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OPINIÃO ECONÔMICA
A política econômica do próximo governo
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O brasil assiste hoje a um debate intenso sobre os rumos da economia, a partir do próximo ano. Os candidatos à Presidência da República procuram
expor os pontos principais de suas
propostas, com o objetivo de convencer os eleitores cidadãos a escolhê-los como a melhor alternativa para o país. Não podemos cobrar das propostas apresentadas
no horário eleitoral gratuito a
consistência técnica que um programa econômico deve ter, para
ser devidamente avaliado. Isso
não faz parte dos objetivos de um
debate eleitoral como estamos vivendo. O que deve ser apresentado com clareza são as prioridades
de cada proposta e os principais
caminhos a serem trilhados para
atingi-las.
Como não podia deixar de
acontecer, o grande marco de referência nos debates tem sido a
política econômica do presidente
FHC. Tivemos nos últimos oito
anos uma gestão da economia
que apresentou, pela primeira vez
em nossa história recente, uma
consistência teórica e uma disciplina na sua implantação dignas
de aplausos. Não ocorreu, como
foi comum em outros governos,
uma definição improvisada dos
principais objetivos e uma administração errática dos instrumentos de gestão econômica.
Temos, hoje, um projeto estratégico muito claro para o país, a
partir de uma leitura particular
do mundo nestes nossos tempos.
Estabilidade monetária, equilíbrio fiscal, economia aberta ao
comércio internacional e aos fluxos de investimentos externos e
total liberdade dos mercados são
os principais pressupostos que
criam as condições necessárias
para que a economia cresça de
forma sustentada. Esse rumo, como sempre disse o presidente, foi
buscado de forma persistente,
mesmo em tempos difíceis.
Mesmo com essa disciplina o
crescimento médio dos últimos
anos foi medíocre, e o cidadão vive hoje um período de dificuldades crescentes. Os benefícios de
uma estabilidade monetária que
a sociedade não vivia havia quase 30 anos perdeu seu brilho, principalmente nos últimos anos, em
razão do aumento do desemprego
e da queda do poder aquisitivo
dos salários. A melhora nas condições de vida do cidadão, medida de forma inconteste pelo Pnad,
divulgado ontem pelo IBGE, também perdeu seu brilho em razão
de uma queda de mais de 10% na
renda real média dos brasileiros a
partir de 1996. O brasileiro está
olhando nestas eleições para a
frente, e não para trás, em um
comportamento que pode ser injusto para FHC, mas que deve ser
entendido como normal.
Vivendo intensamente essa
contradição, os eleitores estão
avaliando com muito interesse as
propostas dos candidatos. As últimas pesquisas mostram que
aqueles que basearam suas campanhas em propostas, e não em
ataques pessoais ou sugestões vãs
e desarticuladas, vão disputar,
em um segundo turno, a preferência do eleitorado. Um sinal claro
de uma maturidade política revigorante!
Gostaria, na minha coluna de
hoje, de refletir sobre alguns pontos importantes para a avaliação
das causas desse aparente fracasso da política econômica dos últimos anos. Tenho sempre insistido, e meus leitores da Folha são
testemunhas disso, que o erro
principal do chamado malanismo foi uma leitura errada e pueril
do funcionamento do capitalismo, no mundo de hoje. Entendeu
haver um sistema de comércio internacional totalmente livre e
presidido por princípios de racionalidade econômica, quando a
prática mostra que o protecionismo e a presença do Estado no
campo da economia são ainda
muito grandes. Acreditou em um
mercado de capitais racional e estável, quando a realidade é muito
diferente e o vaivém de fluxos financeiros para países em desenvolvimento, em razão de ondas
de pessimismo e otimismo dos
mercados, é quase uma constante.
Por outro lado, centrou suas
preocupações nas questões macroeconômicas principais e se esqueceu quase totalmente da importância que a dinâmica microeconômica tem no equilíbrio
do comércio internacional e na
capacidade das empresas brasileiras de produzir com eficiência.
Não deu também a relevância devida à dinâmica perversa que a
política de juros elevados teve sobre o estoque da dívida pública.
Finalmente, permitiu que a dinâmica financeira tomasse conta da
formação da taxa de câmbio, com
efeitos perversos sobre a atividade
econômica e o comércio exterior.
Esses erros podem ser facilmente corrigidos por um presidente
que consiga equilibrar sua ação
entre a preservação dos fundamentos com uma política que
transforme nossa realidade micro. Princípios econômicos sadios
e respeito ao lado produtivo são a
receita requerida para que reencontremos o caminho do crescimento econômico. Para tanto, será preciso seguir os princípios
maiores da teoria econômica contemporânea com uma capacidade de entender e operar nossa economia dentro do mundo imperfeito que existe à nossa volta.
Será um erro imperdoável confundir esses erros de gestão com
fracasso estrutural de um modelo
econômico que tem tudo para dar
certo. Estabilidade monetária,
equilíbrio fiscal estrutural, economia aberta e redução da participação direta do governo no campo econômico devem ser compromissos centrais do próximo governo. Menos fundamentalismo
ideológico, mais sagacidade para
jogar o jogo real do mundo integrado de hoje e capacidade administrativa para operar a máquina
do Estado na busca do plano de
vôo estabelecido são qualidades
necessárias para nossos próximos
governantes.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 59, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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