São Paulo, Segunda-feira, 13 de Setembro de 1999
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COMÉRCIO EXTERIOR
CNI conclui que a indústria está mais competitiva; produtividade quase dobra na década de 90
Custo da mão-de-obra cai 39% em dólar

GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação

A indústria brasileira sofreu nos últimos anos com os juros altos e a abertura comercial, mas a que sobreviveu está terminando a década bem mais competitiva, na relação com a de outros países, no tocante ao custo do trabalho.
A conclusão é de economistas da CNI (Confederação Nacional da Indústria), com base no acompanhamento da produtividade e do custo unitário da mão-de-obra em dólar desde o início da década.
O índice de produtividade avançou de 100 para 192,4 neste ano -tomando por base, por enquanto, o período janeiro/maio.
Combinada com indicadores de salário médio e taxa de câmbio, a produtividade compõe o chamado ULC ("Unit Labor Cost"), ou índice do custo unitário do trabalho, que, medido em dólares, permite a comparação com os ULCs de outros países.
Em janeiro-maio deste ano, já com o impacto da desvalorização do real, o ULC em dólar baixou para 59,9, contra 98,7 em igual período do ano anterior, 96,1 em 1994, início do Real, e 100 em 1990.
A queda do ULC em dólar entre 1998 e 1999, portanto, chegou a 39,3%, o que significa aumento da competitividade em relação à indústria de outros países que concorrem com o Brasil no mercado mundial.

Produtividade
Ao longo da década, a competitividade da indústria brasileira foi puxada pelos ganhos de produtividade. Os demais componentes do ULC, salário e câmbio, seguraram o avanço desse indicador, só melhorando a partir de 1997.
A produtividade cresceu num ritmo sem precedentes, segundo Renato Fonseca, economista da CNI. Paradoxalmente, afirma, o país perdeu competitividade em relação a vários países desde 1991/92.
No entender de Fonseca e de outros economistas, como Regis Bonelli, do Ipea, os ganhos de produtividade foram anulados pelo crescimento do custo total da mão-de-obra.

Custo do trabalho
Entre 1990 e 1996, a produtividade avançou 61,9%, mas o salário médio em dólares cresceu 84%, e o salário real medido em moeda doméstica, 75,5%.
Fonseca faz questão de frisar que isso não significa que o trabalhador na indústria ganhou tudo isso em termos reais.
O salário médio real que entra no cálculo do índice é a folha de pagamentos dividida pelo número de trabalhadores ocupados, ou seja, o gasto total com salários, incluindo encargos trabalhistas, deflacionado pelo IPA-industrial (componente do IGP, o Índice Geral de Preços da Fundação Getúlio Vargas).
Mede o salário do ponto de vista do empregador, e não do poder de compra do operário, que deve ser deflacionado por índices de preços ao consumidor, que acompanham o varejo e os serviços, como o INPC ou o IPC da Fipe.
A perda de competitividade da indústria brasileira, segundo Fonseca, não se relacionou apenas à valorização do real diante do dólar entre 1994 e 1998.
O salário também avançou bem mais do que os preços da indústria (há quem entenda que um dos ajustes a esse avanço foi feito no nível de emprego da mão-de-obra).
De 1990 a 1996, enquanto o salário deflacionado pelo IPA-industrial crescia 75,5%, o real se valorizava 4,6% diante do dólar (deflacionado pelo IPA).
Depois de 1996 o ULC da indústria brasileira passou a cair de forma contínua (ver tabela), indicando melhoria da competitividade que vinha piorando desde 1993. O salário médio em reais parou de subir e houve continuidade dos ganhos de produtividade.
Em 1997, o ULC medido em dólar caiu 7,9%, mas a valorização do dólar em relação às moedas européias e asiáticas acabou neutralizando, em parte, esse avanço da competitividade.
No ano passado o ULC voltou a recuar, devido à desvalorização do real -embora lenta e gradual- e ao aumento bem menor do salário médio em reais, se comparado com o que ocorrera nos anos anteriores.

Efeito da máxi
Com a desvalorização do real em janeiro de 1999, o ULC em dólar teve forte queda, próxima a 40%, mas Fonseca destaca que a produtividade da mão-de-obra continuou subindo (janeiro-maio contra igual período).
Além disso, o salário médio em reais deverá se reduzir pela primeira vez na década de 90, lembra recente documento da CNI. Em janeiro-maio de 1999, a queda foi de 8,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
O comportamento positivo do ULC contrasta com o desempenho ruim das exportações brasileiras, mas Fonseca afirma que esse paradoxo pode ser explicado pela retração da economia mundial, ainda mais grave na América Latina, que absorve quase a metade das exportações de manufaturados brasileiros.
O índice de competitividade-custo efetivo da indústria brasileira deve voltar aos níveis de meados da década de 80, o que leva a supor que as exportações brasileiras têm condições de dar uma guinada no ano 2000, sobretudo se a economia mundial ajudar -com destaque para a América Latina. No ano passado, essa região ficou com 40,8% dos manufaturados exportados pelo Brasil, e só a Argentina, com 20,6%.


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