório elaborado pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, chefiado por Octávio de Barros.
O dólar chegou a disparar 2,56% na manhã de ontem, a R$ 2,406, com os investidores ansiosos com o teor do discurso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faria. Mas, como a fala, na avaliação do mercado, não trouxe elementos novos, exportadores aproveitaram as altas cotações para vender moeda e aliviaram um pouco a pressão sobre o câmbio.
Segundo o Bradesco, a volatilidade da taxa de câmbio anteontem foi a maior em mais de um ano. E, com a forte oscilação do câmbio, "é natural que o Banco Central venha a esperar um pouco mais para iniciar a trajetória de redução dos juros".

Decisão
Entre terça e quarta, o Copom (Comitê de Política Monetária, formado por diretores e o presidente do BC) realizará sua reunião mensal para definir como fica a taxa básica (a Selic, que está atualmente em 19,75% anuais).
Apesar de o cenário político ter sido o principal combustível para a recente desvalorização do real, a escalada do petróleo também começa a afetar o humor dos investidores de forma mais intensa.
"Apesar do quadro econômico favorável, o BC deve manter a taxa básica inalterada na próxima semana. O petróleo também voltou a ser um ponto de preocupação, que deve ser levado em conta pelo Copom", diz Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. Para Rosa, se o petróleo continuar subindo, poderá afetar negativamente os emergentes como o Brasil.
Ontem, o risco-país brasileiro subiu e voltou a ficar acima dos 400 pontos -fechou aos 405 pontos, alta de 3,32%.
A Bolsa de Valores de São Paulo acabou por encerrar o pregão em alta de 1,19%. Mas chegou a cair 3,38% na parte da manhã.
A informação de que o presidente do PT e ex-ministro da Educação Tarso Genro, disse que, na proposta orçamentária do Ministério da Fazenda, a meta de superávit primário para 2006 é de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) chegou a repercutir bem na Bolsa, segundo alguns analistas.

Sacudida
Na quinta-feira, o depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI somado ao leilão de compra de moeda realizado pelo Banco Central fez com que o dólar alterasse sua tendência de baixa diante do real.
No pregão da BM&F, as taxas nos contratos com vencimento acima de seis meses foram as que mais refletiram a piora do cenário. Isso pode indicar que os investidores estão mais cautelosos com o futuro do Copom a partir do próximo ano. Ou seja, as taxas podem cair um pouco daqui para 2006, mas em menor intensidade que a esperada antes.
"É preciso ainda algum cuidado com a crise política. Ninguém sabe o dia de amanhã e, a essa altura, não seria interessante partirmos para uma queda de juros neste mês e corrermos o risco de sermos obrigados a elevá-los novamente daqui a um ou dois meses", afirma José Arthur Assunção, vice-presidente da Fenacrefi (Federação Nacional das Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento).
No contrato DI (que indica a projeção futura dos juros) com resgate em janeiro de 2007, o mais negociado na BM&F, a taxa saltou de 17,58% na quarta-feira para 17,98% ontem.
De acordo com a avaliação do Sindicato das Financeiras do Estado do Rio de Janeiro, "o agravamento da crise política cai como uma ducha de água fria nas expectativas mais otimistas e praticamente obriga o Copom a seguir sua rota de extremo conservadorismo na condução da política monetária".
Já para os lucros dos bancos, a manutenção da Selic em patamares maiores por mais tempo pode ser uma boa notícia.
Os resultados recordes alcançados pelos bancos no primeiro semestre deram impulso às ações do setor. Na semana, o papel Unibanco Unit liderou as altas na Bolsa e subiu 13,02%, seguido por Bradesco PN, com ganho de 10,40%.


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