|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A perpetuação do erro
Pouca atenção se tem dado
à questão dos indicadores
no país. Há escassez, é certo. E
só a escassez de indicadores para permitir esse fenômeno, de
os eleitores paulistanos aprovarem as gestões de Marta Suplicy na prefeitura, de Geraldo
Alckmin no governo do Estado
e de Lula na Presidência.
À falta de indicadores (ou de
divulgação deles), fica-se em
uma leitura exclusiva das
obras físicas das respectivas
gestões. No máximo, agrega-se
a gestão fiscal, mas fica por aí.
Qual a relação custo-benefício dos gastos das administrações? Como o dinheiro é finito,
qual a maneira de avaliar as
escolhas orçamentárias, para
saber se as despesas acertadas
eram prioritárias?
Nesse campo dos indicadores, nenhum afeta e afetou
mais a vida nacional nas últimas quatro décadas do que os
índices de inflação. Por servirem de parâmetro para o custo
do dinheiro, para as definições
do mercado, erros metodológicos se perpetuaram sem que
nada fosse feito.
Nos anos de inflação brava,
por exemplo, os índices ao consumidor captavam os preços
nas vitrines das lojas -no
tempo das três ou quatro prestações "sem juros", um produto
que custasse R$ 1.000,00, com
uma inflação de 10% ao mês,
era vendido por R$ 2.147,00 ou
em quatro pagamentos de R$
537,00. Obviamente os juros estavam embutidos no "preço à
vista". Se a inflação subisse para 15% ao mês, o preço à vista
saltaria para R$ 2.218,00, meramente para acompanhar o
novo custo financeiro da inflação. Ou seja, seu impacto sobre
a inflação seria zero. Mas a
metodologia adotada considerava o diferencial de preço à
vista como sendo reajuste.
Outro problema metodológico sério é com o Índice de Preços no Atacado (IPA), da Fundação Getúlio Vargas do Rio
de Janeiro. O IPA tem peso de
60% no IGP (o Índice Geral de
Preços) e no IGP-M (o IGP do
mercado). É calculado simplesmente anotando-se o preço de
tabela fornecido pelas empresas. Em momentos de choque
de custos (como nas oscilações
cambiais), as empresas tendem
a reforçar os reajustes de tabela, para depois negociarem
com os clientes. Ora, o que vale
é o preço final fechado. Mas o
índice não capta, criando um
aumento artificial nos índices
de inflação, com impactos sobre a dívida pública, os juros
pagos e os contratos em geral
na economia.
Há um velho ditado que diz
que, a médio prazo, os índices
convergem. Se se tomar de janeiro de 2001 a setembro de
2004, enquanto o IGP-M apresentou variação de 63,6%, o
IPA aumentou 78,4%, contra
37,6% do IPC (Índice de Preços
ao Consumidor) e 50,63% do
INCC (Índice Nacional da
Construção Civil).
Nos sete semestres de janeiro
de 2001 a junho de 2004, o IPA
registrou só uma deflação, contra seis do IPC e três do INCC.
Em quatro deles, foi o índice
que mais cresceu; em dois, foi o
segundo em crescimento, e, em
apenas um, foi o terceiro.
No entanto segue intocável,
ajudando a irrigar os juros.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Opinião econômica - Paulo Rabello de Castro: Evite Vioxx Próximo Texto: Águia em transe: Dificuldade financeira atinge 25% das famílias americanas Índice
|