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Lula dá sinal verde a negociação de ações da Vale com Eike
Empresário mais rico do país mira parcela da mineradora que hoje pertence aos fundos de pensão e ao BNDESpar
Bilionário também fez proposta ao Bradesco, que considerou baixo o valor oferecido pelas ações da gigante da mineração
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O empresário Eike Batista
negocia com fundos de pensão
de estatais e com o BNDESPar
a compra de parte das ações
dessas instituições na Vale. Segundo a Folha apurou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
deu sinal verde para que as negociações prossigam.
Mais: nas tratativas, o empresário está disposto a firmar
um arranjo contratual pelo
qual, caso queira vender futuramente sua parte na Vale, deve dar preferência aos fundos e
aos BNDESPar. Como segunda
opção, a venda só poderia ser
feita para um grupo nacional.
Essas condições agradam ao
presidente, caso o negócio venha mesmo a se concretizar.
Lula teme que, feito um negócio dessa dimensão, o comprador possa, no futuro, vender
sua parte a um grupo internacional. Eike se dispõe a aceitar
essas condições como forma de
demonstrar que não se trata de
aventura, mas de um interesse
de entrar e ficar na Vale. Homem mais rico do Brasil, segundo a lista da revista americana "Forbes", Eike tem negócios em mineração, petróleo,
geração de energia e logística
(porto e estaleiro).
As conversas de Eike com os
fundos e o BNDESPar começaram simultaneamente à negociação do empresário com o
Bradesco, que também detém
fatia da Vale. O BNDESPar é o
braço do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) que participa como sócio de empresas.
A Vale é controlada pela Valepar, que tem 53% do capital
votante da companhia. Na Valepar, o consórcio de fundos de
pensão, cujo mais forte é a Previ (dos funcionários do Banco
do Brasil), detém 49% das
ações. A BNDESPar tem 11,5%.
O Bradesco, 21%. E o grupo japonês Mitsui, 18%. Os outros
fundos que têm participação na
Vale são Petros (Petrobras) e
Funcesp (Cesp).
Hoje, um arranjo de acionistas permite que o Bradesco indique o presidente da Vale.
A depender de quanto Eike
comprar -se vier mesmo a
comprar-, ele poderia ser uma
opção de gestor na hipótese de
um novo acordo de acionistas
assim determinar.
Apesar de ter selado a paz
com Roger Agnelli, presidente
da Vale, Lula ficou insatisfeito
com a condução do executivo
durante a fase aguda da crise financeira global.
Lula se queixou reservada e
publicamente da Vale e de Agnelli. O presidente reclamou do
corte de US$ 3 bilhões em investimentos e de demissões de
mais de mil funcionários sem
aviso ao governo.
Para ele, a Vale passou um sinal ruim, uma expectativa negativa, numa hora em que o governo se esforçava para evitar
um colapso econômico.
Eike e Bradesco
Segundo a Folha apurou, o
Bradesco considerou baixa a
recente proposta de Eike pela
parte do banco na Vale. A avaliação do Bradesco é que o momento é bom para comprar,
mas não para vender.
Ou seja, avalia que a melhora
do cenário econômico doméstico ainda está em andamento
e que as suas participações em
empresas tenderão a se valorizar nos próximos meses. Mais:
o banco está com grande liquidez. Trocando em miúdos, tem
o caixa cheio.
A venda da participação na
Vale, segundo a cúpula do Bradesco, seria justificável apenas
para realizar uma grande compra de um banco a fim de fortalecer o seu negócio principal.
Como há dificuldade para
uma operação desse tipo no
atual mercado bancário brasileiro, o Bradesco preferiu recusar o primeiro lance oficial de
Eike, como revelado por reportagem da Folha.
Alguns ministros, como Dilma Rousseff (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda), veem
com simpatia a investida de Eike para entrar na Vale. Apesar
disso, o governo não pretende
jogar seu peso político para
obrigar o Bradesco a vender
sua participação na empresa.
Nas palavras de um ministro,
seria uma briga que não valeria
a pena comprar, apesar de toda
a insatisfação de Lula com a
gestão de Agnelli durante a fase
mais crítica da crise internacional. Lula jogou pesado, chegando a insinuar nos bastidores que poderia usar a força do
governo com os fundos de pensão e o BNDES para tirar o Bradesco do comando da empresa.
Apesar da reaproximação
entre Lula e Agnelli, que se encontraram recentemente em
Brasília, ministros continuam
a dizer que a Vale errou durante a crise e perdeu pontos com
o governo.
Enquanto isso, Eike disse a
Lula e à ministra Dilma que
tem interesse em dar à Vale
uma gestão mais estratégica.
Leia-se: maior foco em desenvolver a indústria que gira em
torno do minério. Atualmente,
o foco da Vale é a exportação de
commodities.
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