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"RISCO-MENSALÃO"
Analistas acham que governo deve segurar juros por causa da instabilidade política; dólar sobe 1,19%
Volatilidade ameaça queda de juros agora
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois da sacudida que o mercado financeiro sofreu nos últimos dias, em muito influenciado
pelo agravamento da crise política, ficou difícil encontrar quem
ainda afirme que a taxa básica de
juros cairá na próxima semana.
Nos últimos dois dias, o dólar
subiu 4,12%. Ontem, a moeda
americana fechou a R$ 2,374 (alta
de 1,19%). Os juros futuros também tiveram alta na BM&F (Bolsa
de Mercadorias & Futuros).
"O início do processo de relaxamento da política monetária poderia se iniciar já neste mês. Entretanto, diante do expressivo aumento da volatilidade cambial,
nossa percepção é a de que o Banco Central adotará a estratégia de
esperar para ver", diz relatório
elaborado pelo Departamento de
Pesquisas e Estudos Econômicos
do Bradesco, chefiado por Octávio de Barros.
O dólar chegou a disparar
2,56% na manhã de ontem, a R$
2,406, com os investidores ansiosos com o teor do discurso que o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva faria. Mas, como a fala, na avaliação do mercado, não trouxe
elementos novos, exportadores
aproveitaram as altas cotações para vender moeda e aliviaram um
pouco a pressão sobre o câmbio.
Segundo o Bradesco, a volatilidade da taxa de câmbio anteontem foi a maior em mais de um
ano. E, com a forte oscilação do
câmbio, "é natural que o Banco
Central venha a esperar um pouco mais para iniciar a trajetória de
redução dos juros".
Decisão
Entre terça e quarta, o Copom
(Comitê de Política Monetária,
formado por diretores e o presidente do BC) realizará sua reunião mensal para definir como fica a taxa básica (a Selic, que está
atualmente em 19,75% anuais).
Apesar de o cenário político ter
sido o principal combustível para
a recente desvalorização do real, a
escalada do petróleo também começa a afetar o humor dos investidores de forma mais intensa.
"Apesar do quadro econômico
favorável, o BC deve manter a taxa básica inalterada na próxima
semana. O petróleo também voltou a ser um ponto de preocupação, que deve ser levado em conta
pelo Copom", diz Newton Rosa,
economista-chefe da Sul América
Investimentos. Para Rosa, se o petróleo continuar subindo, poderá
afetar negativamente os emergentes como o Brasil.
Ontem, o risco-país brasileiro
subiu e voltou a ficar acima dos
400 pontos -fechou aos 405
pontos, alta de 3,32%.
A Bolsa de Valores de São Paulo
acabou por encerrar o pregão em
alta de 1,19%. Mas chegou a cair
3,38% na parte da manhã.
A informação de que o presidente do PT e ex-ministro da
Educação Tarso Genro, disse que,
na proposta orçamentária do Ministério da Fazenda, a meta de superávit primário para 2006 é de
5% do PIB (Produto Interno Bruto) chegou a repercutir bem na
Bolsa, segundo alguns analistas.
Sacudida
Na quinta-feira, o depoimento
do publicitário Duda Mendonça à
CPI somado ao leilão de compra
de moeda realizado pelo Banco
Central fez com que o dólar alterasse sua tendência de baixa diante do real.
No pregão da BM&F, as taxas
nos contratos com vencimento
acima de seis meses foram as que
mais refletiram a piora do cenário. Isso pode indicar que os investidores estão mais cautelosos
com o futuro do Copom a partir
do próximo ano. Ou seja, as taxas
podem cair um pouco daqui para
2006, mas em menor intensidade
que a esperada antes.
"É preciso ainda algum cuidado
com a crise política. Ninguém sabe o dia de amanhã e, a essa altura, não seria interessante partirmos para uma queda de juros
neste mês e corrermos o risco de
sermos obrigados a elevá-los novamente daqui a um ou dois meses", afirma José Arthur Assunção, vice-presidente da Fenacrefi
(Federação Nacional das Empresas de Crédito, Financiamento e
Investimento).
No contrato DI (que indica a
projeção futura dos juros) com
resgate em janeiro de 2007, o mais
negociado na BM&F, a taxa saltou de 17,58% na quarta-feira para 17,98% ontem.
De acordo com a avaliação do
Sindicato das Financeiras do Estado do Rio de Janeiro, "o agravamento da crise política cai como
uma ducha de água fria nas expectativas mais otimistas e praticamente obriga o Copom a seguir
sua rota de extremo conservadorismo na condução da política
monetária".
Já para os lucros dos bancos, a
manutenção da Selic em patamares maiores por mais tempo pode
ser uma boa notícia.
Os resultados recordes alcançados pelos bancos no primeiro semestre deram impulso às ações
do setor. Na semana, o papel Unibanco Unit liderou as altas na Bolsa e subiu 13,02%, seguido por
Bradesco PN, com ganho de
10,40%.
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