São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Economia global fortalece empresas e países

GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA

É comum a comparação entre o PIB de alguns países e o tamanho de certas empresas. As grandes do mundo são hoje maiores que a maioria das nações, em termos de posse de riqueza. Menos frequente é a radiografia dessas empresas, de um ponto de vista qualitativo.
Os resultados anunciados pela GE (General Electric) nos EUA, na semana passada, são um exemplo didático. No terceiro trimestre, a empresa faturou pouco mais de US$ 4 bilhões. Sinais dos tempos são as fontes de maior impacto positivo no balanço da empresa.
Primeiro, a venda de uma empresa de internet. A operação foi comprada por um fundo de investimento em sucata virtual. Outra fonte de boas receitas e lucros foram as operações estritamente financeiras da GE. Finalmente, a lucratividade de sua unidade de mídia, a rede de televisão NBC, foi a vedete: aí os lucros subiram 59%.
A GE notabilizou-se por operar nos setores de energia elétrica, turbinas, aviação, lâmpadas. Hoje, somente em ativos financeiros a empresa detém US$ 473 bilhões. Ou seja, apenas a parte financeira da GE bate o PIB de boa parte dos países pobres ou em desenvolvimento.

Sustentáculos
As finanças e a mídia servem como claros sustentáculos "em última instância" das perspectivas de sobrevivência e acumulação de capital da GE. De empresa que lidava com matéria e energia, a General Electric transformou-se numa rede sustentada pelas finanças e pela mídia.
A GE segue o velho ditado: nunca deixe todos os ovos na mesma cesta. Essa capacidade de adaptação aos altos e baixos do ciclo econômico (seu setor industrial sofre com a desaceleração da indústria aeronáutica mundial) é a chave da sobrevivência da empresa-país. As receitas operacionais da GE cresceram 10% ou mais ao longo dos últimos nove anos.
Para quem está no país receptor de capital da GE, é comum a ilusão de que empresas globais do setor industrial são apenas indústrias (e que por isso esse capital estaria mais solidamente ancorado no território nacional). As grandes empresas globais, mesmo as mais consagradas em setores industriais, como no caso da GE, são também potências financeiras, tecnológicas e midiáticas.

"Capital midiático"
Se é real essa dificuldade de distinção entre o que é capital "produtivo" e o que é capital "financeiro", o mesmo tipo de problema aparece quando se coloca em cena também o "capital midiático".
A GE é proprietária da NBC (que aliás lhe rende lucros maiores que o de unidades industriais do mesmo grupo). Que garantias há de que o noticiário da NBC sobre questões de interesse da área de motores ou de cartões de crédito da GE seja isento?
Para quem está no país receptor de capital da GE, onde aliás também se recebe a programação da NBC, é estratégico saber se a mídia da GE opera em defesa dos interesses de outros setores da empresa. Ocorre que é uma empresa do tamanho de um grande país.
O governo Fernando Henrique Cardoso acaba de editar, por meio de medida provisória, a legislação que viabiliza a abertura do setor de comunicação ao capital estrangeiro. Amanhã estará reunido o pleno do Conselho de Comunicação Social (CCS), que pretende agendar um debate sobre o tema com os candidatos presidenciais.
Está em jogo a difícil arte de diferenciar entre as empresas-países e os países que recebem essas empresas.



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